Passou despercebida no meio do noticiário sobre as lambanças no novo
concurso promovido pelo Senado, no último final de semana, a informação
sobre os supersalários oferecidos aos felizardos que forem aprovados.
São de dar água na boca: os salários iniciais variam de R$ 13,8 mil a
R$ 23,8 mil para funções como analista de informática, analista de
suporte e enfermeiro. Só isso pode explicar que 157 mil pessoas tenham
se inscrito no concurso para disputar as 246 vagas. Passar neste
concurso é como ganhar na loteria todo mês para o resto da vida.
Conheço pessoas que trabalham nestas funções e nenhuma tem salário
que chega sequer perto destes valores. No mercado dos simples mortais,
de acordo com pesquisa que fiz na internet, os salários mais altos
oferecidos variam de R$ 5 mil a R$ 9 mil para quem tem formação
superior.
O concurso foi organizado pela Fundação Getúlio Vargas, a respeitável
FGV, mesma instituição responsável pelo projeto de reforma
administrativa do Senado que deverá ser votada nesta quarta-feira na
Comissão de Constituição e Justiça, depois de se arrastar por mais de
dois anos e receber várias modificações.
É uma farra: pela proposta original, o número de cargos comissionados
para o gabinete de cada um dos 81 senadores passaria dos atuais 12 para
25. Os senadores acharam pouco: agora, o projeto que será votado prevê
que cada um poderá empregar 55 servidores.
Como quem paga somos nós, eles não estão preocupados com as despesas.
No ano passado, o Congresso Nacional custou aos brasileiros R$ 6,2
bilhões (um terço desta bolada foi para o Senado).
Com as novas contratações previstas, os gastos devem aumentar
bastante este ano. Até o dia 2 de março, segundo a última informação
oficial divulgada pela Secretaria Especial de Comunicação Social do
Senado, trabalhavam lá 8.905 funcionários. Como o novo trem da alegria
prevê a criação de mais 246 vagas este número passará de 9 mil.
Trabalhar, claro, é modo de dizer, porque boa parte deles não precisa
bater ponto, fica à disposição dos senadores em seus Estados de origem,
faz cursos no exterior ou trabalha full-time em empresas privadas.
Para quem se assustou com os salários oferecidos, é bom saber: tem
gente lá ganhando bem mais. Auditoria do Tribunal de Contas da União
mostrou que 464 servidores ganham desde 2009 acima do teto do
funcionalismo (R$ 24,5 mil). Tem funcionário que chega a ganhar R$ 46
mil, segundo o TCU.
O site Congresso em Foco chegou a publicar a relação completa destes
marajás e agora seus jornalistas estão sendo processados pelos ditos
cujos.Por falar em marajás, o ex-presidente e atual senador Fernando
Collor (PTB-AL) abriga em seu gabinete 54 funcionários comissionados.
É como se o Senado Federal fosse um mundo à parte do resto do Brasil e
a nós só cabe pagar as contas. No momento em que milhões de brasileiros
preparam suas declarações de imposto de renda e descobrem quanto do que
ganham vai para os cofres públicos, é duro ficar sabendo como o
dinheiro sai de lá sem controle para bolsos privados.
Parece que as excelências e seus exércitos de funcionários bem
remunerados não aprenderam nada com a crise institucional de 2009,
quando foram denunciados os atos secretos que camuflavam a nomeação de
parentes dos senadores e escondiam os fantasmas nos armários do Senado.
É nestas horas que a gente se pergunta: para que serve mesmo o Senado
Federal? Para que quase 9 mil funcionários "trabalhando" para 81
senadores (dá mais de 100 por cabeça)? Até quando vamos ficar bancando
esta farra com o dinheiro público, quer dizer, com o nosso dinheiro?
Calma, pessoal, que ninguém está propondo o fechamento de uma das
casas do Congresso Nacional. Queremos apenas que eles trabalhem mais e
gastem menos. Chega de farra. A democracia não pode virar uma festa do
caqui.
Ricardo kotscho
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