Quer dizer que o cara passou sete anos num dos cargos mais importantes da prefeitura de São Paulo, investiu R$ 50 milhões na compra de 106 imóveis e ninguém percebeu nada de estranho?
Indicado pelo então vice Gilberto Kassab e nomeado pelo prefeito José
Serra, em 2005, para comandar o Departamento de Aprovação de
Edificações (Aprov), justamente o orgão responsável pela liberação de
empreendimentos imobiliários na cidade, o funcionário público aposentado
Hussain Aref Saab só foi afastado do cargo no mês passado, assim mesmo
graças a uma carta anônima enviada à prefeitura.
Na origem da denúncia que chegou só hoje à manchete dos jornais, nada
de Ministério Público ou Corregedoria Geral do Município, que agora
cuidam de investigar as suspeitas de corrupção. Até estranhei quando vi
que o novo escândalo denunciado na imprensa aconteceu em São Paulo, um
fato raro.
Só ficamos sabendo que Aref multiplicou por dez seu patrimônio,
passando de proprietário de 12 imóveis, quando assumiu o cargo, para 118
este ano, por conta da carta de um "cidadão extorquido e indignado",
como ele se apresentou ao prefeito Gilberto Kassab, em fevereiro deste
ano.
Na carta, o denunciante relata que havia até uma tabela para a
cobrança de propina na aprovação de projetos, com valores que variavam
de R$ 10 mil a R$ 400 mil, segundo a matéria publicada pelos repórteres
Evandro Spinelli e Rogério Pagnan, na Folha desta segunda-feira. Durante
45 dias eles pesquisaram o registro dos imóveis de Aref em cartórios do
Estado de São Paulo.
O funcionário investigado e o prefeito Gilberto Kassab, que o
indicou, se recusaram a falar sobre o assunto. Hussain Aref Saab, de 67
anos, tem um salário mensal bruto de R$ 9,4 mil na Prefeitura, incluindo
a aposentadoria.
O advogado Augusto de Arruda Botelho, que cuida da defesa do
ex-diretor, alega que Aref recebeu 11 imóveis de herança do pai (a Folha
só encontrou o registro de três, nos quais ele tem direito a 1/12) e
possui participação num estacionamento da família no Morumbi. Antes de
assumir a direção do Aprov, o funcionário tinha um patrimônio avaliado
em R$1,5 milhão.
A pergunta que fica é como um funcionário que ocupava cargo de
confiança conseguiu fazer esta multiplicação de imóveis durante tanto
tempo sem que ninguém na prefeitura tivesse a curiosidade de saber qual
era o milagre. Perto dele, Cachoeira e Demóstenes ficam parecendo
amadores.
Com a Lei de Acesso à Informação, que entra em vigor nesta
quarta-feira, agora todos os brasileiros poderão fiscalizar os governos,
obrigados a fornecer informações em 30 dias. Quem sabe desta forma
casos como o do funcionário público que ficou milionário sem ganhar na
loteria possam ser descobertos em menos tempo, sem precisar de cartas
anônimas.
Na mesma edição do jornal, foi publicada uma carta do leitor Gilberto
Giusepone, mostrando que, apesar de tudo, o paulistano ainda não perdeu
o bom humor, ao citar os dois responsáveis pela nomeação de Hussain
Aref Saab, este gênio dos negócios imobiliários:
"O prefeito Gilberto Kassab diz que José Serra o ensinou a governar.
Pelo desempenho nas pesquisas, ou Kassab é mau aluno, ou Serra é péssimo
professor".
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