quinta-feira, 28 de abril de 2011
1º de Maio ...
Celebrar 1º de Maio hoje significa lutar pela retomada da organização autônoma dos trabalhadores |
Escrito por Waldemar Rossi | |
Com
o início da industrialização, lá por volta de 1775, com a criação da
máquina a vapor, surgem duas classes sociais distintas: o Empresariado
Industrial e a Classe Operária.
Aproveitando-se
da forte migração campo-cidade da época em busca de trabalho
assalariado, os empresários passaram a exigir dos seus empregados
jornadas longas, que chegavam a 16 e até 18 horas diárias. Os descansos
dos fins de semanas eram raros. Os salários baixos, o que levava a que
muitas donas de casa fossem para as fábricas, assim como crianças,
visando a melhora do rendimento para o lar.
A
jornada prolongada fazia com que muitos adoecessem, sofressem acidentes
graves e provocou muitas mortes. Foi daí que começaram as reações dos
operários (os que operam as máquinas). As reações iniciais foram
individuais, isoladas, o que permitiu a repressão patronal. Essas
derrotas individuais forçaram o aprendizado de que era necessário
organizar a luta coletiva. Encontros internacionais de trabalhadores
decidiram organizar movimentos pela redução da jornada em todos os
países industrializados: oito horas de trabalho, oito horas de descanso e
oito horas para convívio familiar, atividades sociais e culturais.
No
dia 1º de Maio de 1886, nos Estados Unidos, grande greve paralisou mais
de um milhão de operários. Mais de 100 mil pararam a cidade de Chicago.
Ali houve forte repressão policial, com gente ferida e mortes. Quatro
dias depois uma greve ainda maior, nova repressão, outras mortes e a
prisão de oito dirigentes daquela manifestação. Num julgamento a "toque
de caixa" e com "cartas marcadas", os jurados decidiram pela condenação
dos oito como os responsáveis pelos acontecimentos. Dois foram
condenados à prisão perpétua e um a 15 anos de prisão (Miguel Schwab,
Oscar Neeb e Samuel Fielden). Os outros cinco foram condenados à morte
pela forca em praça pública: August Spies, Albert Parsons, Adolph
Fischer, George Engel e Luiz Lingg - este último preferiu o suicídio na
cela.
As
lutas se intensificaram em todos os países e, aos poucos, as oito horas
foram sendo conquistadas, assim como condições específicas para o
trabalho das mulheres e menores e tantos outros benefícios.
Passados
125 anos, o Capital desfecha novos golpes contra a classe trabalhadora
em todo o mundo capitalista, roubando direitos conquistados com muita
luta e muito sangue derramado. No Brasil não é diferente. Os empresários
querem o fim da jornada de 44 horas.
Na
prática, obrigam seus trabalhadores a jornadas mais longas, superiores
até a 10 horas, inclusive aos sábados, domingos e feriados. Exigem
reformas da Previdência para que os trabalhadores se aposentem após 65
anos (mulheres aos 60) de idade, e um mínimo de 35 anos de contribuição.
Com a rotatividade no emprego, o desemprego e os trabalhos precários,
poucos chegarão à aposentadoria: morrerão trabalhando. Querem o fim do
13º salário, diminuição das férias, eliminação da licença
gestação/maternidade e a livre negociação por empresas para facilitar o
achatamento dos salários e quebrar de vez o papel representativo dos
sindicatos.
Quantos
outros direitos já não vêm sendo surrupiados aos trabalhadores,
disfarçadamente? Um exemplo: a contratação para trabalhar sem registro
por experiência ou temporariamente.
Nossas
esperanças foram depositadas na formação da Central Única dos
Trabalhadores (CUT), em 1983. O momento político da época e o avanço da
consciência da classe trabalhadora foram determinantes para esse novo
passo do conjunto do movimento sindical.
Entretanto,
o empresariado não estava dormindo. Buscou novos aliados e provocou o
racha no movimento dos trabalhadores. Da união do peleguismo comandado
por Joaquinzão com a direção do então PCB, do PC do B e do MR-8, nasce a
divisionista CGT para combater as greves por categorias profissionais
ou mesmo gerais, como vinha acontecendo. Era o esforço para dividir a
classe operária, colocando-a a serviço dos interesses patronais.
Contrariados
com os fracos resultados dessa divisão, os homens do capital
patrocinaram a formação de mais uma central: A Força Sindical (ou Farsa
sindical?). O "sindicalismo de resultados", troca dos dedos por alguns
anéis, levou à capitulação progressiva da direção cutista. Já nos anos
90 percebia-se que a direção da CUT não estava mais interessada em
defender os interesses dos trabalhadores. Sua meta era outra: levar Lula
à presidência da República, a qualquer preço. E esse preço incluía a
passividade do movimento sindical.
Hoje,
estamos assistindo à mais vergonhosa capitulação das centrais sindicais
tradicionais aos interesses do capital nacional e internacional.
Sobretudo a CUT e a Força Sindical - verdadeiras inimigas entre si nos
anos 90 -, tornaram-se cúmplices da entrega dos nossos direitos ao
capital e se unem para abafar a consciência e a memória histórica dos
trabalhadores. Em São Paulo, estão unidas na promoção do show no dia 1º
de maio, a Força, a UGT, CGTB, CTB (esta correia de transmissão do PC do
B) e Nova Central. Show financiado por empresas estatais (Petrobras,
Caixa, Eletrobrás) e muitas empresas particulares (Brahma, Carrefour,
Casas Bahia, Pão de Açúcar, BMG, Banco Itaú, Bradesco*), que financiarão
também 20 carros a serem sorteados durante o show.
O que é, então, celebrar o 1º de Maio, hoje, 125 anos depois dos acontecimentos de Chicago?
É
retomar a organização autônoma dos trabalhadores, a começar pelos
locais de trabalho (fábricas, comércio, hospitais, escolas, unidades
públicas e também nas comunidades), para reforçar os sindicatos que
continuam comprometidos com os trabalhadores; é fazer novas experiências
de organização e de lutas visando a construção de um outro instrumento
de lutas, que não repita os desvios ideológicos como vem acontecendo nos
últimos 20 anos; é entrar nas lutas em defesa dos nossos direitos,
pelas 40 horas semanais, contra as reformas que visam eliminar direitos
conquistados e que estão circulando no Congresso Nacional, entre tantas
outras importantes.
Participe dos atos em memória dos nossos mártires!
É
urgente somar forças com os setores do movimento sindical e popular que
ainda resistem aos ataques do capital e renovar o compromisso de lutar
em defesa dos nossos direitos.
Em São Paulo, ato na Praça da Sé, a partir das 10,00 horas
Atividades
culturais, memória dos 125 anos de lutas e apresentação da pauta de
lutas da Classe Trabalhadora. Patrocínio das Pastorais Sociais, de
parcela do movimento social, dos sindicatos ligados à Conlutas e
Intersindical, Consulta Popular e partidos da esquerda (PSOL, PCB,
PSTU).
Waldemar Rossi é metalúrgico aposentado e coordenador da Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo.
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