Isabela Vieira, da Agência Brasil
Ações de pacificação, obras de urbanização e projetos sociais não são
suficientes para dar segurança aos moradores de favelas cariocas. Com
as melhorias, eles temem agora não ter condições de se manter nos atuais
endereços, valorizados pela nova realidade que a expulsão das
quadrilhas de traficantes traz para essas comunidades.
O aumento do
custo de vida e a especulação imobiliária já provocam reflexos em um
processo que vem sendo chamado de “remoção branca” ou “remoção
camuflada” pela socióloga Marilia Pastuk.
Superintendente da organização não governamental Ação Comunitária do
Brasil no Rio Janeiro, Pastuk lançou o livro A Favela como Oportunidade –
Plano da Sua Inclusão Socioeconômica. A publicação apresenta um retrato
das favelas do Cantagalo, Pavão e Pavãozinho e da Rocinha, na zona sul
do Rio de Janeiro, além de Manguinhos e Borel, na zona norte.
Na publicação, a socióloga destaca “a pressão” que as melhorias na
infraestrutura e o combate ao tráfico de drogas causaram nas
comunidades. Explica que moradores temem perder os imóveis porque ainda
não têm o documento de posse e que reclamam do peso, no orçamento
familiar, da cobrança por serviços essenciais como água e luz que, antes
da pacificação, eram acessíveis por meio de ligações clandestinas.
“As pessoas são compelidas não mais pelo Estado, mas pelo mercado.
Eles [os moradores] não conseguem segurar o custo de vida [porque não
tiveram aumento de renda proporcional] e, por medo de perder seus
imóveis para a especulação imobiliária, acabam se transferindo [para
áreas mais pobres]“, explicou Marilia Pastuk.
Segundo a socióloga, o Poder Público precisa acelerar o processo de
regularização dos imóveis das favelas, além de apoiar ações voltadas à
geração de renda, como o turismo. A Rocinha, por exemplo, está
localizada em uma das áreas mais nobres da cidade, com vista
privilegiada para a orla, o Cristo Redentor e a Lagoa Rodrigo de
Freitas. Lá, o turismo já atrai cerca de 3 mil pessoas por mês.
Porém, a atividade turística beneficia apenas um segmento
minoritário, segundo a pesquisadora. “As agências de turismo raramente
estabelecem um diálogo com as instituições representativas da comunidade
e, portanto, não promovem a distribuição efetiva dos lucros”.
Com pesquisas sobre o setor e as vocações econômicas das comunidades,
o turismo pode impulsionar o desenvolvimento econômico de outros
segmentos, como a produção de uniformes para guias e para rede de hotéis
e pousadas. As peças poderiam ser produzidas pelas costureiras da
própria favela, aproveitando a experiência da comunidade no ramo da
moda.
(Agência Brasil)
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