Ontem, enquanto Dilma Rousseff exercia as suas obrigações de chefe de
Estado em viagem oficial a Cuba, a desfaçatez patológica dos barões da
mídia se agitou e saiu da toca. Não tardou e logo começaram a pipocar
matérias “exigindo” da presidente que cobrasse direitos humanos do
governo cubano.
No mesmo dia, li mais alguns textos e ouvi mais algumas locuções
nessa mesma mídia em que juízas, jornalistas e até governantes contavam
como tinha sido “exemplar” a “operação de reintegração de posse” no
Pinheirinho. A conexão entre uma coisa e outra, então, foi inevitável.
Pinheirinho e Cuba têm tudo que (não) ver um com o outro. Cuba é a
ditadura, segundo diz a mídia brasileira, mas ninguém nunca viu milhares
de homens, mulheres (até as grávidas), crianças, idosos, deficientes e
enfermos de todo tipo serem espancados, atingidos com bombas e balas de
borracha e depois serem jogados em depósitos insalubres, naquele país.
Isso sem falar de violações de direitos humanos que AINDA não foram totalmente comprovadas.
Fiquei pensando sobre que democracia há para os flagelados do
Pinheirinho. Para aquelas pessoas, a ditadura fica mesmo é no Brasil.
Aliás, na visita que lhes fiz na última segunda-feira essa foi uma das
palavras que mais ouvi: “ditadura”.
E por que não seria? Alguma ditadura faria um trabalho “melhor”? Não é
assim que as ditaduras tratam o povo? Não é na bala (nem que seja de
borracha, se for), no gás pimenta, nas cacetadas no lombo, quando há
sorte?
Você, leitor, já ouviu falar de algo parecido a Eldorado dos Carajás,
à Cinelândia, à Cracolândia, ao Pinheirinho ou a coisa que o valha, em
Cuba? Mesmo se fosse verdade que Cuba deixa um ou outro ativista
político morrer de fome por vontade própria, quero que alguém me mostre
uma única imagem do governo cubano espancando ou matando seu povo no
atacado, como por aqui.
Onde fica a ditadura, mesmo?
Penso que aquela população do Pinheirinho daria a vida para ir morar
em um lugar como Cuba, onde teria casa, assistência médica, segurança,
educação e respeito do Estado. No entanto, esses jornais que apoiaram a
ditadura militar brasileira e suas violações de direitos humanos cobram
esses mesmos direitos de… Cuba!
Gostaria de ter dinheiro para pagar a passagem daqueles com os quais
estive anteontem para que fossem viver como gente em Cuba, já que, por
aqui, a sociedade não têm capacidade de ao menos avaliar seu sofrimento
enquanto se “horroriza” com a “ditadura” cubana.
Eduardo Guimarães
Nenhum comentário:
Postar um comentário