Juiz empregava a sua mulher no gabinete, que resolvia problemas domésticos no expediente
Felipe Recondo e Ricardo Brito, de O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - As denúncias de venda de sentença no Tribunal
de Justiça de Tocantins (TJ-TO) e investigadas pelo Superior Tribunal
de Justiça (STJ) revelaram um caso explícito de nepotismo. As
investigações mostram que o desembargador Amado Cilton Rosa empregava
sua mulher, Liamar de Fátima, em seu gabinete. Dentro das atribuições,
Liamar tinha que resolver os problemas domésticos no horário do
expediente.
No gabinete, de acordo com o desembargador, sua mulher trabalhava
apenas quatro horas por dia. Liamar de Fátima admite o expediente
reduzido, mas diz que, em certos dias, seu expediente chegava a oito
horas corridas. Mas nesse período, contava o tempo que passava
resolvendo os problemas domésticos ou pessoais de seu marido.
"O desembargador é um homem que não sabe usar um talão de cheque, por
incrível que pareça. O desembargador, se o senhor colocar ele na frente
de um caixa eletrônico, ele não sabe para o que serve", contou Liamar
de Fátima ao ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) João Otávio
de Noronha, relator do processo.
"Quer dizer que a senhora faz o serviço doméstico no seu horário de
trabalho?", questionou Noronha. "Sim, porque a gente não tem outro
horário", admitiu Liamar. "Na maior parte das vezes, realmente, eu vou
entre sete e meio dia. Saio e muitas vezes não retorno mais", disse
Liamar de Fátima no depoimento. "Por exemplo, se na segunda-feira está
tudo bem na minha casa (...) eu vou das sete às duas. Mas se eu tiver
que fazer alguma coisa para o desembargador fora do gabinete, eu não
volto (para o tribunal)", disse.
Liamar de Fátima disse que não sabia exatamente quanto recebia do
tribunal por essa jornada dupla. "Eu não tenho curiosidade de pegar meu
contracheque para ver o que é que eu recebo nele. Eu não tenho essa
curiosidade", ela explicou. No depoimento, ela disse que ganha "seis mil
e alguma coisa".
Desde o início da semana, o jornal O Estado de S. Paulo
tem revelado uma série de detalhes das investigações feitas ao longo de
quatro anos pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal
sobre um amplo esquema de corrupção no Judiciário tocantinense. O
esquema envolveria irregularidades no pagamento de precatórios, a venda
de sentenças, com a suposta participação, em um caso, da mulher de um
desembargador, a apropriação indevida de parte dos salários de
servidores e até um caso de censura ao jornal.
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