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quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

A Justiça decide o futuro da Justiça


CNJ1 Justiça decide o futuro da Justiça
Sessão de abertura dos trabalhos do Judiciário no STF/ABr

Está nas mãos dos 11 ministros do Supremo Tribunal Federal a decisão sobre o futuro da Justiça brasileira. Quando for reaberto na tarde desta quinta-feira o julgamento sobre os limites da atuação do Conselho Nacional de Justiça, o STF terá que optar entre a defesa do corporativismo vigente e a transparência do nosso sistema Judiciário, eliminando privilégios, abusos, supersalários e direitos adquiridos em causa própria que resultam em irregularidades diversas.

Em palavras bem simples: o que está em jogo é saber se os magistrados dos tribunais estaduais deverão ser submetidos ao controle externo da corregedoria do CNJ ou se continuarão se valendo da "justiça de compadrio" em que eventuais malfeitos só podem ser julgados pelo colega da sala ao lado.
Por definição legal, o CNJ foi criado em 2004 como "orgão do Poder Judiciário encarregado de controlar a atuação administrativa e financeira dos demais orgãos daquele poder, bem como de supervisionar o cumprimento dos deveres funcionais dos juízes".
Está na lei, mas quando a corregedora nacional de Justiça, ministra Eliana Calmon, foi colocar a lei em prática para investigar denúncias contra juízes e desembargadores em 22 tribunais estaduais, no final do ano passado, houve uma revolta geral das associações de magistrados, que entraram com ações no STF contra a atuação do CNJ.
Em setembro, Eliana Calmon chegou a dizer com todas as letras que "a magistratura está com gravíssimos problemas de infiltração de bandidos que estão escondidos atrás da toga".
No auge da polêmica sobre privilégios e malfeitos sortidos envolvendo magistrados, as investigações foram suspensas por uma liminar concedida após a última sessão de 2011 pelo ministro Marco Aurélio Mello, que já era contrário à criação do CNJ oito anos atrás.
É sobre esta decisão provisória de Mello que os demais ministros terão que votar. O debate começou na quarta-feira, logo após um discurso do presidente do STF, Cesar Peluzo, mas foi suspenso quando o plenário se mostrou divido sobre o tema.
Os supremos juízes ganharam 24 horas para encontrar uma solução intermediária, como propôs o ministro Luiz Fux, em que as prerrogativas da corregedoria do CNJ seriam mantidas, mas com uma série de restrições.
Um dos votos pela limitação da atuação da corregedoria certamente será o de Cesar Peluzo, que também é precidente do CNJ e bateu de frente com Eliana Calmon no ano passado. No discurso de abertura oficial do ano no Judiciário, Peluzo negou qualquer crise e defendeu que os magistrados não podem agir sob pressão. Em seu estilo pedregoso, afirmou com tom solene:
"O papel antimajoritário ou contramajoritário, em especial das cortes constitucionais, não significa apenas dever de tutelar direitos das minorias perante o risco de opressão da maioria, mas também de enfrentar, não críticas ditadas pelo interesse público, mas pressões impróprias tendentes a constranger juízes e ministros".
Que pressão imprópria, pressão de quem? Só se for do conjunto da sociedade brasileira surpreendida a cada semana por novas revelações feitas pela imprensa sobre os abusos cometidos na concessão de benefícios aos magistrados, estranhas movimentações financeiras e decisões pouco republicanas tomadas pelos tribunais estaduais.
Se pressões existem em defesa das investigações promovidas pela corregedora Eliana Calmon, que partem da OAB e inclusive de largos setores do próprio Judiciário, elas são a favor e não contra a atuação da maioria dos magistrados honestos e cumpridores do seu dever que se submetem às leis brasileiras como qualquer outro cidadão.

Ricardo Kotscho

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