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sexta-feira, 30 de maio de 2014

MERCENÁRIOS DA INFORMAÇÃO: CÚMPLICES DO CRIME


Mercenários da informação: cúmplices do crime
Sete empresas controlam 70% dos meios de comunicação mundiais. Essa globalização dos veículos de imprensa é o mecanismo por meio do qual os poderes econômicos organizam uma realidade falsa que nos é servida e que consumimos por intermédio da mídia
Original em Rebelión, tradução de Ítalo Piva
“Somente bestas ferozes não se horrorizam ao ver o que está acontecendo com pessoas inocentes.” (Pearl S. Buck, A Estirpe do Dragão)
O filme Matrix nos apresenta um futuro no qual, depois de uma guerra, quase todos os seres humanos foram escravizados por máquinas e inteligências artificiais e são mantidos em suspensão, com suas mentes conectadas a uma simulação social que representa o final do século XX. Na realidade, eles vivem no século XXII. Milhões de pessoas vivem ligadas, inflexivelmente, ao redor de uma ilusão coletiva conhecida como A Matrix. Estão sendo cultivadas para dar energia às máquinas. E um mundo que foi colocado diante dos olhos humanos para ocultar a verdade. O programa Matrix é o opressor. O ser humano é o oprimido. MorfeoTrinityNeo e o resto dos rebeldes exemplificam o ser humano que defende a capacidade de decisão, a liberdade de decidir, de eleger. Entretanto, a maioria dos seres humanos utiliza a sua liberdade para eleger a escravidão. O criador da Matrix, o Arquiteto, conseguiu criar uma realidade artificial semelhante à verdadeira, necessária para que os humanos sobrevivessem à simulação que os escravizava.
Será que Matrix é apenas um filme?
Necessitamos de informação para vivermos nossas vidas. Necessitamos também para nos relacionarmos com os amigos e inimigos, para procurarmos as fontes de sobrevivência – alimentícia e social. Quando não temos meios de informação, nos falta o conhecimento para enfrentar a luta pela conservação do que nos exige a sociedade atual. A informação/formação que recebemos na sociedade onde coexistimos é a que nos serve de orientação para a direção que nela tomamos.
As diversas grandes rádios, imprensa e televisão – que pertencem aos mesmos conglomerados econômicos – são os proporcionadores da única informação que recebem milhões de pessoas em todo o mundo.
“Sete empregas controlam 70% dos meios de comunicação mundiais. Isto quer dizer que sete empresas controlam a TV, os satélites, as agências de informação, as redes de TV a cabo, as revistas, as rádios, os jornais, os editoriais, a produção cinematográfica, a internet, a distribuição de filmes… TODOS os meios de comunicação. […] As sete empresas são: Fox News, Time Warner, Disney, Sony, Bertelsmann, Viacom e General Electric. Sete empresas, que se conhecem entre si, controlam uma porcentagem gigantesca daquilo que as pessoas chegam a consumir.” (Jerry Mander, diretor do Fórum Internacional sobre Globalização).
Essas sete empresas pertencem a grandes fortunas, todas relacionadas e integrand o 1% que governa o mundo. Controlam a informação/formação internacional. O jornalismo mundial, quase que totalmente, depende delas. Somente algumas pequenas publicações na internet conseguem, basicamente, manter sua independência. Ironicamente, ao contrário do que sucede no filme, elas formam uma pequena e dividida resistência dos humanos contrários à escravidão da nossa Mídia-Matrix.
Quanto mais liberdade de mercado exige o neoliberalismo, mais se concentra todo o poder socioeconômico nas mãos de poucos grupos megafinanceiros.
Essa globalização dos meios de imprensa é o mecanismo por meio do qual os poderes econômicos organizam uma realidade falsa que nos é servida e que consumimos por intermédio da mídia – imprensa, radio, televisão – e diversos artifícios chamados redes sociais, a internet.
Milhões de pessoas vivem conectadas a este governo da informação. Uma ilusão coletiva conhecida como “A Sociedade da Informação Livre. As mentes de todo o mundo estão sendo cultivadas para poder dar energia aos Mercados, às grandes fortunas financeiras, fabricantes dos meios de informação.” (Serge Halimi).
No nosso país, a maior parte das ações dos principais meios, aqueles que dominam o mercado, pertence a alguns destes conglomerados financeiros internacionais.
Nesse mesmo sentido, milhões de pessoas vivem conectadas a um mundo que determina as nossas vidas através dos meios de comunicação, fundamentalmente a televisão e a internet-computador. Quando se caminha pelas ruas, tem-se que evitar os zumbis que estão distraídos, teclando nos seus pequenos celulares. O mundo brilha ao seu redor. Não importa. A telinha os mantém em suspensão. Uns, na TV, e outros, nos celulares, vivem suas vidas conectados à simulação social das telas plasma. Essas são o principal sistema de comunicação e conhecimento nos dias de hoje. Um mundo colocado diante dos nossos olhos para ocultar a verdade.
Aqueles que possuem o poder econômico também exercem o poder político. Seus meios massivos não estão aí para mostrar-nos a verdade. Eles criam e moldam a opinião pública da forma exigida pela ordem econômica e social que alimenta a sua nova ordem mundial (George Bush, pai). Qualquer pessoa que tenha muito dinheiro é livre para divulgar sua ideologia-interesses através de um grande meio de comunicação de massa. Você é uma dessas pessoas? Talvez, você possa opinar num cantinho da internet, por meio de uma carta enviada ao diretor do seu jornal favorito, uma chamada telefônica – previamente filtrada – à sua emissora. Se lhe é concedida a permissão é porque isto não os prejudica. Mas não é recusada. Faz parte da ilusão. Mesmo sendo uma pequena brecha na ilusão coletiva, induzida pela Mídia-Matrix, talvez outras pessoas não se sentirão tão sozinhas quando lerem, ou escutarem.
Vivemos em aglomerações urbanas, numa atmosfera asfixiante de injustiça, medo, violência, insegurança e corrupção, tudo estruturado de acordo com os níveis sociais da nova ordem política. Um mundo de delinquência e criminalidade organizadas, produtos desta sociedade capitalista. Um mundo em que triunfa a violência da migração econômica, os negócios sujos, drogas, prostituição.  À parte das grandes famílias financeiras, prosperam as gangues organizadas; permitidas e apoiadas pelo poder. Traficam – drogas, armas, remédios, seres humanos – apoiando-se na atitude corrupta de seus sócios das instituições políticas, de seus acionistas na administração – membros do governo, do parlamento, dirigentes dos partidos políticos, prefeitos, juízes, policiais, eclesiásticos -, que são subornados por uma comunidade financeira poderosa. Todos eles fazem parte do setor social organizado para delinquir. São seres com ânsia de poder, inveja, ódio, cobiça, luxúria etc, que nos mostram a deterioração ética e social da classe que controla o poder.
Os autores da novela realista do século XIX davam atenção especial à confusão social em que se desenvolvia a realidade dos seus protagonistas, assim como as relações sociais e econômicas na sociedade histórica que tentavam descrever. O autor deixava claro que a sua linguagem e a do seu leitor estava baseada na mesma realidade em que ambos viviam.
Não é assim que se comportam os jornalistas, escritores, intelectuais e divulgadores que se acomodaram às diretrizes do sistema. Eles criam uma nova linguagem, com o objetivo de convencer-nos das razões positivas deste projeto capitalista para uma globalização do mundo por meio do neoliberalismo. Devemos nos conformar com o empobrecimento dos povos – incluindo nós mesmos. Resignar-nos a trabalhar num regime de neoescravidão. A nos sentir culpados porque as coisas não funcionam, ainda que tenham sido eles e os seus senhores os que executaram os planos para nos arruinar. (A ascensão do poder ilimitado das multinacionaisSeattle to Brussels Network).
Os jornalistas e o resto dos intelectuais que participam deste sistema, que trabalham nos grandes meios de comunicação de massa, têm deixado de lado os conceitos éticos da sua profissão. Aceitam o papel de serem simples transmissores de informações preconcebidas. A concentração progressiva da grande mídia – na Espanha, três ou quatro grupos – os converte em instrumentos das suas políticas globalizadoras do neoliberalismo. O objetivo é institucionalizar uma única verdade, a elite dos EUA e dos seus satélites europeus industrializados. Fomos informados pela grande mídia sobre as negociações e sobre o que significa o tratado de livre comércio entre os EUA e a Comunidade Europeia?
São criadas imagens falsas dos dirigentes das nações onde existe matéria prima que interessa às multinacionais dos EUA e da Comunidade Europeia. ­­­­Utilizam elementos reais desses países e pessoas para caricaturá-los. Se preciso for, descaracterizam o que for necessário, inclusive o que for virtude, para apresentar uma qualidade negativa. A língua espanhola tem muitos adjetivos que desqualificam sem a necessidade de insultar. Ou mentem, diretamente, inventando falsas acusações, o que faz com que o usuário da grande mídia não tenha condições de contradizer.
Projetam imagens que favorecem a guerra. A justificativa é a de libertar o povo e institucionalizar a democracia ocidental nesses territórios. O Iraque, o Afeganistão, a Líbia, e agora a Síria. Lembremos também alguns dos países africanos – a Nigéria, a Libéria, o Sudão etc. Este continente para o qual a TVE (a emissora televisiva mais antiga da Espanha) mantém uma só correspondente, enquanto para a cidade de Roma, eles mantém dois. Todos estão em guerra. A sociedade desestruturada. A economia destruída. Somente funcionam aqueles onde as multinacionais do petróleo e de extração mineral têm suas indústrias extrativas. E, é claro, o tráfico de armas, de pessoas. Quanto mais miseráveis existirem no mundo, mais exilados econômicos, mais mão de obra neoescrava. Através do impacto direto da informação dos meios de comunicação de massa sobre as grandes maiorias, mais despolitizadas e passivas elas se tornam, mais medo para os trabalhadores e desempregados da Europa neoliberal.
As imagens da militar americana Lynndie England torturando presos na prisão de Abu Ghraib, deram a volta ao mundo
As imagens da militar americana Lynndie England torturando presos na prisão de Abu Ghraib deram a volta ao mundo; recentemente, ela disse que os criminosos eram eles (foto: Reprodução)
Esta política do poder neoliberal dos Mercados está provocando uma violação permanente dos direitos humanos. Um crime persistente e contínuo contra o gênero humano. São milhões de seres humanos que morrem a cada ano por causa desta política. Um darwinismo despojado de qualquer ética humana. As imagens da militar americana Lynndie England torturando presos na prisão de Abu Ghraib deram a volta ao mundo. Há pouco tempo, ela voltou a justificar sua conduta ao dizer que eles eram os criminosos. Certamente, uma ideia-visão do mundo inculcada pelos seus superiores. Mas, também, através da educação das Mídia-Matrix do seu país – Fox, Washington Post, etc. -, usadas como referência para os nossos grandes meios de comunicação. Sermos chamados de criminosos é a justificativa para a tortura e assassinato.

A mídia, a voz do opressor, querem nos convencer de que este modelo econômico de mundo é o correto e único possível. Um modelo baseado no crescimento desigual. Onde os ricos são cada vez mais ricos e os pobres, cada vez mais pobres. Um crescimento insustentável para o nosso planeta. Um modelo de crescimento para os mercados. Um mundo de neoescravidão para os mais necessitados: os pensionistas, os desempregados, os estudantes, os enfermos. O que se torna pior ainda se a pessoa pertence a uma minoria: mulher, não branco, não cristão, sem formação acadêmica… Meios de comunicação que querem nos convencer de que o crime de destruição da humanidade é apropriado para construirmos um mundo futuro de felicidade global. E, quem nos doutrina, por meio desses meios, são os comunicadores que emprestam a sua imagem, sua confiabilidade aos seus empregadores. Tudo em troca de um salário mais ou menos suculento. Matéria descartável.
Da mesma maneira como foi vista Lynndie England, podem até estar convencidos da bondade dos seus opressores. No entanto, estar convencidos sobre algumas ideias não implica esquecer-se do objetivo principal do jornalismo: “O propósito principal do jornalismo é proporcionar aos cidadãos a informação necessária para que sejam livres e capazes de governarem-se a si mesmos.” (Bill Kovach e Tom Rosenstiel, Os Elementos do Jornalismo).
Este propósito tem sido esquecido, com prazer, pelos comunicadores populares, ditos jornalistas, dos grandes meios de comunicação. Aqueles que dirigem os noticiários da televisão, os grandes jornais e a direção das rádios. São os que conectam as Mídia-Matrix às grandes maiorias despolitizadas e passivas.
Se os donos do Grande Mercado neoliberal são os promotores deste crime contra a humanidade, se os técnicos são os políticos e banqueiros, os diretores dos meios de comunicação são os instrutores da massa, como os sargentos de tantos militares como as inúmeras Lynndies Englands. E aqueles que fazem a conexão com esta Mídia-Matrix global são esses comunicadores populares que nós todos conhecemos. Eles escolhem as notícias. Eles optam por aquelas que beneficiam a ideologia dos seus empregadores. Eles culpam as vítimas dos crimes executados pelos paus-mandados contratados pelos opressores. Eles ocultam a verdade.
Toda esta engrenagem política que defende os interesses econômicos e estratégicos das oligarquias dominantes e um mecanismo bem cuidado, que compartilha as estratégias políticas do governo. Ele atua de acordo com os princípios da propaganda de Goebbels: desinformação, ocultação dos fatos e censura, falsificação, concentração e simplificação da informação, exagero e desfiguração, “responsabilizar o adversário por seus próprios erros ou defeitos, respondendo o ataque com outra ataque”. “Se não é possível negar as notícias ruins, inventam-se outras para causar distração”. “A propaganda deve limitar-se a um número pequeno de ideias e deve-se repeti-las incansavelmente; apresentá-las uma e outra vez através de diferentes perspectivas, mas sempre convergindo para o mesmo conceito. Sem fissuras nem dúvidas”. “E daqui que vem a famosa frase: ‘Se uma mentira se repete suficientemente, ela acaba por transformar em verdade.’”
E para que isto funcione é necessário haver homogeneidade nas distintas versões dos diferentes meios de comunicação. O objetivo dos eclesiásticos medievais não era o de educar as populações. Era o de dominá-las. Neste sentido, era melhor que a verdade não se colocasse no caminho da ortodoxia político-religiosa.
Este é o comportamento cotidiano dos grandes meios de comunicação. E são os comunicadores populares dos programas de televisão, de rádio e até desportivos que se tornam a imagem desses meios.
Nesta luta de classes entre os oligarcas e o resto da humanidade, estes símbolos da mídia batalham no exército inimigo por alguma forma de pagamento. São mercenários: trabalham por um salário ou produtos. Substituem seus opressores pelo salário que lhes é dado. São os mercenários da informação. Cúmplices no crime contra o ser humano, perpetuado pelos opressores.
Cúmplice: Pessoa que, sem ser autora de um delito, participa no mesmo (Julio Casares).
Os grandes meios de comunicação nos apresentam as imagens do desejo (Walter Benjamin). Escondem a realidade no meio das mercadorias. Eles tentam nos fazer entrar no sonho da irrealidade transmitida por uma Matrix, munidos apenas de instrumentos defensivos. Impedindo as propostas do povo, as leis ficam cada vez mais duras até tornarem-se totalitárias. Membros das Forças Armadas e das instituições de segurança do Estado, assim como numerosos juízes, obedecem a seus mandados políticos, deixando de ser servidores de um Estado democrático. As grandes corporações nacionais, depois de nomear ex-presidentes e ministros para fazer parte dos seus conselhos, desenham uma agenda econômica de governo onde participarão como ministros os próprios membros dos seus conselhos. Tudo isso e mais outros elementos sociopolíticos nos são ocultados ou devidamente modificados pelos meios de comunicação que pertencem a estes grandes conglomerados econômicos.
Apague a televisão, desligue o rádio, não compre jornais.
Procure na rede da internet estes rebeldes que estão contra esta Mídia-Matrix neoliberal e fascista.
Procure outros meios de conhecimento. Una-se a outros que também estão lutando pela própria dignidade. O caminho está cheio de dificuldades. Precisamos de muita dedicação. Temos que lutar… Podemos, claro que podemos.
Foto de capa: Rupert Murdoch, dono da News Corporation, no Media Summit, em Abu Dhabi, no ano de 2010 (Crédito: Wikimedia Commons)

Fonte - Revista FÓRUM on-line

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