O poder de convencimento da palavra escrita foi uma das maiores conquistas da razão humana. Poder
articular argumentos, abstratos e concretos, vincular premissas a
conclusões, promoveu as maiores conquistas do conhecimento humano.
Mas a
palavra separada da ação e da realidade concreta sempre trouxe embutida
também o risco da autonomização da linguagem em relação ao mundo. Quando
os que trabalham com a palavra se autonomizam da realidade, tornam a
linguagem um fim em si mesmo, desnaturalizam o papel da palavra, de
expressar o real, de desvendar seus significados, de descrevê-lo poética
ou dramaticamente.
A
manipulação midiática que preside os meios de comunicação dos nossos
países tem nesses mecanismos seu instrumento essencial. Dizer qualquer
coisa e não responder no dia seguinte pelo que se disse, dado que se
trata de meios perecíveis em poucas horas. Prever catástrofes, fazer
denúncias, difundir clichês – todas essas medidas desmoralizam o poder
da palavra.
Prostituem a
palavra, a linguagem, fazem dela instrumento de enganação, de ilusão. A
quantidade de crônicas diárias na imprensa – nos editoriais de
política, de economia, nos suplementos (supostamente) culturais – que
vivem das palavras vazias, dos discursos fechados, que remetem a si
mesmos, com lógicas redondas, que retornam sempre a premissas não
demonstradas – é infinita.
Desmoralizar
as palavras serve a quem não quer demonstrar nada, não quer decifrar
nada. Ao contrário, se valem da linguagem para camuflar a realidade, os
interesses que a articulam, de onde estão escrevendo, quem os paga, a
quem devem o espaço público que tem.
É uma
ilusão, então, crer que a palavra serve para expressar coisas. Ela pode
servir para esconder as coisas, camuflar a realidade, como acontece
tanto na mídia.
Recuperar o
prestígio da linguagem, da palavra, é acopla-la à realidade, fazer dela
instrumento de desvendamento do real, de expressão dos sentimentos e
valores humanos, na contracorrente atual.
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