Por Raul Fitipaldi, para Desacato.info.
O Capitalismo Transnacional, através de
três de suas marcas mais importantes: França, Estados Unidos e Israel,
está escrevendo uma das suas páginas de amedrontamento global mais
intensas. No entanto, não se trata de um roteiro novo. A chacina
acontecida em Paris, cujos supostos assassinos foram “neutralizados”,
tal o eufemismo de moda, teve um roteiro de imprensa focado, agressivo,
impudico e certeiro. Produziu os efeitos necessários, ao menos, nos
primeiros dias.
As armas mortíferas da comunicação, como
Agence France-Presse (AFP), EFE, Reuters e Asociated Press (AP),
funcionaram com as doses intensivas necessárias para orientar os
assediadores midiáticos mundiais, no tamanho do choque bacteriológico
que deveriam produzir as tevês, jornais e do choque viral da mídia
eletrônica. Todos cumpriram até a saciedade com o papel que lhes
incumbe: globalizar o terror, internalizar o medo.
Os altos funcionários dos governos, dona
Dilma incluída, cumpriram seu papel de forma satisfatória e não há o
que reclamar da categoria jornalística, em particular a europeia
ocidental que, majoritariamente, não fugiu uma linha da pauta
transnacional imperialista.
Escreveram-se em 72 horas, toneladas de
artigos, notícias, pseudonotícias, vulgaridades, digressões, anátemas,
análises filosóficas e tem se invocado a cultura “democrática pacífica
ocidental dos impérios” para que modelem os critérios para sofrer, se
associar na dor e, se possível – e sempre é possível -, ocidentalizar a
vingança.
Do inocente e casual vídeo (?) dos
criminosos até as conversas telefônicas com o rapaz negro que fez reféns
numa loja judaica, tudo tem que ter uma pátina mais ou menos crível.
Precisamos conceder, via nossos outros e humanos medos, essa maquiagem
de credibilidade, aceitando, sem convicção que assim aconteceram os
fatos e espantando-nos a milhares de quilômetros, como se, por passe de
mágica, estivéssemos na lutuosa e, sobretudo, charmosa Paris.
Uma vez concedida a credibilidade aos
meios transnacionais e aos seus gerentes governamentais, estaremos
prontos para iniciar uma guerra pelo modelo ocidental de vida. O que
vier, por colocarmos a cabeça no buraco, fica por conta dos donos de
tudo. E pode ser qualquer coisa que lhes sirva para produzir mais medo
ainda, institucionalizá-lo de tal forma, torná-lo tão violento que, ante
esse assédio não consigamos, por temor, perturbação, estafa,
necessidade, perseguição contínua, miséria econômica, desvio moral,
inocência, estupidez, ignorância… aceitar a exploração à qual estamos
submetidos. Para isso servem estes exercícios de terror protagonizados
pelas potências ocidentais ou seus engendros funcionais.
O assédio dos monopólios globais de
comunicação de massa é o mais permanente assédio que a população de
qualquer ponto do planeta sofre. Não e suficiente desligar a TV, seremos
assediados pela rádio, pela capa dos jornais, pela internet, no
celular, em casa, na padaria, na dependência púbica, no ônibus, e as
cotas de assédio que faltarem, as multinacionais as acionarão via
telefone convencional, outdoors, espetáculos diversos, como este, no
qual se transformou a chacina de Paris.
Quando compramos produtos de marca
internacional tipo tênis Nike, Reebok, ou comida lixo Mac ou Big,
estamos comprando ou comendo produtos do assédio moral que as
transnacionais executam em armadoras de peças ou lojas de exploração que
funcionam por pressão e medo. Muitas dessas fábricas de tortura são
recebidas como a solução à pobreza pelos governos desenvolvimentistas e a
qualquer custo. Ao comprar uma blusa de marca internacional,
certamente, nos estamos vestindo com uma peça terminada por uma menina
escravizada e amedrontada, na fronteira mexicana com o Império ou nos
“ex-tigres asiáticos”. Para isso serve o medo, para domesticar os
trabalhadores empregados, sub-empregados, contratados e marginalizados.
O assédio é o ingrediente fundamental na
argamassa do medo com o qual se domina o Mundo para expandir a peste
capitalista. Esse medo precisa ser lembrado com roteiros que incluem
desde o simulado “choque de civilizações” até o patrão que insulta,
ameaça e destrói as conquistas trabalhistas (especialmente quando
explora indígenas, negros, mulheres e todos, na medida do possível, com
baixa escolaridade). Esse assédio afirmado na narrativa dos meios de
desinformação e modelagem da cultura, nos consome e nos leva a depender,
aceitar e chorar domesticadamente quando o poder assim o decide, quando
espetaculariza o horror, a morte violenta e, por um momentos, nos faz
sentir protagonistas dos fatos, para que possamos desabafar
coletivamente a dor dos outros, misturadas com nossas dores mais
ocultas. Nossa potencialidade, nosso corpo e o que restar das nossas
forças, devem pertencer ao Capitalismo Transnacional e suas brancas
marcas: França, Estados Unidos, Israel, Canadá, Espanha, Itália,
Austrália…
Rejeitar esse assédio global que nos
encurrala e sanar nossas mentes da alienação e a desinformação imposta
só tem uma receita: desconstruir as ferramentas do assédio, 24 horas por
dia.
Raul Fitipaldi é jornalista e co-fundador do Portal Desacato e da Cooperativa de Comunicação e Produção em Cultura – CpCC.
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