Eduardo Guimarães
Mais uma vez, o país assiste a um escândalo de corrupção desalentador
porque insinua que em toda parte do espectro político há gente com o
rabo preso. Políticos adversários se defendem mutuamente de acusações de
corrupção. Corporativismo? Pode ser. Mas por que é tão difícil o
Congresso aprovar uma CPI da Privataria ou essa, agora, do Senador
Cachoeira?
Porque há atores de todos os partidos mais importantes envolvidos, o
que não pode ser tomado como culpa das agremiações mas denota um
apodrecimento do nosso sistema político. Quando escroques como um
Carlinhos Cachoeira ou um Marcos Valério transitam do PSDB ao PT com
toda a desenvoltura que se viu da década passada para cá, algo está
muito podre.
De onde vem tudo isso? Simples: do financiamento privado de campanhas
eleitorais. É aí que interesses privados conseguem se fazer
representar. É aí que as grandes corporações conseguem ferrar o
consumidor. É aí que uma igreja picareta consegue se transformar em uma
das bancadas mais fortes do Congresso.
Por que um banco dá dezenas de milhões de reais a campanhas
eleitorais? Patriotismo? Como verdadeiras organizações criminosas
conseguem fundar partidos políticos e influírem e negociarem leis ou
impedirem investigações incômodas?
Como os políticos precisam de dinheiro para se eleger, de quantidades
astronômicas dele, grupos que têm sobrando aquilo de que precisam
financiam-nos e, assim, sempre terão, no mínimo, que ser ouvidos, apesar
de, frequentemente, só representarem meia dúzia de empresários.
Demóstenes Torres e José Roberto Arruda, por exemplo – e não me
venham falar de políticos que não têm contra si uma fração daquilo que
há contra esses dois. Como chegariam aonde chegaram sem que escroques os
financiassem?
É óbvio que a proibição expressa de dinheiro privado em campanhas
eleitorais e o estabelecimento de um teto para financiamento delas –
que, sem dúvida, seria respeitado porque candidatos adversários
fiscalizariam um ao outro –, seria a solução. Todavia, os detentores de
enorme poderio financeiro deixariam de manipular o Estado brasileiro.
É por isso que nenhum grupo de mídia põe discussão como essa em
pauta, assim como todos impedem a discussão de uma legislação para a
comunicação que existe em todos os países mais desenvolvidos.
Imagine, leitor, se os planos de saúde ou as empresas de telefonia
conseguiriam abusar da sociedade como abusam se não colocassem suas
bancadas no Legislativo para bloquearem medidas de proteção ao
consumidor que não aprovar é um escândalo, mas que não são aprovadas
porque esses grupos de interesse têm milícias de parlamentares para
defendê-los.
Imagine, leitor, uma campanha em que os candidatos de todos os
partidos disputassem em estrito pé de igualdade, sem que os mais ricos
atraíssem público com trios elétricos e outras baboseiras financiadas
por grupos de interesse que obviamente quererão ressarcimento do eleito.
É por isso que, nos países mais desenvolvidos – quase todos da
Europa, mas também da Ásia –, o financiamento é público. Nem misto pode
ser. Precisa ser estritamente público.
Todavia, os grupos de interesse, usando a mídia, conseguem fazer
valer o mesmo estratagema que os americanos criaram, de tachar o
financiamento público como doação do cidadão ao político, a qualquer
político, falácia que esconde que quando não é o dinheiro público que
financia as campanhas é o grande capital privado que vence a eleição.
Tem muito classe média, por aí, que acha que o seu lado é o lado do
grande capital. Esse tonto já deve ter sido estafado pelo seu plano de
saúde ou pela sua operadora de telefonia. E muito mais.
Então, meu caro companheiro leitor, o fato é que a corrupção na
política poderia ser drasticamente reduzida, do dia para a noite, mas é a
minoria da minoria da classe política que aceita sequer discutir o
assunto. E, assim mesmo, boa parte desse grupo prega sistema misto
(financiamentos público e privado misturados), o que não muda nada.
Enquanto o atual sistema de financiamento da democracia perdurar,
estaremos condenados a ficar nos escandalizando o tempo todo com a
ousadia que a promiscuidade entre o capital privado e o sistema
eleitoral gera. A corrupção política é uma opção que fez esta sociedade.
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