O Estado, racista, oprime a todos nós!
“Quantas guerras vou ter que vencer por um pouco de paz?”
Basta de racismo, “higienização” sócio-racial e criminalização da pobreza.
Passados 124 anos da abolição da escravidão, a população negra
continua sendo o alvo preferencial da violência do Estado e das elites
brasileiras. Seja através das ações diretas do Estado, como a Polícia
Militar, ou no cotidiano das relações sociais, o racismo segue como
importante dinamizador da opressão e da barbárie no Brasil.
No curto período de 45 dias, em plena “virada de ano”, assistimos
situações que não deixam dúvidas de que o racismo permeia e motiva ações
de violência e desrespeitos à dignidade e aos direitos humanos da
população.
Racismo em todos os cantos
No início de dezembro, todos souberam do caso de Ester Elisa da Silva Cesário,
negra, de 19 anos, que trabalhava como estagiária no colégio
Internacional Anhembi Morumbi até que sua chefe exigiu que ela alisasse o
cabelo para permanecer no emprego. Pouco depois, um menino etíope, de
seis anos, foi jogado para fora do restaurante Nonno Paolo ao ser “confundido” com uma criança de rua.
Já no início do ano, soubemos da lamentável história do jovem negro
Michel Silveira, que foi preso de forma irregular, ficando dois meses
encarcerado, acusado injustamente por um assalto, apesar de várias
testemunhas comprovarem que, na hora do roubo, ele estava no seu local
de trabalho.
No mesmo período, as imagens de outro jovem negro, Nicolas Barreto,
sendo agredido por um policial militar racista, dentro da USP,
ganharam as redes sociais expondo algo que há se sabe: a USP quer se
manter como um espaço da elite (ou seja, branco). E para tal,
inclusive, esta ameaçando de fechamento a principal entidade de combate
ao racismo no seu interior: o Núcleo de Consciência Negra.
Cracolândia, Moinho, Pinheirinho: o racismo também esteve lá!
Enquanto isso, no centro da cidade, a Favela do Moinho “pegou fogo” e as 500 famílias foram jogadas a sua própria sorte. E bem perto dali, na “Cracolândia”,
a prefeitura e o governo do Estado, ao invés de tratarem a dependência
química como um problema social e de saúde, investiram na repressão e
em sucessivos ataques, causando apenas, como eles próprios denominaram a
operação, “dor e sofrimento”.
A mesma dor e sofrimento que foram enfrentados no Pinheirinho,
em São José dos Campos, onde, depois de 8 anos de luta, seis mil
pessoas viram seus sonhos e casas destruídos, pelo governador Alckmin e
o prefeito da cidade apenas para beneficiar um corrupto confesso, Naji
Nahas.
E não há dúvidas que o racismo também marcou estas histórias, como
sempre, lado a lado com a exploração econômica e a marginalização
social. Afinal, não há nenhuma dúvida sobre a “cor” da maioria dos
homens e mulheres que viviam nestas comunidades: negros e negras.
Estado racista e opressor!
Lamentavelmente, o Brasil é um país onde cabelo liso é padrão
estético e corporativo; pobreza é crime e problemas que deveriam ser
tratados por médicos viram caso “de polícia”. Este é um país onde ser
negro e pobre é passível de “punição”, prisão e morte. No entanto, nada
acontece com o colégio que discriminou nem com o restaurante que
humilhou nem com o delegado que prendeu sem provas ou com o PM que
atacou o estudante. Muito menos com quem ateou fogo ao Moinho, decidiu
“dedetizar a luz”, tratando gente como ratos, ou esteve à frente da
tropa que invadiu o Pinheirinho.
Nada acontece, porque a impunidade, a “justiça” e as autoridades do
Estado estão do lado destes “senhores”, para garantir seus privilégios.
O racismo brasileiro é isso: assassinato direto e indireto, maus
tratos, falta de políticas públicas, desleixo, naturalização da
desgraça, criminalização da pobreza.
Em todos os casos, em uma ponta, oprimindo e explorando, estão o
Estado, os governos, a polícia, o judiciário, os interesses dos ricos e
a manutenção de normas e padrões contrários ao povo. Na outra ponta,
estão os pobres, a classe trabalhadora, as estagiárias, os agentes de
saúde, os estudantes, os dependentes químicos, os sem teto, as mulheres
vitimadas pelo machismo ou gays, lésbicas, bissexuais e travestis
(LGBT) que sofrem com a homofobia.
Uma multidão de explorados e oprimidos que, num país como nosso, é inegavelmente, de maioria negra.
Basta!
Apesar de muitos acreditarem na farsa de que vivemos numa democracia
racial, há 512 anos o racismo tem papel determinante na estrutura de
dominação e na prática da opressão no Brasil. É hora de reconhecer isto
e ir à luta.
É hora de nos organizarmos, juntarmos forças com os demais setores
oprimidos e explorados, denunciarmos toda e qualquer atitude
discriminatória e, sobretudo combatermos o racismo.
Em décadas de luta, fomos capazes de aprovar leis, criar organismos
institucionais e produzir pesquisas e estudos que deslegitimam o
racismo e punem sua prática. Mas, isto, contudo, ainda não foi
suficiente para que negras e negros conquistem os direitos e a
liberdade que merecem.
Os ataques recentes são provas de que racismo permanece ativo e
operante. Por isso, exigimos que o Estado brasileiro (em todos os seus
níveis, municipal, estadual e federal) e todos os que sejam coniventes e
cúmplices destas práticas sejam responsabilizados e punidos!
“O Racismo está aqui! Basta!!!
Nossas bandeiras:
Contra o genocídio da juventude negra.
Contra a homofobia.
Contra o machismo.
Contra o encarceramento em massa.
Contra a violência policial.
Contra as desapropriações no pinheirinho e em outros locais.
PS do Viomundo: Centenas de manifestantes estiveram hoje no Shopping Higienópolis, para espanto de madames e cavalheiros diferenciados.
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