Português/Español
Por Miguel Lisanti.
Ana, quando se olha na água que corre,
sabe, como Heráclito, que não será a mesma Ana. Mas, seu nome sempre se
vê igual, se lê como no espelho, do mesmo modo.
Ana sempre é a mesma, mas não… Ana é a
mesma menina que morava em Cartago nos tempos do Império Romano, e é a
mesma criança do Incêndio de Roma, na época daquele imperador
maluco. Ana depois se escondeu nas muralhas de Tróia, quando as sete
vezes derrubaram seus muros. E Ana esteve oculta em uma das destruições
de Jerusalém pelos persas.
Ana esteve oculta no desembarque dos
genocidas de Cortés, e depois nas explosões do Cerro Potosí, e salvou-se
dos milhões de mortos pela prata.
Ana esteve nos túneis de Barcelona e em Guernica mas, oculta, e esteve em Hiroshima e em Bagdá.
Ana nunca morre, é a mesma criança que
segue escrevendo o diário de meninas inocentes, esta noite dorme numa
faixa, ali, no sótão de La Casa de Atrás.
Ana escreve mas, agora o faz
ao contrário, da direita para a esquerda, como ao contrário é a
história, agora o Gueto é invertido. Esta noite , se termina a trégua, Ana
escreve naquele sítio. Amanhã tocará a sirene novamente e verá como há
milhares de anos vê, que crianças morrem… Ana escreve o que todos sabemos
que acontece, seu diário nunca termina, Ana Frank é assim, é
testemunha, é correspondente de mortes….
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