Abandonado pelos seus pares do DEM e do que restou da oposição
parlamentar no Congresso Nacional, o ainda senador Demóstenes Torres
(sem partido-GO) só encontra apoio em alguns setores da imprensa e
agora joga todas as suas fichas no Judiciário, pois sabe que não tem
como escapar da cassação do mandato. É tudo só uma questão de tempo.
Chega a a ser comovente o empenho de alguns jornalistas em variadas
mídias para separar o Demóstenes AC (Antes de Cachoeira), o implacável
combatente contra a corrupção, do Demóstenes DC (Depois de Cachoeira),
como se isso fosse possível.
Não tem essa história de antes e depois: Demóstenes e Cachoeira são
umbilicalmente ligados faz muito tempo, atuavam juntos em atividades
clandestinas e um cumpria ordens do outro, segundo as gravações feitas
pela Polícia Federal.
Tratado agora como um traidor, Demóstenes sempre foi um impostor, e
só se deixou enganar por ele quem o considerava um aliado útil contra o
governo, independentemente dos seus objetivos. Agora não adianta chorar.
Tanto que nem o senador nem o seu advogado até hoje apareceram na
imprensa para defender a sua inocência, mas apenas para negar a validade
das provas obtidas nas escutas telefônicas.
A atividade criminosa pela qual Demóstenes está sendo denunciado é
concomitante à sua ativade como parlamentar, na qual se destacou como
grande ator, de acordo com seu ex-parceiro Sergio Guerra, presidente do
PSDB, que gostava de vê-lo "de dedo em riste".
A tragédia greco-goiana das duas vidas no mesmo personagem
protagonizada pelo senador só se tornou pública porque ele tinha certeza
de que nunca o iriam pegar.
De um lado, confiou na alta tecnologia do telefone Nextel à prova de
grampos, que ganhou do bicheiro; de outro, tinha certeza da impunidade,
garantida por seus fortes laços de amizade na alta cúpula do Judiciário e
pela teia de apoios montada pelo seu cúplice na área político-policial.
Pois agora é exatamente na Justiça que Demóstenes emprega todos os
seus esforços para evitar a cadeia. Ainda nesta terça-feira, como
informa a colega Marina Marquez, do R7, em Brasília, a defesa do senador
vai entrar com uma ação no Supremo Tribunal Federal pedindo a anulação
das provas apresentadas pela PGR (Procuradoria-Geral da República).
A defesa se resume nisso: ao incluir no inquérito contra o senador as
gravações entre Demóstenes ( o Doutor) e Cachoeira (o Professor)
obtidas durante a Operação Monte Carlo, a Polícia Federal estaria
"usurpando" as funções do STF, já que o orgão não autorizou qualquer
investigação contra o senador.
Também hoje, o Conselho de Ética do Senado se reunirá para eleger seu
novo presidente, primeiro passo para a abertura de um processo contra
Demóstenes.
O problema é que o STF negou aos senadores cópia do inquérito da
Polícia Federal, o que inviabiliza o processo na Comissão de Ética e
praticamente obriga o Senado a instalar uma CPI. Só assim os
parlamentares poderão ter acesso às provas.
Se tudo der certo, ainda assim levará pelo menos uns três meses para
que o processo de casssação de Demóstenes Torres seja julgado no Senado _
o tempo com que ele conta para que todo mundo esqueça o que aconteceu e
o STF anule as provas.
"Se conseguirmos trancar as provas, este inquérito estará morto", já comemorava previamente o advogado Almeida Castro.
É bem possível, pelos antecedentes que conhecemos, que o procurador
Demóstenes livre-se das garras da Justiça. Mas nem ele acredita numa
absolvição política no Senado, onde virou um estorvo, um morto vivo sem
chances de ressuscitar.
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