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quarta-feira, 6 de agosto de 2014

O estranho caso do juiz que manteve manifestantes na cadeia por eles serem da “esquerda caviar”

Fábio Hideki
Fábio Hideki

Fábio Hideki Harano e Rafael Lusvarghi não portavam explosivos, afirmou laudo técnico do Gate (grupo anti-bombas da PM) e do Instituto de Criminalística.
Um levava uma lata de spray fixador de tintas em tecidos e o outro um frasco de achocolatado.

Presos no último dia 23 de junho em um protesto contra a Copa, permanecem encarcerados e o laudo é uma atenuante mas a liberdade ainda parece longínqua. Segundo a Secretaria de Segurança Pública, os falsos explosivos não são as únicas provas. Pesam ainda danos ao patrimônio, associação criminosa, desobediência e resistência.

Na última sexta-feira, ambos tiveram mais um pedido de liberdade negado. O juiz Marcelo Matias Pereira, da 10ª Vara Criminal, reafirmou que trata-se de “black blocs que atentam contra os poderes constituídos, desrespeitando as leis e os policiais que têm o dever de preservar a ordem, a segurança e o direito de manifestação pacífica.”

E mais, que como black blocs não passam de “esquerda caviar”.

“Além de descaradamente atacarem o patrimônio particular de pessoas que trabalham para conquistá-lo, sob o argumento de que são contra o capitalismo, mas usam tênis da Nike, celular, postam fotos no Facebook e até utilizam uma denominação grafada em língua inglesa, bem ao gosto da denominada esquerda caviar.”

O juiz se baseia, e julga, em laudos e provas e testemunhos concretos ou conforme sua ideologia política?

A patética definição rodrigoconstantinesca subiu na tribuna. O neologismo que visa desqualificar a ideologia socialista é sacado sempre que possível, sobretudo em atos individualizados.

Um socialista que sonegue impostos suja a ficha de todo mundo. Mas um capitalista não? Se ele o fizer, está dentro do previsto? É isso?

É curioso que se veja “hipocrisia naqueles que defendem causas nobres muito mais para parecer ‘legal’ que por causa dos resultados concretos daquilo que prega” (autor supra-citado). Uma coisa não exclui a outra, é tão difícil assim entender?

Segundo esse raciocínio, a madame dos jardins que ajuda uma instituição social também está sendo hipócrita. Por sua tendência político ideológica individualista não deveria ajudar ninguém. Ou podemos denúnciá-la como “direita cachaça”.
Desprovido de provas concretas, o juiz Marcelo Matias Pereira resolveu mirar no abstrato.

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Você, leitor, está descalço e com uma folha de parreira escondendo os genitais? Não? Sinto informar, você é esquerda caviar.


O juiz Marcelo Matias Pereira

O juiz Marcelo Matias Pereira
Sobre o Autor
Jornalista, escritor e fotógrafo nascido em São Paulo.

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