Instituto Akatu
Você sabe o que significa obsolescência programada? Esse “palavrão”
faz muito mais parte da vida das pessoas do que se pode imaginar. A
produção de bens para durarem um período menor do que a sua vida útil é o
foco de um dos filmes exibidos na 1ª Mostra Ecofalante de Cinema
Ambiental, realizada em março deste ano, em São Paulo.
O documentário “The Light Bulb Conspiracy” (“Comprar,
trocar, comprar”, Espanha/França, 2009) traz à tona a discussão sobre o
modelo atual de produção e consumo e foi mote do debate sobre consumo
promovido na Mostra, no dia último dia 18, no Cine Livraria Cultura, em
São Paulo. O público pode trocar impressões sobre diversos aspectos
relacionados ao consumo com Cosima Dannortizer, diretora do
documentário, Helio Mattar, diretor-presidente do Akatu, e Lisa Gunn,
coordenadora executiva do Idec – Instituto Brasileiro de Defesa do
Consumidor.
Se na década de 1920 já era possível produzir uma lâmpada com vida
útil de 2.500 horas por que hoje elas duram 1.000 horas? Com questões
como esta, o documentário discute práticas de empresas que produzem
artigos de consumo com prazo de validade inferior ao que a tecnologia
pode oferecer em durabilidade. O objetivo é provocar uma substituição
mais rápida do produto, o que movimenta a produção e gera empregos.
O filme aborda também como a publicidade vende a atualização
tecnológica constante como artifício para a busca de felicidade. Expõe
ainda como os altos índices de descarte de produtos e a falta de
políticas apropriadas de destinação de resíduos geram enormes
quantidades de lixo eletrônico, que acaba por ser descarregado, por
exemplo, em países como Gana, na África. Na foto, extraída do
documentário, é possível ver crianças em meio a uma montanha de
computadores, teclados, monitores e telefones celulares. É uma imagem
forte que nos provoca a refletir sobre os impactos ambientais,
econômicos, sociais e de saúde que a ausência de políticas e
procedimentos adequados para o descarte pode causar, e que são
acelerados quanto mais curta é a vida útil dos produtos descartados.
Responsabilidade compartilhada
Durante o debate, como síntese da mensagem do documentário, a
diretora ressaltou que apesar dos dados serem alarmantes, a mobilização e
o comprometimento das pessoas comuns pode fazer diferença, levando a
mudanças que podem ser estruturais. Reforçando a importância dos
pequenos atos individuais de consumo e da sua multiplicação pelo
conjunto de consumidores, afirmou: “Podemos assumir uma postura de
vítimas, de colocar as empresas todas como más e não fazermos nada. Ou
então podemos tomar para nós alguns papeis nessa transformação e
repensar o nosso consumo. A responsabilidade por essas mudanças é
compartilhada”.
Helio Mattar enfatizou que o “The Light Bulb Conspiracy” e
os demais filmes da programação sobre consumo trazem especialmente a
reflexão sobre falta de informação a respeito da cadeia produtiva dos
produtos. “Saber que uma empresa usa trabalho escravo, ou que não cuida
do seu lixo, pode nos levar a deixar de comprar um produto desta ou
daquela marca. O consumidor pode valorizar ou desvalorizar as práticas
das empresas por meio das suas opções de compra, desta forma
contribuindo para a mudança do modelo vigente. Mas as pessoas ainda têm
dificuldade de acreditar que os seus atos de consumo são poderosos
instrumentos políticos. O Akatu trabalha para mobilizar esse potencial
transformador das pessoas, que por meio de seus atos de consumo
consciente podem construir um futuro sustentável para a vida no
planeta”, complementou.
Lisa Gunn, do Idec, lembrou que o Brasil demorou 21 anos para aprovar
a Política Nacional de Resíduos Sólidos e as discussões para a sua
regulamentação estão ainda acontecendo. “Vivemos um desafio urgente
neste momento, o da crise ecológica. Mas o tempo para discussão e
implementação de medidas estatais nesse âmbito é enorme e a pressão das
empresas é grande. As pessoas têm um papel decisivo nessas mudanças”,
disse.
No site oficial da Mostra já é possível acessar o conteúdo completo dos debates.
(Instituto Akatu)
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