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sábado, 14 de junho de 2014

Campanha pede investigação de abusos dos planos de saúde privados

Reprodução
por Marcela Belchior, em ADITAL

Diante de medidas abusivas por parte das operadoras de planos de saúde privadas, como altos preços e baixa qualidade nos serviços, um movimento reunindo usuários e profissionais da saúde realiza campanha para a instalação de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara dos Deputados do Brasil, no intuito de investigar essas empresas. Atualmente, a campanha está circulando uma petição online que arrecada assinaturas para pressionar o Parlamento a instaurar a CPI. Com meta de reunir 3 mil assinaturas, o documento já conta com pelo menos 2.352 adesões.

Dentre as principais insatisfações com os planos de saúde privados no Brasil estão irregularidades como: a não autorização de procedimentos médicos e laboratoriais; o descredenciamento unilateral de médicos; a baixa remuneração dos profissionais de saúde; e o aumento arbitrário do valor dos serviços para os usuários.

"Essa realidade precisa mudar. A saúde do povo brasileiro não pode continuar sendo tratada como mera mercadoria. Queremos saúde pública e de qualidade para todos, e exigimos respeito e atendimento digno por parte dos planos de saúde privados, que, atualmente, já detêm um mercado bilionário de mais de 50 milhões de usuários — brasileiros que foram empurrados para fora do sistema público de saúde devido à falta de investimento nesse setor”, expõe a petição.

Em entrevista à Adital, Ligia Bahia, representante da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), entidade que apoia a proposta, avalia que a CPI permitirá a reunião de denúncias esparsas e estimulará um esforço para compreender as causas das negações e postergações de coberturas por parte das operadoras de planos de saúde, além de abusos no aumento dos valores das mensalidades.

"Quando as pessoas mais precisam, se dão conta de que o plano não é o que pensavam e, nesse momento, os idosos estão sendo objetivamente obrigados a mudarem para um plano pior ou abandonarem o plano”, explica Ligia. "As empresas 'empurraram' os pacientes 'caros' para o SUS (Sistema Único de Saúde)”, complementa.

Soma-se a isso a anistia das multas das operadoras de planos de saúde. No último mês, a pressão popular fez com que a presidenta da República, Dilma Rousseff (PT), vetasse um artigo que prevê o perdão dessas multas, que chegava ao montante de R$ 2 bilhões (proporcional a US$ 891 milhões).

As multas contra os planos de saúde foram expedidas pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) por infrações, como negativa de procedimentos de laboratórios, de exames e de consultas, e demora no atendimento aos usuários de todo o país. Segundo análises, nesse contexto, prevaleceria o financiamento privado de campanha, que teria nas operadoras de planos de saúde um dos grandes doadores e acabaria influenciando nas decisões sobre o setor de saúde no país.

A advogada Joana Cruz, do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), também favorável à aprovação da matéria, diz que as medidas arbitrárias das empresas de planos de saúde privados são a maior demanda da instituição há mais de 10 anos, sendo recorrente a desobediência ao Código de Defesa do Consumidor. "É errado que qualquer empresa de serviços não cumpra o Código e com as normas da ANS, mas sendo uma empresa de saúde, ela também coloca em risco a vida das pessoas”, destaca em entrevista à Adital.

Segundo ela, questões políticas atuariam como obstáculo ao atendimento das necessidades dos usuários dos planos, legislando a ANS em benefício das empresas e não da população. "A ANS tem uma regulação que é capturada pelo mercado”, critica.

Tramitação sofre resistência

O requerimento de abertura da CPI foi protocolado na Câmara em julho de 2013 pelo deputado federal Ivan Valente (PSOL/São Paulo) para investigar as sistemáticas irregularidades. No entanto, um ano depois, a tramitação da matéria não avança.

Valente também apresentou, em novembro do mesmo ano, o Projeto de Lei nº 6.714, que cria a Agência Nacional de Saúde Complementar (ANS), para exigir prévia autorização da Agência Nacional de Saúde no caso de reajustes de planos coletivos de saúde. O PL está em análise na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara.

Acesse a petição online pela CPI Contra os Abusos dos Planos de Saúde: migre.me/jJ0W7

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