Claudio Carneiro, para o Opinião e Notícia
Não é o crescimento da economia que determina o padrão de vida de um povo.
O fato é que não somente a sigla PIB revela a saúde de uma nação,
outras três letrinhas dizem muito mais sobre padrão de vida: o IDH.
Os constantes recuos – foram seis – das projeções do mercado sobre o
crescimento o Produto Interno Bruto brasileiro para 2011 – estimado
agora em 2,87% – e a previsão do boletim Focus do Banco Central de
redução da expectativa do mesmo PIB também para 2012, próximo dos 3,3%
ou 3,4%, mostram como a mudança de humor da economia brasileira depende
sempre, e cada vez mais, de chuvas e trovoadas fora do território
nacional – mesmo que a presidente Dilma se esforce em dizer o contrário.
Quando 2011 apenas engatinhava, tanto o BC quanto o mercado acenavam
para números próximos de 4,5%. Mas bastou a economia norte-americana
patinar nos últimos dias de julho e Barack Obama conseguir elevar o teto
da dívida – naquele estranho três de agosto – graças a um acordo com os
republicanos, para que o mundo virasse de pernas para o ar. Para
piorar, agências de classificação de risco como a Fitch, a Moody’s e a
Standard & Poor’s chegaram a ameaçar o Triple A dos Estados Unidos. A
crise europeia fez o velho continente sangrar – houve ali rebaixamentos
– e não sabemos se a ferida cicatrizou.
Ao passarmos a Inglaterra para ocupar o posto de sexta economia do
mundo, o ministro da Fazenda Guido Mantega afirmou de forma, digamos,
precipitada – porque irresponsável não lhe cabe – que, em 20 anos, o
Brasil terá um padrão de vida melhor que o da Inglaterra. Não é o
crescimento da economia que determina o padrão de vida de um povo.
A incerteza da economia americana e a crise da moeda europeia mexeram
sim, e muito, no nosso bolso e na expectativa de crescimento do país.
Tomemos como exemplo a Noruega – que teve um PIB de US$ 257,9 bilhões em
2008, de US$ 254,2 bilhões em 2009 e de US$ 255,3 bilhões em 2010. A
análise fria dos números revela aumento e queda próximos de um ponto
percentual. Ou seja, a Noruega está estagnada, certo? Errado. Por outro
lado, o belo, forte e impávido colosso somou, em 2010, quase redondos
US$ 2 trilhões (pelo câmbio atual).
Diferenças entre Noruega e Brasil
Ao falar em padrão de vida, o ministro misturou alhos com bugalhos.
Essa mania de jogar para a torcida é um grande erro. Sob o olhar
equivocado do ministro se poderia dizer que Noruega e Brasil têm pautas
muito semelhantes em sua bolsa de produtos de exportação: trigo, batata,
aves, bovinos e suínos no âmbito da agropecuária; petróleo na mineração
ou ainda máquinas e eletrodomésticos na indústria, por exemplo.
O fato é que não somente a sigla PIB revela a saúde de uma nação.
Outras três letrinhas dizem muito mais sobre padrão de vida. A Noruega –
outra vez ela – lidera o ranking que o italiano Mantega e os demais
brasileiros enxergam de muito longe. Três letras (IDH) que diagnosticam a
saúde econômica e – aí sim – o padrão de educação, renda e expectativa
de vida de um povo. Se fosse uma largada de corrida de Fórmula 1, talvez
sequer notássemos o piloto norueguês disparar na frente. Afinal, largar
do 84º lugar – tendo o Equador na mesma fila e os ariscos São Vicente e
Granadinas e Armênia na fila de trás – não é o perfil de um gigante
pela própria natureza.
Também em relação a dinheiro no bolso, noruegueses deixam brasileiros
comendo poeira. Enquanto a renda per capita desse vizinho da Rússia,
Finlândia e Suécia atingiu os US$ 56.147 em 2010, ficamos aqui, no
florão da América, contando nossas moedinhas para ficarmos com meros US$
10.814 no mesmo período.
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