Quantos casais os caros leitores do Balaio conhecem que podem viajar
114,2 mil quilômetros (três voltas e meia ao redor da Terra) pelo mundo
todo sem gastar um tostão do próprio bolso?
Fora os que têm amigos muito ricos e magnânimos, com recursos
próprios para convidar a família e a turma toda numa viagem de boca
livre total, este milagre, certamente, só acontece com suas excelências
do Congresso Nacional, os por nós eleitos senadores e deputados.
Entre eles, o campeão é o casal Valdir Raupp, presidente nacional do
PMDB, e Marinha Raupp, ambos de Rondônia, donos do recorde de milhagem
citado na abertura desta matéria.
Das seis viagens internacionais que os Raupp fizeram nos últimos sete
anos, cinco foram pagas por nós, os pródigos contribuintes.
"Qual é o problema?", perguntou o doutor Valdir Raupp à repórter
Andrea Jubé Vianna, autora da reportagem publicada nesta segunda-feira,
na página A6 do "Estadão".
Como se ninguém tivesse nada a ver com isso, o senador foi romântico
ao explicar o motivo das coincidências que colocam o casal nas mesmas
"missões oficiais" do Congresso Nacional: "É uma forma de ficarmos mais
tempo juntos. Se ela é deputada e pode participar, qual é o problema?".
O problema é que nós, simples mortais contribuintes e eleitores,
quando quisermos fazer viagens internacionais com as nossas mulheres
precisamos enfiar a mão no bolso para comprar passagens, pagar hotéis,
passeios, restaurantes, etc.
Para ir à Coréia do Sul, por exemplo, o senador Raupp recebeu 11
diárias pagas pelo Senado, no valor total de R$ 11.348, e e sua esposa
deputada mais 5 diárias por conta da Câmara, cada uma no módico valor de
US$ 350.
Estas despesas não incluem os bilhetes aéreos gentilmente oferecidos
ao casal. Como as excelências não costumam viajar em classes econômicas
nem comer em restaurantes de comida a quilo dá para imaginar o custo
total desta "missão oficial" conjugal.
Assim eles foram também para a Alemanha, África do Sul , China, Japão
e Taiwan. Para ninguém pensar que eles foram só passear, a deputada
Marinha apresentou um relatório à Câmara com os resultados da missão:
"Melhorar as relações de amizade, cooperação de intercâmbio dos
deputados e a expansão do intercâmbio econômico entre Brasil e Coreia". É
muito intercâmbio para justificar as despesas.
Para a viagem à China, Marinha encontrou outra explicação:
"As lições aprendidas na China deverão subsidiar a escolha do melhor modelo de trem de alta velocidade para o Brasil".
Ah, bom.
Ninguém sabe ainda se e quando teremos um trem-bala, mas
subsídios oferecidos pelo Congresso Nacional certamente não faltarão.
Outros quatro deputados, além do senador Raupp, integraram a "missão
oficial".
Como diz meu colega Paulo Henrique Amorim, viva o Brasil!
Ricardo Kotscho
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