Blog da Cidadania - Eduardo Guimarães
Desde o fim da noite de ontem vinha recebendo ligações aflitas da vereadora de São José dos Campos Amélia Naomi e de outros contatos naquela cidade. Denunciam que as autoridades municipais voltaram à carga contra os ex-moradores do Pinheirinho e pedem repercussão.
A denúncia é a de que ontem (quarta-feira, dia 8), depois de os
flagelados passarem o dia ouvindo das “assistentes sociais” da
prefeitura boatos de que seriam alvo de mais uma liminar, desta vez
obrigando-os a deixar um dos abrigos (CAIC Dom Pedro II), foram
ameaçados com novo uso da Tropa de Choque caso resistissem.
Ontem, havia cerca de 150 pessoas abrigadas ali. Como além de centro
esportivo o CAIC D. Pedro II é também uma escola municipal e as aulas já
começaram, as famílias tinham que ser transferidas. Todavia, devido aos
traumas pelos quais já passaram, e devido às ameaças da Prefeitura,
entraram em pânico.
Eis o relato que a vereadora me enviou ontem à noite por e-mail:
“O terror teve início por volta das 21h e só terminou às 2h.
Nesse período, os abrigados eram colocados em micro-ônibus e carros da
Secretaria de Educação e levados para outros abrigos. O primeiro
micro-ônibus saiu às 21h42, com 15 pessoas e diversos sacos pretos
doados pela prefeitura para que os mesmos colocassem os seus pertences.
Até animais foram levados. O grupo foi levado para o abrigo do Ginásio
Ubiratan Maciel, conhecido como ‘latão’”.
Por telefone, a vereadora me disse que continua indefinida a situação
de centenas de famílias distribuídas por vários abrigos. Não conseguem
alugar moradia porque o valor do auxílio-aluguel pago por prefeitura e
governo do Estado (no valor de R$ 500) é insuficiente, porque não têm
fiador e porque sofrem preconceito da maioria da população, que também
se recusa a lhes alugar moradias ou até a lhes dar empregos.
A informação, aliás, coaduna-se com pesquisa do jornal “O Vale” que
foi publicada ontem (8/2). Segundo a sondagem da opinião do povo
joseense, 54,3% aprovam reintegração de posse da área, que foi ocupada
durante quase oito anos por famílias sem-teto; contrários somam 30,7%
A pesquisa foi realizada entre os dias 30 e 31 de janeiro. Foram
ouvidas 600 pessoas de todas as regiões de São José dos Campos. A
pesquisa foi estratificada por sexo, escolaridade, renda familiar,
religião e zona geográfica.
Pelos dados da estratificação, 73% dos pesquisados que possuem ensino
superior disseram que são a favor da remoção. Outros 20% desse nicho
disseram que são contra a desocupação do Pinheirinho.
Considerando ainda a escolaridade, 41,7% dos que possuem o primeiro
grau disseram que não aprovam a remoção, maior índice dos que
manifestaram ser contrários à desocupação da área.
No quesito renda familiar, 72% dos entrevistados com renda familiar
superior a 5 salários mínimos disseram que são a favor da desocupação,
enquanto 20,6% da mesma faixa de renda manifestaram contra.
Ainda segundo a renda, 35,9% dos que ganham até 3 salários disseram que são contra a desocupação e outros 46,2% aprovam.
Considerando a zona geográfica, 58% dos entrevistados residentes na
região sul, onde fica o terreno do Pinheirinho, aprovam a desocupação,
ante 25% que reprovam a remoção dos sem-teto.
Nesse nicho, a maior aprovação está entre os que moram no centro,
61,9%, e a maior reprovação entre os moradores da zona norte, 39,7%
“Se olharmos os dados da estratificação da pesquisa, verificamos que a
taxa de aprovação à desocupação do Pinheirinho é maior entre os
moradores de maior renda e escolaridade”, disse o diretor geral da Mind
Pesquisas, Alexandre Lima. Para ele, esse posicionamento da população
reflete o perfil da cidade.
“São José é uma cidade bastante urbanizada e industrial e a parcela
da população mais escolarizada e com maior renda defende o respeito à
lei, ao estado de direito, já que a desocupação foi uma decisão
judicial”, disse o executivo.
Lima destacou que entre a camada da população com menor escolaridade e renda, a visão é o inverso.
“Nesse nicho, a maioria desaprova a desocupação. Possivelmente,
muitas pessoas dessa camada são mais suscetíveis a questões
habitacionais ou vivenciam problemas de moradia”, avalia Lima.
A pesquisa não surpreende. Era evidente que tanto o prefeito de São
José dos Campos, Eduardo Cury (PSDB), quanto o governador Geraldo
Alckmin não levariam essa tragédia humanitária adiante se não soubessem
que ela lhes traria dividendos eleitorais.
É disso que se tratou a desocupação do Pinheirinho, pois: mais do que
para atender à especulação imobiliária, foi um projeto eleitoreiro
tucano para agradar a uma cidade que até o momento não ofereceu nenhuma
solidariedade aos flagelados.
A maioria da população joseense quer mais é
que mulheres, crianças, idosos e deficientes se danem.
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