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quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

TJ-SP: Curso de Formação de Estenotipistas


Centro de Treinamento e Desenvolvimento de Estenotipia (CTDE)

COMUNICADO

A Presidência do Tribunal de Justiça comunica que estão abertas as inscrições para o  24º Curso de Formação de Estenotipistas.
O curso, com 30 vagas, terá seu início em 18 de março de 2013, no CTDE – Centro de Treinamento e Desenvolvimento de Estenotipia, com duração de seis meses, de segunda a sexta-feira, das 13:00 às 18:00 horas, exclusivamente para ocupantes do cargo de Escrevente Técnico Judiciário.
As inscrições deverão ser feitas através do fax nº (11) 3326.9262, devidamente autorizadas pelo MM. Juiz de Direito da Vara Judicial, de 04 de fevereiro a 1º de  março de 2013, das 9:00  às 19:00 horas.
As dúvidas poderão ser dirimidas através do telefone nº (11) 3227.3922.

Disponibilização: Quinta-feira, 31 de Janeiro de 2013, Diário da Justiça Eletrônico - Caderno Administrativo, São Paulo, Ano VI - Edição 1346, p. 9.

Pragmatismo Político: O radical classe média é uma figura pitoresca


O Radical Classe Média se imagina como o que resta de bom no Brasil. Não raro, flerta com o fascismo

Há uma figura pitoresca que costuma habitar a classe média tradicional brasileira. Ela pode ser encontrada na universidade, nos protestos políticos, nos shoppings centers, na high society, entre os mais escolarizados, tanto nos movimentos de esquerda, como nos de direita. Na verdade, é uma radicalização da visão específica de uma classe. Vou expor algumas de suas características.
classe médai brasil caricatura
Uma caricatura do radical classe média. (Foto: Carta Potiguar)
Vale lembrar que o modo de vida apontado abaixo é um tipo idealizado do caráter do “Radical Classe Média”, podendo, portanto, uma pessoa comum reunir uma maior ou menor quantidade de tais inclinações, se associar intensamente ou dissociar do modelo.
O Radical Classe Média:
Geralmente, o radical classe média se apresenta como politizado, para, na verdade, repetir os velhos cacoetes do senso comum da política – é contra partidos;
Mais. Todo político é ladrão. Alias, para o Radical Classe Média, o problema do Brasil não é o da desigualdade, mas o da corrupção. Por isso, não perde a oportunidade de comparar a nossa suposta natural propensão para a malandragem com a sonhada condição positiva dos EUA, ou numa perspectiva intelectualizada, dos países escandinavos;
Nesse sentido, a eleição não passa de uma chantagem. Tanto faz quem vai ganhar – “é tudo igual mesmo”. O Radical Classe Média, quando não é capturado pelo moralismo e/ou suposta superioridade gerencial de um bonachão, prega o voto nulo;
O Radical Classe Média não gosta muito de se “misturar”. Quer exclusividade. No fundo, ele não suporta que ônibus coletivo passe nas praias “nobres” de sua cidade. Ou, em sua versão intelectual, defende a criação de “espaços” para os mais “humildes”;

Para o Radical Classe Média, as instituições devem aprender a se relacionar com ele, já que o dito cujo apresenta muitas especificidades;
Instituição a favor dele é democracia. Contra ele? Fascismo;
Seguranças-policiais-trabalhadores devem fazer cursos de capacitação só para aprenderem a se relacionar com ele;
Ele é anarquista para os deveres, mas não para os direitos;
Ele é contra impostos, mas quer que tudo funcione a seu favor;
Um bom Radical Classe Média critica o inchaço do Estado, mas sempre tem alguém da família, gozando de acesso privilegiado ao próprio Estado – um cargo, um contrato, etc;
O Radical Classe Média não tem diploma de graduação. Ele tem diploma de nobreza. E o “resto”? É resto, alienado. Ele se vê como o (único) “intelectual orgânico”…;
Ele é terminantemente contra o bolsa-família, a quem ele chama de bolsa-esmola, pois produz preguiçosos e premia quem nunca “quis” estudar;
Para o Radical Classe Média, quem não sabe escrever o português corretamente deveria ser impedido de votar, de expor sua opinião num blog ou jornal. Enfim, de argumentar;
Pensar é sinônimo de dominar a gramática. Do contrário, o dito cujo se encontra no nível dos animais irracionais;
Para ele, às vezes, o problema do Brasil é porque o pobre-analfabeto – ele chama de “não esclarecido” – não sabe votar. Uma cientista política advinda da USP teria um bom conceito radical de classe média para isso – ausência de “sofisticação política”;
Na versão intelectualizada, o Radical Classe Média é um crítico do jeitinho brasileiro, gosta de ler Nietzsche, Foucault, Deleuze, Guatarri. É um crítico do “micropoder”, dos “fascismos da norma”, conceitos mobilizados para negar qualquer coisa que lhe cobre alguma contrapartida social;
Há também aquelas versões do Radical Classe Média que tornam Karl Marx, ou o socialismo, numa questão de superioridade ético-moral;
O Radical Classe Média é um supercidadão. Os demais… subcidadãos;
Afinal, o Radical Classe Média estudou. Merece mais do que os simples mortais.
O Radical Classe Média se imagina como o que resta de bom no Brasil. Não raro, flerta com o fascismo.
Por Daniel Menezes, em CartaPotiguar

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

OS QUE DEVEM MORRER


 
 
 
 
 
 
 
 
 
Mauro Santayana          
 
A ciência prolonga a vida dos homens; a economia liberal recomenda que morram a tempo de salvar os orçamentos. O Ministro das Finanças do Japão, Taso Aro, deu um conselho aos idosos: tratem logo de morrer, a fim de resolver o problema da previdência social.
 
Este é um dos paradoxos da vida moderna. Estamos vivendo mais, e, é claro, com menos saúde nos anos finais da existência. Mas, nem por isso, temos que ser levados à morte. Para resolver esse e outros desajustes da vida moderna, teríamos que partir para outra forma de sociedade, e substituir a razão do “êxito” e da riqueza pela ética da solidariedade. 
 
Ocorre que nem era necessário que esse senhor Taso Aro – que, em outra ocasião, ofereceu o Japão como território seguro para os judeus ricos do mundo inteiro – expusesse essa apologia da morte. A civilização de nosso tempo, baseada no egoísmo, com a economia servidora dos lucros e dos ricos, e, sobretudo, dos banqueiros, é, em si mesma, suicida.
 
É claro que, ao convidar os velhos japoneses a que morram, Aro não se refere aos milionários e multimilionários de seu país. Esses dispensam, no dispendioso custeio de sua longevidade, os recursos da Previdência Social e dos serviços oficiais de saúde de seu país. Todos eles têm a sua velhice assegurada pelos infindáveis rendimentos de seu patrimônio.
 
Os que devem morrer são os outros, os que passaram a vida inteira trabalhando para o enriquecimento das grandes empresas japonesas e multinacionais. Na mentalidade dos poderosos e dos políticos ao seu serviço, os homens não passam de máquinas, que só devem ser mantidos enquanto produzem, de acordo com os manuais de desempenho ótimo. Aso, em outra ocasião, disse que os idosos são senis, e que devem, eles mesmos, de cuidar de sua saúde.
 
Não podemos, no entanto, ver esse desatino apenas no comportamento do ministro japonês, nem em alguns de seus colegas, que têm espantado o mundo com declarações estapafúrdias. O nível intelectual e ético dos dirigentes do mundo moderno vem decaindo velozmente nas últimas décadas. Não há mistério nisso. Os verdadeiros donos do mundo sabem escolher seus serviçais e coloca-los no comando dos estados nacionais.
 
São eles, que, mediante o Clube de Bielderbeg e outros centros internacionais desse mesmo poder, decidem como estabelecer suas feitorias em todos os continentes, promovendo a ascensão dos melhores vassalos, aos quais premiam, não só com o governo, mas, também, com as sobras de seu banquete, em que são servidos, além do caviar e do champanhe, o petróleo e os minérios, as concessões ferroviárias e nos modernos e mais rendosos negócios, como os das telecomunicações.
 
A civilização que conhecemos tem seus dias contados, se não escapar desses cem tiranos que se revezam no domínio do mundo

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Sintrajus: Sindicato é pra lutar!


Com o filosofia de que “Sindicato é pra lutar”, há dois anos surgia o Sintrajus!
Neste 29 de janeiro, vida longa ao nosso sindicato e parabéns a todos que contribuem para o desenvolvimento desta vitoriosa conquista junto aos servidores do judiciário paulista.
A seguir, algumas fotos de momentos que fazem parte da nossa história, com imagens de alguns colegas na figura dos quais agradecemos a todos companheiros de cada comarca integrante de nosso sindicato.
Parabéns Sintrajus!



Santos

São Vicente

Praia Grande

Guarujá

Bertioga


Cubatão


Caraguatatuba / Litoral Norte

Itanhaém

Registro



segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Dia Nacional de Combate ao Trabalho Escravo é celebrado hoje


A data é uma homenagem ao assassinato de auditores fiscais do trabalho no ano de 2004 quando apuravam denúncia de trabalho escravo na zona rural de Unaí (MG)

28/01/2013

da CNBB 

Hoje, dia 28 de janeiro, o Brasil celebra o Dia Nacional de Combate ao Trabalho Escravo. A data é uma homenagem ao assassinato dos auditores fiscais do trabalho Erastóstenes de Almeida Gonçalves, João Batista Soares Lage e Nelson José da Silva, e o motorista Ailton Pereira de Oliveira, no ano de 2004, quando apuravam denúncia de trabalho escravo na zona rural de Unaí (MG).
A data foi oficializada em 2009, no entanto, essa luta é mais antiga. Desde o início dos anos 1970, a Igreja, com dom Pedro Casaldáliga, e a Comissão Pastoral da Terra (CPT), organismo vinculado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), tem denunciado a utilização do trabalho escravo na abertura das novas fronteiras agrícolas do país.

A CPT foi pioneira no combate ao trabalho escravo e levou a denúncia às Organização das Nações Unidas (ONU). “A Igreja precisava tomar um posicionamento diante da realidade já muito explícita de trabalho escravo no Brasil, o Governo negava que existia esse tipo de situação”, disse o assessor da Comissão Episcopal Pastoral para o Serviço da Caridade, Justiça e da Paz, padre Ari Antônio dos Reis. Com isso, o Estado se comprometeu em criar uma estrutura de combate a esse crime em território brasileiro.

De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), o trabalho escravo apresenta características bem delimitadas. Além das condições precárias, como falta de alojamento, água potável e sanitários, por exemplo, também existe cerceamento do direito de ir e vir pela coação de homens armados. Os trabalhadores são forçados a assumir dívidas crescentes e intermináveis, com alimentação e despesas com ferramentas usadas no serviço.

Por parte do Estado, existem ações que podem auxiliar no combate ao trabalho escravo, como por exemplo, a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 438. A "PEC do Trabalho Escravo" é considerada um dos projetos mais importantes de combate à escravidão, tanto pelo forte instrumento de repressão que pode criar, mas também pelo seu simbolismo, pois revigora a importância da função social da terra, já prevista na Constituição.

A PEC 438 foi apresentada em 1999, pelo ex-senador Ademir Andrade (PSB-PA), e propõe o confisco de propriedades em que forem encontrados casos de exploração de mão-de-obra equivalente à escravidão, e/ou lavouras de plantas psicotrópicas ilegais, como a maconha. A PEC 438/2001 define ainda que as propriedades confiscadas serão destinadas ao assentamento de famílias como parte do programa de reforma agrária.

A Igreja do Brasil está atenta à realidade do tráfico humano. Prova disso, é que a Campanha da Fraternidade de 2014 terá como tema “Fraternidade e Tráfico Humano” e lema “É para a liberdade que Cristo nos libertou” (Gl 5,1). “A partir do trabalho e da reflexão dentro da CNBB, e do Conselho de Pastoral, foi aprovado para a Campanha da Fraternidade de 2014, tratar do trabalho escravo, por sua vez, ligado ao tráfico humano. Então nós vamos trabalhar na Campanha essas duas propostas: a denúncia do tráfico de pessoas e trabalho escravo, e todas as consequências que essas denúncias trazem para a Igreja”, explicou padre Ari.

De acordo com a secretária do Grupo de Trabalho (GT) de Enfrentamento ao Tráfico Humano, da CNBB, irmã Claudina Scapini, o trabalho escravo é uma entre as modalidades do tráfico humano. “O trabalho escravo, a exploração sexual, o tráfico de órgãos, e a adoção irregular, são, para nós, as grandes modalidades do tráfico de seres humanos”, afirmou.

Segundo os últimos dados da Campanha Nacional de Combate ao Trabalho Escravo, os casos de trabalho escravo em 2012, somaram 189, com a libertação de 2.723 trabalhadores, em todo o país. Ainda de acordo com as informações, o número de trabalhadores resgatados do trabalho escravo cresceu 9% em relação a 2011. Os maiores índices foram encontrados na região Norte, onde foi registrada metade do número total de trabalhadores envolvidos em situação de escravidão, e 39% dos que chegaram a ser resgatados.

No ano de 2011, o estado do Pará havia deixado de ser o campeão permanente do ranking entre os estados, pelo número de trabalhadores envolvidos em situação de escravidão. Já em 2012, voltou ao topo do ranking em todos os critérios: número de casos (50), número de trabalhadores envolvidos (1244) e número de libertados (519). O Tocantins vem logo em seguida com 22 casos, 360 envolvidos e 321 libertados (três vezes mais que em 2011).

No estado do Amazonas, onde a fiscalização passou a operar mais recentemente, foram identificados 10 casos, e resgatados quase três vezes mais trabalhadores do que no ano anterior: 171 pessoas. Alagoas, em apenas um caso, passou de 51 para 110 trabalhadores resgatados e oPiauí (com 9 casos), de 30 para 97.

Outro dado que chama a atenção é o aumento da participação da região Sul na prática desse crime. Em 2011, foram registrados na região 23 casos, envolvendo 158 trabalhadores, sendo que 154 foram resgatados pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).

De uma forma geral, os números mostram que houve resgate de trabalhadores em 20 estados, o que demonstra que essa prática criminosa persiste de norte a sul do nosso país, mesmo diante das ações de órgãos do governo e de organizações sociais que lutam pelo seu fim. A CNBB é aliada ao combate desse tipo de prática, fazendo o chamamento ao diálogo de dioceses, paróquias, comunidades e entidades ligadas à missão pastoral.

Persistem alguns desafios para o Estado, a Igreja e a sociedade civil, voltados na perspectiva de enfrentamento e superação desta situação. Destacam-se a fiscalização eficiente, a mobilização social contra esta prática, a reforma agrária, superação da miséria. A impunidade, ainda constante, precisa ser combatida.  Na chacina de Unaí, nove anos depois, nenhum dos nove réus indiciados foi julgado. Agora são oito réus, pois Francisco Elder Pinheiro, acusado de ter sido o contratante dos pistoleiros, morreu no último dia 7 de janeiro, aos 77 anos, vítima de um Acidente Vascular Cerebral (AVC).

ANTROPÓLOGA DISSECA CASO DE RACISMO NA BMW


Na contramão das atitudes sustentáveis: a obsolescência programada





Obsolescência programada é um conceito que preconiza diminuir a vida útil de um produto para “forçar” o consumo de versões mais recentes ou modernas, estimulando assim o consumismo, descartando, com isso, o conserto. Esse termo é originário do processo de “descartalização” criado a partir da década de 1930 por algumas economias capitalistas europeias no intuito de movimentar a “máquina econômica” com mais produção, uma vez que o estoque de produtos que se encontrava totalmente parado nas fábricas e, principalmente, nos portos, devido à Grande Depressão Econômica de 1929, fez travar o giro da economia.

O produto mais ilustrativo dessa prática (e dessa época) foi a lâmpada. Nos anos 1920, uma simples lâmpada durava mais de 2500 horas. Percebendo, nesse caso, que as vendas seriam bem menores dada a elevada durabilidade do produto, os fabricantes rapidamente trataram de dar uma vida útil bem baixa a esse produto. Pouco tempo depois, o ciclo de vida desse produto caia para menos de 1000 horas.

De acordo com o documentário The Lightbulb Conspiracy (A Conspiração da Lâmpada) dirigido por Cosima Dannoritzer, fabricantes de lâmpadas se reuniram para definir padrões de produção que aumentariam o consumo. Empresas de variados segmentos produtivos descartaram projetos cujo foco era a durabilidade; designers criaram (e ainda criam; vide os celulares e os notebooks, por exemplo) produtos que ficariam defasados em curto espaço de tempo e chips foram colocados em impressoras para contar o número de impressões, dimimuindo-as para pouco tempo. Aos poucos, além das lâmpadas e impressoras outros produtos foram ganhando essa mesma tendência; em especial, os eletroeletrônicos e suas múltiplas versões e a indústria de confecção que “força” uma nova moda e tendência (incluindo estilos e, principalmente, cores de roupas) a cada estação do ano.

Na verdade, a prática da obsolescência programada (proposital curta vida útil) se configura numa maquiavélica estratégia de mercado, tendo em vista que em alguns casos o conserto, propositadamente, é mais caro, o que inevitavelmente faz com que os consumidores não tenham alternativas, a não ser partir para uma nova compra. Isso nada mais é do que uma manipulação das indústrias em prol do ato de consumir. Em outras palavras, é andar na contramão das atitudes sustentáveis, enaltecendo assim um profundo desrespeito das indústrias para com os consumidores, com o planeta e com a natureza.

Na prática, alguns segmentos produtivos que ainda adotam esse procedimento incorrem na “necessidade” de forçar mais produção e, portanto, mais poluição, tanto no ato da produção quanto no descarte. É a economia que não quer parar de crescer, trazendo em seu rastro dilapidação ambiental. Essa prática nada recomendável embute um desajuste sobre a atividade econômica que resvala sobremaneira na capacidade do planeta em suportar produções em escalas cada vez mais alucinantes. Nesse pormenor, é importante lembrar que a humanidade já está consumindo 30% a mais do que o planeta é capaz de repor e é preciso que haja uma redução em até 40% nas emissões de gases de efeito estufa para que a temperatura não suba mais do que 2º C. O forte apelo ao consumo se concentra basicamente nas mãos de 20% da humanidade que “engole” 80% de tudo o que é produzido no planeta, demandando recursos naturais que a natureza não é capaz de prover. Lamentavelmente, a obsolescência programada tem contribuído muito para isso.

* Marcus Eduardo de Oliveira é economista, professor e especialista em Política Internacional pela Universidad de La Habana – Cuba

domingo, 27 de janeiro de 2013

Quando a teoria torna a prática delirante




O filósofo Slavoj Žižek já havia prevenido os acampados do Zuccotti Park: “Não se apaixonem por vocês mesmos. Passamos um bom momento aqui, mas, lembrem-se, os carnavais não custam caro. O que conta é o dia seguinte, quando precisamos retomar nossa vida normal. E é quando nos perguntamos: alguma coisa mudou?”
por Thomas Frank


Uma cena vem à minha memória cada vez que tento recuperar o efeito excitante que o movimento Ocupar Wall Street (OWS) produziu em mim quando a manifestação ainda parecia ter um grande futuro. Estava no metrô de Washington,lendo um artigo sobre os manifestantes reunidos no Zuccotti Park de Manhattan. Fazia três anos que Wall Street havia se recuperado; dois anos que meu círculo de colegas e amigos havia abandonado a esperança de ver o presidente Barack Obama provar sua audácia; dois meses que os amigos republicanos dos banqueiros haviam conduzido o país à beira da moratória ao empreender um braço de ferro orçamentário com a Casa Branca. Como todos, já não aguentava mais.

Ao meu lado, estava um cidadão impecavelmente vestido, talvez um quadro superior que acabara de sair de algum salão comercial, a julgar pela bolsa a tiracolo com slogans que se referiam ao dinheiro. As frases indicavam como otimizar os investimentos financeiros, sugeriam que o luxo é um benefício e que ser um ganhador é magnífico. O homem parecia realmente incomodado. Eu saboreava a situação: em outros tempos, eu é que teria vergonha de exibir a capa do meu jornal em um vagão lotado; hoje, são pessoas como ele que tentam passar despercebidas.

Alguns dias depois, assistia a um vídeo na internet que mostrava um grupo de militantes do OWS debatendo em uma livraria. Em um momento do filme, um participante se perguntou sobre a obsessão de seus camaradas em insistir que se expressam “por si mesmos”, em vez de assumir que pertencem a um coletivo. Outro, então, replicou: “Cada um pode falar apenas por si mesmo; ao mesmo tempo, o ‘si mesmo’ poderia muito bem se diluir em seu próprio questionamento, como convida todo pensamento pós-estruturalista que leva ao anarquismo [...]. Não posso falar apenas por mim: é o ‘apenas’ que conta nesse caso, e certamente é aí que muitos espaços se abrem”.

Ao escutar essa parafernália pseudointelectual, entendi que já não havia esperança. O filósofo Slavoj Žižek já havia prevenido os acampados do Zuccotti Park em outubro de 2011: “Não se apaixonem por vocês mesmos. Passamos um bom momento aqui, mas, lembrem-se, os carnavais não custam caro. O que conta é o dia seguinte, quando precisamos retomar nossa vida normal. E é quando nos perguntamos: alguma coisa mudou?”.

A advertência de Žižek está na obra Occupy! Scenes from occupied America[Ocupe! Cenas da América ocupada], o primeiro livro consagrado ao protesto publicado em 2011. Desde então, uma avalanche de produções editoriais invadiram as prateleiras das livrarias, de discursos pronunciados por manifestantes a análises jornalísticas, passando por testemunhos de militantes.1

Quase todas essas obras caem no contexto evocado por Žižek. Seus autores estão profunda e desesperadamente apaixonados pelo OWS, e dão por certo que os manifestantes anti-Wall Street abalaram os poderosos do mundo financeiro e sufocaram de admiração os excluídos do planeta. Essa visão beata em geral já aparece no próprio título do livro: This changes everything: Occupy Wall Street and the 99% Movement [Isto muda tudo: Ocupar Wall Street e o Movimento dos 99%],2 por exemplo. Os superlativos abundam, usados sem censura ou precaução. “Os 99% despertaram, a paisagem política norte-americana jamais será a mesma”, anuncia o autor de Voices from the 99 percent [Vozes dos 99%].3 Uma profecia quase morna se comparada ao entusiasmo peremptório de Chris Hedges. Em Jours de destruction, jours de révolte [Dias de destruição, dias de revolta], o antigo jornalista do New York Times compara o OWS às revoluções de 1989 na Alemanha do Leste, Tchecoslováquia e Romênia. Os manifestantes nova-iorquinos, escreve, “eram desorganizados no início, não sabiam exatamente o que fazer, não estavam sequer convencidos de que tinham cumprido algum papel de mérito. Com ares inofensivos, porém, desencadearam um movimento de resistência global que eclodiu em vários países e nas capitais europeias. O status quo precário imposto pelas elites durante décadas foi implodido. Outro relato ganhou forma, a revolução começou”.4

O que torna esses livros tão tediosos é o fato de, salvo algumas exceções, recontarem as mesmas anedotas, citarem os mesmos comunicados e discursos, oferecerem as mesmas interpretações históricas, se concentrarem nas mesmas coisas. Como o tocador de djembê impediu que todos dormissem, o que realmente aconteceu na ponte do Brooklyn, por que e como fulano foi parar ali, quem teve a ideia de realizar assembleias gerais, como cada um limpou o parque durante uma noite de pânico para evitar que fossem expulsos no dia seguinte etc. Medido pelo número de palavras por metro quadrado de grama ocupada, o Zuccotti Park constitui, sem sombra de dúvida, o lugar mais analisado da história do jornalismo.

A grande epopeia, contudo, teve curta duração. Os acampados foram evacuados dois meses após a instalação. À exceção de alguns grupos residuais aqui e ali, animados por militantes mais experientes, o movimento OWS se desagregou. A tempestade midiática que recaiu sobre as lonas do Zuccotti Park foi levada pelo vento. Façamos uma pausa e comparemos o balanço do OWS com o de seu vilão gêmeo, o Tea Party, e da renovação da direita ultrarreacionária, do qual esse partido é ponta de lança.5 Graças aos seus devotos, o Partido Republicano se tornou majoritário na Câmara dos Representantes; nos legislativos estaduais, tirou seiscentas cadeiras dos democratas. O Tea Party conseguiu até impulsar um dos seus, Paul Ryan, à candidatura para a vice-presidência dos Estados Unidos.

A questão à qual os enaltecedores do OWS consagram suas considerações apaixonadas é a seguinte: qual é a fórmula mágica que permitiu ao movimento ter tanto sucesso? Ora, essa é a questão diametralmente inversa à que deveriam se perguntar: por que tamanho fracasso? Como os esforços mais legítimos caíram no lamaçal da glosa acadêmica e das posturas anti-hierárquicas vazias de sentido?

De qualquer forma o movimento começou forte. Desde os primeiros dias de ocupação do Zuccotti Park, a causa do OWS tornou-se incrivelmente popular. De fato, como sublinha Todd Gitlin, era a primeira vez desde a década de 1930 que um tema progressista como a aversão a Wall Street unia a sociedade norte-americana. As moções de simpatia pelo movimento choviam aos milhares, os cheques de apoio também, além das pessoas que faziam fila para doar livros e comida aos acampados. Celebridades foram demonstrar solidariedade à causa e os meios de comunicação começaram a cobrir a ocupação com uma atenção que jamais é dedicada aos movimentos sociais etiquetados de esquerda.

Mas os analistas interpretaram de forma equivocada o apoio à causa do OWS como um apoio às suas modalidades de ação. As barracas armadas no parque, a preparação de comida por legiões de acampados, a busca sem fim do consenso, os enfrentamentos com a polícia etc.: aí está, aos olhos dos exegetas, o que fazia a força e a singularidade do OWS; aí está o que o público tem sede de ver.

O que estava sendo realmente tecido em Wall Street durante esse tempo todo suscitou um interesse muito menos vivo. Em Occupying Wall Street, uma compilação de textos redigidos por escritores que participaram do movimento, a questão dos empréstimos bancários usurários apareceu somente uma vez, em uma citação na boca de um policial. E não espere descobrir como os militantes do Zuccotti pretendiam enfrentar o poder dos bancos. Não porque tal façanha pudesse ser considerada impossível, e sim porque a forma como a campanha do OWS é apresentada nessas obras dá a impressão de que o movimento não tinha nada a propor além da construção de “comunidades” no espaço público e o exemplo dado ao gênero humano pela nobre recusa de eleger porta-vozes.

Infelizmente, um programa político como esse não é suficiente. Construir uma cultura de luta democrática é, sem dúvida, muito útil para os ambientes militantes, mas é apenas um ponto de partida. O OWS jamais foi além disso: não desencadeou uma greve, não bloqueou um centro de recrutamento ou sequer ocupou o gabinete de um reitor de universidade. Para seus militantes, a cultura horizontal representa o estágio supremo da luta: “O processo é a mensagem”, entoavam em coro os manifestantes.

 

“A obra-prima última da

virtude democrática”

Seria possível objetar que a questão de apresentar ou não reivindicações foi intensamente debatida pelos militantes quando ocuparam efetivamente o espaço. Mas para quem folheia essas publicações um ano depois, esse debate parece de outro mundo. Quase nenhuma arriscou reconhecer que a recusa de formular proposições constituiu um grave erro tático. Ao contrário: Occupying Wall Street, o relatório quase oficial da aventura, relaciona toda intenção programática a um fetiche concebido para manter o povo na alienação da hierarquia e do servilismo. Hedges não está dizendo outra coisa quando explica que “apenas as elites dominantes e seus canais midiáticos” incitavam o OWS a fazer que suas demandas fossem reconhecidas. Apresentar reivindicações suporia admitir a legitimidade de seu adversário, a saber, o Estado norte-americano e seus amigos, os banqueiros. Em suma, um movimento de protesto que não formula nenhuma exigência seria a obra-prima última da virtude democrática.

Reside justamente aí a contradição fundamental dessa campanha. Ao que tudo indica, protestar contra Wall Street em 2011 implicava protestar também contra as manobras financeiras que levaram à grande recessão; contra o poder político que tinha salvado os bancos; contra a prática delirante dos primese bônus que tinham metamorfoseado as forças produtivas para o 1% mais rico. Todas essas calamidades têm origem na desregulação e na queda dos impostos – em outras palavras, na filosofia de emancipação individual que, pelo menos na retórica, não é contrária às práticas libertárias do OWS.

Inútil ter assistido a cursos de “pós-estruturalismo que leva ao anarquismo” para entender como inverter a tendência: reconstituir um Estado regulador competente. Lembremos o que diziam os manifestantes do OWS nos célebres primeiros dias de setembro de 2011: retomemos a Lei Glass-Steagall de 1933, que separa os bancos de poupança e os bancos de investimento. Viva o “Estado obeso”! Viva a segurança!

Mas não é assim que se atiça a imaginação de seus contemporâneos. Como animar um carnaval quando se reivindicam especialistas contábeis e de administração fiscal? Deixando as coisas para mais tarde. Evitando reclamar de medidas concretas. Reivindicar é admitir que os adultos afetados e sem humor retomem a batuta e acabem com a recreação. Essa escolha tática realmente funcionou no início, mas também fixou uma data de perempção a todo o movimento. Ao proibir reivindicar qualquer coisa, o OWS se fechou naquilo que Christopher Lasch chamava – em 1973 – de “culto da participação”. Ou seja, um protesto cujo conteúdo se resume à satisfação de ter protestado.

Em suas declarações de intenção, os acampados do Zuccotti Park celebravam em alto e bom som a vox populi. Na prática, contudo, seu centro de gravidade pendia para apenas um lado, o do pequeno mundo universitário. Os militantes citados nos livros nem sempre revelam sua identidade socioprofissional, mas, quando o fazem, se denominam estudantes recém-formados, ou professores.

É preciso celebrar a mobilização do mundo universitário; a sociedade precisa escutar essa voz. Em tempos de crescimento vertiginoso das taxas de escolaridade, de endividamentos estratosféricos para a obtenção de um diploma universitário, de doutorandos explorados de forma sem-vergonha, as pessoas afetadas têm completa razão em protestar.6 Eles deveriam lutar contra o sistema, exigir um controle rígido das taxas de matrícula. Nas manifestações que abalaram o Québec no primeiro semestre, quando uma parte importante da população apoiou a exigência estudantil de uma educação acessível para todos, o movimento ganhou. Os estudantes obtiveram quase tudo o que reivindicaram. O protesto social fez as portas da universidade se abrirem.

Mas é quando se produz exatamente o inverso, ou seja, quando a discussão acadêmica da alta cultura se torna um modelo de luta social, que o problema aparece. Por que o OWS inspira em seus admiradores a necessidade de se expressar em um jargão ininteligível? Por que tantos militantes sentiram a necessidade de deixar seus trabalhos para participar de debates de salão entre eruditos?7 Por que outros ainda decidiram reservar seus testemunhos a revistas de acesso restrito, como American Ethnologist ou Journal of Critical Globalisation Studies? Por que um panfleto concebido para galvanizar as tropas do OWS está cheio de declarações enigmáticas do tipo: “Nosso ponto de ataque se situa nas formas de subjetividade dominantes produzidas no contexto das crises sociais e políticas atuais. Dirigimo-nos a quatro figuras subjetivas – o endividado, o midiatizado, o segurado e o representado – que estão em via de empobrecimento e cujo poder de ação social está mascarado ou mistificado. Consideramos que os movimentos de revolta e de rebelião nos permitem não apenas recusar regimes repressivos sofridos por essas figuras subjetivas, mas também inverter essas subjetividades perante o poder”?8 E por que, alguns meses depois de ter ocupado o Zuccotti Park, vários militantes julgaram indispensável criar sua própria revista universitária com pretensão teorizante, a Occupy Theory, destinada a compilar ensaios impenetráveis que demonstram a futilidade de qualquer teorização? É assim que se constrói um movimento de massa? Obstinando-se a usar uma linguagem que quase ninguém entende?

Já sabemos a resposta: antes que um protesto se torne movimento social de grande amplitude, seus protagonistas devem refletir, analisar, teorizar. O fato é que, desse ponto de vista, o OWS oferece material para alimentar meio século de lutas – sem, contudo, ser capaz de tirar a sua própria do impasse.

 

Rebuscado, verborrágico e professoral

O movimento Ocupar Wall Street realizou coisas excelentes. Encontrou um bom slogan, identificou o inimigo certo e captou a imaginação do público. Deu forma a uma cultura de protesto democrática, estabeleceu laços com sindicatos de trabalhadores, um passo crucial no caminho das lutas sociais. Retomou o vigor da noção de solidariedade, virtude cardinal da esquerda. Mas os reflexos universitários rapidamente ganharam um lugar preponderante e transformaram o OWS em um laboratório usado por seus sábios para validar suas teorias nebulosas. Os acampamentos não abrigavam somente militantes preocupados em transformar o mundo: também serviram de arena para a promoção individual de alguns carreiristas.

E essa ainda é uma forma otimista de apresentar as coisas. A maneira pessimista consistiria em abrir o último livro de Michael Kazin, American dreamer, e concordar com ele que, desde a Guerra do Vietnã e do combate pelos direitos civis na década de 1960, nenhum movimento progressista se conectou com o grande público norte-americano – à exceção da campanha contra o apartheidna década de 1980. É certo que na época do Vietnã o país estava repleto de esquerdistas, principalmente nas universidades. Porém, desde então, estudar a “resistência” se transformou em um meio garantido de melhorar as perspectivas de carreira; muitas vezes, o tema chegou a ser conteúdo de disciplinas optativas. Contudo, por mais erudita que seja no plano intelectual, a esquerda continua, de fracasso em fracasso, sem conseguir estabelecer uma causa comum com o povo.

Essa incapacidade se explica, talvez, pela sobrerrepresentação de uma profissão cujo modo de operar é deliberadamente rebuscado, ultra-hierarquizado, verborrágico e professoral, pouco propício a um processo de aglutinação. Ou talvez resulte da persistência da esquerda em desprezar o homem da rua, em particular quando pode ser acusado de ter votado mal ou cometido qualquer pecado político. Ou, ainda, pode ser o desmoronamento do aparelho industrial que torna muitos movimentos sociais obsoletos. Mas, de qualquer forma, não será nas publicações sobre o OWS que encontraremos as respostas.

Os ativistas anti-Wall Street não gostam – está claro – de seus homólogos do Tea Party. Em seu entendimento, aparentemente, eles não são pessoas de verdade, como se outros princípios biológicos se aplicassem à sua espécie. A filósofa Judith Butler, professora da Universidade de Columbia, evoca com repugnância uma reunião do Tea Party durante a qual os indivíduos celebraram a morte próxima de vários doentes desprovidos de seguro-saúde. “Em que condições econômicas e políticas emergem formas prazerosas de crueldade?”, pergunta a professora.

É uma boa questão. Dois parágrafos depois, contudo, Judith muda de tema para celebrar a admirável decisão do OWS de não reivindicar nada, o que gera um ponto de partida para uma teoria de alto voo: uma multidão que protesta é espontânea e intrinsecamente liberacionista. “Quando os corpos se reúnem para manifestar a indignação e afirmar a existência plural no espaço público, também expressam reivindicações mais vastas”, escreve. “Reivindicam ser conhecidos e valorizados; reivindicam o direito de aparecer e de exercer liberdade; reivindicam uma vida vivível.”9 É preciso, assim como o papel à música: os descontentes que saem às ruas o fazem necessariamente para afirmar a existência plural de seu corpo, por toda parte e sempre – a menos que pertençam ao grupo mencionado dois parágrafos acima.

Os dois movimentos, contudo, apresentam algumas semelhanças. Compartilham, por exemplo, a mesma aversão obsessiva pelos planos de salvamento de 2008, qualificados pelos dois lados de “capitalismo de conivências”. Ambos se expressam ocupando os espaços públicos; destinaram um lugar importante aos partidários de Ron Paul, o líder da corrente “libertária” do Partido Republicano. Até a máscara do Anônimo (o vingador solitário do filme V de Vingança) circulou nos dois campos.

No plano tático, também há analogias. O OWS e o Tea Party permaneceram com reivindicações fluidas, para abarcar o mais amplamente possível a opinião pública. Os dois grupos insistiram com a mesma ênfase sobre as persecuções das quais se consideravam vítimas. Do lado dos acampados, insistiu-se sobre as brutalidades policiais. Em um relato de 45 páginas,10 Will Bunch narra em detalhes a repressão cega e a prisão em massa ocorridas em uma manifestação sobre a ponte do Brooklyn. Do lado do Tea Party, é o suplício infligido pelos “meios de comunicação de esquerda” e suas acusações de racismo que alimentam o martirológio coletivo.11

 

Libertarismo preguiçoso e narcisista

A ausência de dirigentes é outro ponto comum entre os dois campos. No manifesto do Tea Party redigido em 2010 por Richard (“Dick”) Armey, ex-parlamentar republicano do Texas, figura um capítulo intitulado “Somos um movimento de ideias, não de líderes”. O raciocínio desenvolvido pelo Tea Party não destoaria dos teóricos do OWS: “Se eles [seus adversários] soubessem quem movimenta o cenário, poderiam atacá-lo. Poderiam massacrar a oposição desagradável do Tea Party”.

Ao mergulhar nas referências literárias do Tea Party, também é possível encontrar traços da filosofia do OWS relativos à recusa de qualquer reivindicação. Vejamos o que diz o filósofo Ayn Rand, cujas teorias “objetivistas” serviram de base moral para a desregulação capitalista.12 Em A greve, sua grande obra romanesca publicada em 1957, que vendeu 7 milhões de exemplares nos Estados Unidos, as “reivindicações” são assimiladas pelo mundo nocivo do poder político, que as formula em nome de seus administrados preguiçosos e improdutivos. Os empresários, por outro lado, negociam contratos: atuam na harmonia dos laços consensuais estabelecidos pelo livre mercado. A ousadia aparece no momento em que o personagem John Galt, que fez greve contra o flagelo do igualitarismo, dirige seu discurso ao governo norte-americano: “Não temos nenhuma reivindicação para apresentar, nenhuma disposição para negociar, nenhum compromisso de atingir qualquer objetivo. Vocês não têm nada a oferecer, não precisamos de vocês”.

Fazer greve sem reivindicar nada? Sim, porque reivindicar qualquer coisa ao Estado seria reconhecer sua legitimidade. Para definir essa atitude, Rand forjou uma expressão sofisticada: “a legitimação da vítima”. Engajado na realização de seu potencial pessoal, o patrão – a “vítima”, na pitoresca visão de mundo do autor – recusa a bendição de uma sociedade que o tiraniza com impostos e regras. O bilionário esclarecido não quer ter de fazer qualquer coisa pelos larápios e parasitas que povoam uma sociedade nivelada por baixo.

O que fariam, então, esses precursores do “1%”? Construiriam uma comunidade-modelo no coração do Velho Mundo. Mas os biliardários sofredores imaginados por Rand não organizam assembleias gerais nos jardins públicos; em vez disso, se retiram em um vale deserto do Colorado, onde criam um capitalismo paradisíaco, não coercitivo, cujo capital não deve nada ao Estado.

Uma última semelhança. A astúcia ideológica do Tea Party consistiu, certamente, em desviar a fúria popular contra Wall Street e reorientá-la contra o Estado.13 O OWS fez o mesmo, mas de modo mais abstrato e teórico. É possível identificar essa atitude, por exemplo, ao decifrar o argumento do antropólogo Jeffrey Juris: “As ocupações colocaram em questão o poder soberano do Estado de regular e controlar a distribuição dos corpos no espaço, [...] notadamente pela aparição de espaços urbanos particulares como os parques públicos e praças, e pela requalificação do lugar da assembleia pública e da expressão democrática”.14 Esse tipo de retórica ilustra um ponto de convergência entre o OWS e a esquerda universitária – a acusação do Estado e de seu poder de “regular” e “controlar” tudo, mesmo que, no caso de Wall Street, o problema resida, antes, no fato de que o Estado não regule ou controle coisa alguma. Com algumas considerações menores, o texto poderia ser lido como um panfleto libertário contra os espaços verdes.

Já que nenhum dos livros citados aqui se preocupou em estar de acordo, ou formar uma unidade, não há nenhuma teoria expressa que possa explicá-los. Então, permitam-me propor a minha.

A razão pela qual o OWS e o Tea Party às vezes parecem tão próximos é que ambos tomam emprestado esse libertarismo um pouco preguiçoso e narcisista que impregna nossa visão de protesto social, desde adolescentes do Disney Channel em busca deles mesmos até os pseudoanarquistas que vandalizam um Starbuck’s. Todos imaginam que eles se revoltam contra “o Estado”. Está no genoma de nossa época, ao que tudo indica.

Quando veio o sucesso, o Tea Party engavetou seus discursos fanfarrões sobre a organização horizontal. As mentiras serviram para atrair clientes. Esse movimento não tinha pensadores pós-estruturalistas, mas dispunha de dinheiro, redes e o apoio de um grande canal de televisão (Fox News). Também não tardou em produzir dirigentes, reivindicações e um alinhamento frutífero com o Partido Republicano. O Ocupar Wall Street não foi por esse caminho: de fato, acreditava na horizontalidade. 
Mas depois de conhecer um sucesso estrondoso, desmoronou.


Thomas Frank 

Jornalista, autor de Pourquoi les pauvres votent à droite. Comment les conservateurs ont gagné le coeur des Etats-Unis (et celui des autres pays riches) [Por que os pobres votam na direita. Como os conservadores ganharam o coração dos Estados Unidos (e o dos outros países ricos), Agone, Marselha, 2008. Acaba de publicar Pity the billionaire: the hard-times swindle and the unlikely comeback of the right [Pobre bilionário: o embuste dos tempos difíceis e o improvável retorno da direita], Metropolitan Books, Nova York, 2012.


Ilustração: Daniel Kondo

1  Por exemplo, Todd Gitlin, Occupy nation: the roots, the spirit and the promise of Occupy Wall Street[Nação ocupada: as raízes, o espírito e a promessa do movimento Ocupar Wall Street], HarperCollins, 2012; Occupying Wall Street: the inside story of an action that changed America[Ocupando Wall Street: a história dos bastidores de uma ação que mudou a América], diversos autores, Haymarket, 2012.
2    Sarah van Gelder e a equipe da Yes Magazine, This changes everything: Occupy Wall Street and the 99% Movement [Isto muda tudo: Ocupar Wall Street e o Movimento dos 99%], Berrett-Koehler, 2012.
3  Lenny Flank, Voices from the 99 percent: an oral history of the Occupy Wall Street movement[Vozes dos 99%: uma história oral do movimento Ocupar Wall Street], Red and Black, 2011.
4  Chris Hedges e Jo Sacco, Jours de destruction, jours de révolte [Dias de destruição, dias de revolta], Futuropolis, 2011.
5  Ler Robert Zaretsky, “Au Texas, le Tea Party impose son style” [No Texas, o Tea Party impõe seu estilo], Le Monde Diplomatique, nov. 2010.
6  Ler Christopher Newfield, “La dette étudiante, une bombe à retardement” [A dívida estudantil, uma bomba-relógio], Le Monde Diplomatique, set. 2012.
7  Situação que observamos também em outros lugares. Ler Pierre Rimbert, “La pensée critique dans l’enclos universitaire” [O pensamento crítico na clausura universitária], Le Monde Diplomatique, jan. 2011.
8  Antonio Negri e Michael Hardt, “Take up the baton” [Pegue o bastão], Jacobin, maio 2012. Disponível em: .

9  Judith Butler, “From and against precarity” [De e contra a precariedade], dez. 2011. Disponível em: .
10            Will Bunch, October 1, 2011: the battle of the Brooklyn bridge[1º de outubro de 2011: a batalha da ponte do Brooklyn], Kindle Singles, 2012.
11            Por exemplo, Michael Graham, That’s no angry mob, that’s my mom: team Obama’s assault on Tea-Party [Esta não é uma multidão em cólera, é minha mãe: o ataque do time de Obama ao Tea Party], Talk-Radio Americans, Regnery Publishing, 2010.
12            Ler François Flahaut, “La philosophe du Tea Party” [A filósofa do Tea Party]; “Où va l’Amérique” [Para onde vai a América], Manière de Voir, n.125, out./nov. 2012.
13            Ler “Et la droite américaine a détourné la colère populaire” [E a direita norte-americana desviou a cólera popular], Le Monde Diplomatique, jan. 2012.
14       Jeffrey S. Juris, “Reflections on #Occupy everywhere: social media, public space and emerging logic of aggregation” [Reflexões sobre #Ocupar qualquer espaço: mídia social, espaço público e a lógica emergente da agregação], American Ethnologist, v.39, n.2, maio 2012.

sábado, 26 de janeiro de 2013

CNJ pode traçar o perfil de servidores do Judiciário




Adoção de cotas

O Conselho Nacional de Justiça deve decidir até o mês de fevereiro sobre um censo do Judiciário, que será um raio-x da situação socioecônomica dos juízes e servidores da Justiça em todo o país. A ideia é que o estudo seja utilizado para decidir sobre a adoção de cotas para o ingresso na magistratura.


Segundo o conselheiro Jorge Hélio, um dos autores da proposta, a ideia é embasar a decisão do Conselho em um processo que pede a adoção de cotas raciais para o ingresso de juízes, servidores e estagiários.

"A proposta é da realização de um censo para se ter um diagnóstico geral do Poder Judiciário. [...] Um censo de natureza socioeconômica com 32 perguntas sobre o perfil salarial, quantos familiares, grau de escolaridade, etnia", disse Jorge Hélio.

Para o conselheiro, é preciso "expor as vísceras e daí propor o que tem que ser melhorado". "É importante porque é inédito. Nunca houve um censo no Poder Judiciário para saber quem são seus membros", completou.

Segundo o conselheiro, há expectativa de que o plenário aprove o pedido para a pesquisa na próxima sessão do CNJ, no dia 29 de janeiro, ou na sessão no dia 5 de fevereiro. Com isso, informou ele, o censo poderia ser feito em 120 dias e o resultado, já formatado e comparado com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre a população brasileira ser apresentado até o fim de julho.

Conjur

Idealizador do Fome Zero defende programa federal para o fim da obesidade

Frei Betto acaba de ser premiado pela Unesco pelos projetos desenvolvidos e diz que “no Brasil a fome é gorda”. Leia a entrevista

Fernanda Aranda , iG São Paulo
 

O escritor Frei Betto já deixou as digitais na luta contra a ditadura brasileira, no primeiro programa do governo Lula de combate à miséria, o Fome Zero, e agora é uma das vozes mais atuantes na briga para vencer um problema de saúde que afeta do sertão nordestino aos centros urbanos do Sul e Sudeste: a obesidade.






 
 

















Frei Betto defende programa nacional "Obesidade Zero"
A contribuição dele “à justiça social, aos direitos humanos e à construção de uma cultura de paz universal” – na definição da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco)– foi reconhecida este mês com o “Prêmio Internacional José Martí”.

Em entrevista ao iG Saúde , o premiado líder de movimentos sociais e autor de 53 livros responde como o governo federal deveria atuar para combater o que ele chama de “fome gorda” brasileira.

Frei Betto ainda define que a atual política de internação forçada dos usuários de crack – em curso em São Paulo e no Rio de Janeiro – tem falhas e precisa ser menos “ao estilo Pinochet” (em referência ao ditador chileno Augusto Pinochet, morto em 2006). Leia a seguir a entrevista concedida por e-mail.

iG:       O documentário Muito Além do Peso, do qual o senhor foi consultor ( leia aqui ), coloca em destaque a obesidade das crianças brasileiras. Atestar que um país sofre com o excesso de peso significa que a fome foi vencida?
 
Frei Betto: De modo algum. Quando eu trabalhava no Fome Zero (2003-2004), verifiquei que, no Brasil, a fome é gorda. Não encontrava, pelo interior, crianças esquálidas, magérrimas, como as fotos que vemos da África. E, sim, crianças barrigudas, cheias de vermes, com distúrbios glandulares, devido à falta de nutrientes essenciais. Assim, há crianças e adultos obesos e famintos, pois comem apenas um ou dois alimentos, como mandioca, o que caracteriza desnutrição.



Nossas crianças estão sendo envenenadas, e ainda há escolas que abrem suas portas a redes de lanchonetes, o que é o mesmo que abri-las ao assassino portando armas











iG: Na criação do Fome Zero, o combate à obesidade estava contemplado. Nos últimos dez anos, dados oficiais mostram um crescimento em progressão geométrica dos obesos no País. É preciso um plano, elaborado pelo governo, para lidar com este aumento?
 
Frei Betto: Os dados oficiais demonstram que, em nosso país, 30% das crianças apresentam sobrepeso, e 15% são obesas. O plano que o governo precisa estabelecer é proibir a propaganda de alimentos nocivos à saúde da população, principalmente das crianças, como refrigerantes, achocolatados, frituras, que contêm excesso de açúcar, gordura saturada e sódio. Países como o Chile, a França e o Reino Unido já restringem a propaganda de alimentos nocivos. No Brasil, o que a Vigilância Sanitária libera o Ministério da Saúde assume, gastando recursos altíssimos com doenças evitáveis.

iG: Muitos especialistas e instituições creditam à indústria alimentícia a explosão da obesidade nacional e mundial. Algumas imposições ao setor industrial sobre a elaboração dos alimentos já começaram a sair do papel ( veja mais) . Na sua avaliação, este é o caminho?
 





Divulgação
 
"É preferível correr o risco de errar com os pobres do que ter certeza de acertar sem eles", diz Frei Betto
Frei Betto: O caminho necessário é controlar desde a fonte. Primeiro, proibindo a fabricação de alimentos com alto teor de sódio, açúcar e gorduras saturadas. Segundo, obrigando as escolas a fazerem educação nutricional. Na escola aprendemos muito, mas nem todo dia utilizamos o que aprendemos de matemática, de geografia, de química. No entanto, nos alimentamos várias vezes ao dia, sem noção da qualidade do que ingerimos e muito menos da reação do organismo ao alimento ingerido.
iG: A publicidade – infantil e adulta – tem participação e responsabilidade no aumento da obesidade?
Frei Betto: Muita participação e responsabilidade, porque cria hábitos de consumo desde os primeiros anos de vida. Está provado que, um alimento publicitado na televisão e na internet, tem aumento de consumo de até 134%. O massacre publicitário induz as pessoas a comerem pelos olhos, e não pela barriga.

iG: Na sua avaliação, o País precisa hoje de um programa ao estilo “Obesidade Zero?”
 
Frei Betto: Urgentemente, pois aumentam, sobretudo em crianças, casos de diabetes 2, cânceres, alto colesterol, distúrbios glandulares, em função da má alimentação. Nossas crianças estão sendo envenenadas, e ainda há escolas que abrem suas portas a redes de lanchonetes, o que é o mesmo que abri-las ao assassino portando armas. A diferença é que a alimentação inadequada mata a longo prazo e com mais sofrimento. Uma criança excessivamente obesa perde a autoestima, a identidade (é chamada de “gorda”), e fica deprimida.

iG: Falando agora sobre drogas ilícitas: em São Paulo está em elaboração, já com previsão de ser colocado em prática, um plano de internação compulsória dos usuários de crack. Qual a sua avaliação sobre a internação compulsória?
 
Frei Betto: Primeiro, é preciso implementar políticas de prevenção, reprimindo duramente o tráfico de drogas, em especial de crack. Segundo, a internação não deve ser compulsória, o consumo de drogas não pode ser criminalizado. Assim, há que fazer um trabalho junto aos usuários para convencê-los a se tratar, como faz a Igreja Batista na Cristolândiaem São Paulo. Na metodologia, mais Piaget (Jean Piaget, pensador do século XX, idealizador da psicologia da criança e que defende a abordagem multidisciplinar) e menos Pinochet (Augusto Pinochet, que governou o chile em poder ditatorial por 17 anos, considerado violento e autoritário).


 

A internação não deve ser compulsória, o consumo de drogas não pode ser criminalizado








iG: A maior parte dos tratamentos, clínicas e projetos de redução de danos para dependentes químicos está nas mãos de instituições religiosas. Esta atuação dos religiosos é positiva em quais pontos principais?
 
Frei Betto: É positiva se o usuário está aberto à proposta religiosa, o que não é o caso de todos. Portanto, as instituições religiosas não devem condicionar o tratamento à aceitação da fé. Salvar um ser humano, ainda que ateu, é exigência número um do principal preceito cristão – o amor.

iG : O senhor acaba de ser premiado pela Unesco devido ao “conjunto da obra”. Na sua trajetória, do que tem mais orgulho? Qual projeto que ainda não conseguiu colocar em prática, mas sonha fazê-lo?
 
Frei Betto: Este prêmio da UNESCO é mérito de todos os movimentos sociais com os quais trabalho há mais de 50 anos e que lutam por justiça, paz e direitos humanos na América Latina. Se tenho direito a algum orgulho, é com a minha coerência de vida. Tenho como princípio que é preferível correr o risco de errar com os pobres do que ter certeza de acertar sem eles. Quanto aos sonhos, apenas dois: viver o suficiente para escrever todos os livros dos quais estou “grávido” e – como sei que não participarei da colheita – prosseguir semeando o futuro de justiça e paz.