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sexta-feira, 2 de março de 2012

"Justiças"


Vianópolis, Goiás _ Luzia Rodrigues Pereira, 74 anos, agricultora aposentada com R$ 622 por mês, passou 31 horas presa na cadeia pública desta cidade de 12 mil habitantes, no interior goiano, por não conseguir pagar pensão alimentícia aos quatro netos.
 
aposentada presa O drama de Luzia e a morte no Hopi Hari

Vinhedo, São Paulo _ Até o momento, não se tem notícia de que alguém tenha sido responsabilizado, punido ou preso pela morte da adolescente Gabriela Nychymura, de 14 anos, morta na última sexta-feira (24) ao cair de uma altura de 25 metros porque a trava de segurança de um brinquedo do Hopi Hari não funcionou.
As histórias sobre estes dois dramas humanos foram publicadas em páginas diferentes da Folha desta sexta-feira (02). Se estivessem lado a lado, mostrariam como somos não apenas um País ainda muito pobre, mas profundamente injusto, acima de tudo.
A idosa só foi libertada na tarde de quarta-feira (29) depois que a sua advogada e moradores da cidade juntaram os R$ 1.588 que devia à nora. Luzia paga pensão há três anos por decisão da Justiça porque seu filho está desempregado e não é localizado. Nos últimos seis meses, deixou de pagar a pensão à ex-nora por falta de dinheiro, e por isso foi presa, segundo relato do repórter Léo Arcoverde.
O problema de Luiza é não ter recursos para contratar um advogado como Alberto Toron, uma das mais caras estrelas da advocacia criminal, agora a serviço dos proprietários do Hopi Hari,  poderosa empresa do ramo de diversões, controlada desde 2009 pela Integra Associados, que recebe 2 milhões de visitantes por ano.
Ao contrário de Luzia, os anônimos investidores responsáveis pelo Hopi Hari não correm o menor risco de ir para a cadeia, como o celébre comandante Schettino, do navio Costa Concórdia, que foi em cana na mesma noite do acidente e está até hoje em prisão domiciliar.
hopi hari O drama de Luzia e a morte no Hopi Hari

"Advogado de parque culpa funcionários por acidente", informa o título da matéria da Folha.
Tolon provavelmente nunca foi brincar no Hopi Hari e não conhece o seu funcionamento, não tem a menor ideia do que aconteceu no dia da morte da menina de 14 anos, não participou da perícia policial, mas já decidiu: seus clientes são inocentes. Está no seu papel. E nem o nome do diretor responsável pela manutenção do Hopi Hari foi divulgado a pedido do parque.
"O erro não é do parque. O erro pode ser de funcionários. Há uma diferença muito grande. O parque sempre se conduz com muita correção. Pode ser que um ou mais funcionários tenham errado", foi o seu veredicto, mesmo depois de a direção do Hopi Hari admitir que o acidente ocorreu em razão de uma "sucessão de falhas".
O parque foi fechado ontem para que, finalmente, seja feita uma perícia em todos os brinquedos. Dois funcionários revelaram à polícia que, 15 minutos antes do acidente, alertaram um supervisor do Hopi Hari sobre problemas na trava de segurança da cadeira onde estava a menina.
Na verdade, ficamos sabendo agora, pelo advogado Alberto Toron, que esta cadeira estava com defeito e desativada havia dez anos. Dez anos! E a culpa é dos funcionários... "O Hopi Hari faltou com o dever de informar de forma precisa que a cadeira era inoperante", disse a promotora Ana Beatriz Vieira, que apura a responsabilidade do parque.
Neste País pobre e injusto em que vivemos, é mais fácil Luzia voltar para a cadeia, se não puder pagar a pensão aos netos com a fortuna que ganha de aposentadoria, do que um dia o Schettino do Hopi Hari, com o advogado que contratou, ser julgado e condenado pela Justiça brasileira.

Ricardo Kotscho

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