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quinta-feira, 10 de abril de 2014

CARTA DE RENÚNCIA

Santos, 07 de Abril de 2014

RENÚNCIA

Companheiros e companheiras

Renuncio hoje formalmente ao meu cargo e ao mandato de Coordenador Geral da Diretoria do Sindicato dos Trabalhadores e Funcionários Públicos do Judiciário Estadual, na Baixada Santista, Litoral e Vale do Ribeira do Estado de São Paulo - Sintrajus.
Após 15 anos como trabalhador público do judiciário de São Paulo e quase oito anos como um dos representantes da categoria, dos quais três anos como Coordenador do Sintrajus, entendo que chegou o momento de optar por me dedicar à carreira para a qual estudei e me formei.
A falta de um real e efetivo plano de carreiras no Tribunal de Justiça, que de fato aproveitasse as potencialidades de seus funcionários e permitisse uma verdadeira progressão entre os cargos funcionais torna-se também um argumento que motiva minha saída, dado que funcionalmente o cargo que ocupava, de agente operacional, não possui a menor perspectiva de evolução profissional.
Essa visão instalada e consolidada nas duas leis que tratam do plano de carreiras dos funcionários do judiciário decorre de uma visão estreita e centralizadora de comando, que por fim acaba privilegiando os altos cargos comissionados em detrimento dos cargos efetivamente de carreira os quais ficam a mercê de julgamentos subjetivos das respectivas excelências hierárquicas. Tentamos e lutamos por um plano de carreiras verdadeiro, mas fomos sempre derrotados, e não conseguimos mais do que pequenos ajustes para mitigar danos de um projeto ruim, desde a origem, que seguiu a distorcida e cara influência de consultorias privadas que tentam impor ao serviço público a selvagem lógica do mercado.
Enfim, creio que pude contribuir com os companheiros trabalhadores do judiciário estadual de São Paulo nas lutas em defesa de seus direitos, na ampliação desses direitos e de novas conquistas, assim como  na organização, na participação e na mobilização dessa categoria, que mesmo ao me retirar posso chamar de “nossa”, pois fizemos parte de momentos históricos e memoráveis das lutas dos trabalhadores com movimentos como as greves de 2001, 2004 e 2010.
Em especial a última, a mais difícil, a mais longa, onde a presença e atuação dos companheiros da Baixada Santista, Litoral e Vale do Ribeira foi marcante e decisiva para as vitórias conquistadas e certamente refletiram o resultado do trabalho que em conjunto iniciamos em 2004.
Basta dizer que proporcionalmente ao número de servidores da base os maiores percentuais de paralisação foram dos fóruns de nossa região, fóruns grandes com centenas ou milhares de trabalhadores na época. Ou dizer que um terço daqueles heroicos companheiros, que ocuparam o maior fórum da América Latina, em luta e protesto contra a intransigência e a truculência da então presidência do TJ, era da Baixada Santista, Litoral e Vale do Ribeira e aguentamos firmes, do lado de dentro e de fora, com o apoio dos trabalhadores na praça, dia e noite, naquelas 48 horas sem água potável, sem comida, sob o frio gelado da capital, cortante no chão de granito do fórum, e sob a ameaça da retirada violenta pelas forças policiais.
Naquele momento ganhamos a greve de 2010. Não só pelo impulso e solidariedade que trouxe ao movimento, daquela parcela que não havia aderido, mas fundamentalmente por que o TJ percebeu então que nossa resistência era infinita, sólida e essa rebeldia determinada nos levaria a arrancar nossa vitória após os 127 dias que abalaram a história da justiça em São Paulo.
Retiro-me para me dedicar à profissão de professor, concursado, na rede pública. Ainda que tardiamente início nessa profissão, sabendo que me esperam condições piores até das que lutamos pra mudar no TJ e um salário ainda menor do que tenho hoje, aliás, um dos mais baixos do quadro do TJ.
Sigo, porém com a vontade de realizar o mesmo que acredito fiz em minha passagem pelo judiciário: socializar o conhecimento adquirido na universidade pública e na militância política.
Agradeço a todos os companheiros com os quais trabalhei e militei junto e espero que voltemos a nos encontrar nas lutas comuns e gerais dos trabalhadores. Aprendi muito com vocês. Mas aprendi também que a luta política é marcada também por frustrações e decepções, e por um estranho sentimento de solidão quando não alcançamos os objetivos compartilhados ou quando percebemos que alguns optam pelo caminho mais fácil, o de se juntar ao patrão, conchavar, conciliar, e até ajudar a difundir o pensamento patronal em troca de ambiciosos projetos pessoais. Sempre atuamos contra essas práticas.
Por isso acredito no Sintrajus, como uma grande conquista para a categoria, como um instrumento de luta e combativo dos trabalhadores. O sindicato é para mim o ponto final dos esforços e do trabalho que realizamos, e me sinto muito feliz e honrado por ter participado de sua criação. É construindo o sindicato que os judiciários de nossa região estarão fortalecendo a participação e a mobilização para evoluir na luta e alcançar novas conquistas. O Sintrajus é a esperança para um futuro melhor.
Guardarei as melhores lembranças desse companheirismo vivido nos últimos 15 anos. Estarão sempre nos meus pensamentos. Foi uma honra lutar ao lado dos companheiros. Obrigado.
Até a vitória! Sempre.



Hugo Rogério Nicodemos Coviello

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