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terça-feira, 15 de outubro de 2013

Comida industrial: enfermando as pessoas e o planeta


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Silvia Ribeiro
 
Las cinco enfermedades más comunes en México están ligadas a la producción y consumo de alimentos provenientes de la cadena agroalimentaria industrial: diabetes, hipertensión, obesidad, cáncer, enfermedades cardiovasculares. 


Algumas totalmente; outras, parcialmente; nenhuma está desligada. 

Isso se traduz na má qualidade de vida e tragédias pessoais; porém, além de tudo, em altos gastos com atenção médica e do orçamento da saúde pública, um enorme subsídio oculto para as transnacionais que dominam a cadeia agroindustrial, desde as sementes até o processamento de alimentos e venda em supermercados. Mais razões para questionar esse modelo de produção e consumo de alimentos.

Em artigos anteriores, referi como o sistema alimentar agroindustrial alimenta somente a 30% da população mundial; porém, seus graves impactos na saúde, na mudança climática, no uso de energia, combustíveis fósseis, água e contaminação são globais.
Em contraste, a diversidade de sistemas alimentares camponeses e de pequena escala são os que alimentam 70% da população mundial: 60-70% dessa cifra é de responsabilidade de parcelas agrícolas pequenas; as hortas urbanas são responsáveis por 15-20%; a pesca por 5-10% e a caça e coleta silvestre entre 10-15%. 

(Ver: Quem nos alimentará? La Jornada, 21/09/2013 e www.etcgroup.org). Agrego dados complementares, da mesma fonte. 

Em termos de produção por hectare, um cultivo híbrido produz mais que uma variedade camponesa; porém, para isso, requer semeadura em monocultivo, em extensos terrenos planos e irrigados, com grande quantidade de fertilizantes e alto uso de agrotóxicos (praguicidas, herbicidas, fungicidas). Tudo isso diminui a quantidade de nutrientes que contêm por quilograma. Os cultivos camponeses, pelo deslocamento histórico que sofreram, acontecem em geral em terrenos desiguais, em ladeiras e terras pedregosas, sem irrigação. Se compararmos isoladamente a produção de um cultivo camponês com o híbrido industrial, a produção por hectare é menor. No entanto, os camponeses semeiam, por necessidade e conhecimento, uma diversidade de cultivos simultaneamente, vários do mesmo cultivo com diferentes características, para diferentes usos e para suportar distintas condições, além de cultivos diferentes que se apoiam entre si (contribuindo com fertilidade; protegem de insetos) e como usam pouco ou nada de agrotóxicos, ao seu redor cresce uma variedade de ervas comestíveis e medicinais. Sempre que podem, os camponeses combinam também com algum animal doméstico ou peixes. Somando tudo, o volume de produção por hectare das parcelas camponesas é maior do que os monocultivos industriais, além de que resistem muito melhor aas mudanças climáticas e sua qualidade e valor nutritivo é muito maior.

Do que colhem na agricultura industrial, mais da metade vai para forragens de gado criado em grande escala e confinado (porcos, frangos e vacas). Virtualmente, toda a soja e milho transgênico produzido no mundo –e também a que querem plantar no México- não se destina para a alimentação humana, mas para forragens para cria de animais em escala industrial, dominada por transnacionais e cujo sobreconsumo é outro fator causador das enfermidades principais.

Dos fertilizantes sintéticos usados na agricultura industrial, a maior parte é justamente para produzir forragens, e a metade que se aplica não chega às plantas por problemas técnicos. O escorrimento de fertilizantes é fator fundamental de contaminação de águas e de gases de efeito estufa.

Além disso, na cadeia industrial, se desperdiça de 33 a 40% dos alimentos durante a produção, o transporte, o processamento e nas casas dos consumidores. Outros 25% se perde em sobreconsumo, produzindo obesidade, entre outras coisas, devido a dependência provocada pela quantidade de sal, açúcar e químicos agregados.

Na América do Norte e na Europa, o desperdício de alimentos per capita é de 95 a 115 Kg por ano, enquanto que na África subsaariana e no sudeste da Ásia (com maioria de agricultura camponesa), é de 6 a 11 kg per capita; ou seja, 10 vezes menor.

Ante o desperdício e a gravidade dos problemas de saúde e ambientais provocados pela cadeia industrial de alimentos, urge propor novas políticas que a desestimulem e, em seu lugar, motivem a produção diversificada, sem químicos, com sementes próprias e em pequena escala, que, além de tudo, é a base de trabalho e sustento de mais de 80% dos agricultores do país. No extremo oposto está a produção industrial com transgênicos, que exacerba todos os problemas mencionados e, ao estar em mãos de cinco transnacionais, é uma entrega da soberania nacional. A semeadura de soja transgênica já está ameaçando de morte aos apicultores, terceiro produto de exportação nacional, que provê sustento a mais de 40 mil famílias camponesas. As solicitações de semeadura comercial de milho transgênico em milhões de hectares ameaçam eliminar outros milhares de famílias camponesas e contaminar o patrimônio genético mais importante do país.

E se esses dados não fossem suficientes, os eventos climáticos extremos sofridos no país –com danos exacerbados por políticas que aumentam a vulnerabilidade-, estão diretamente vinculados a esse sistema alimentar agroindustrial, que é uma das causas principais da mudança climática 

[Original, em espanhol, publicado em: La Jornada].

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