O
governo Dilma anunciou na quarta-feira (15 de agosto) o Programa de
Investimentos em Logística.
O belo nome esconde um perverso conteúdo.
Há
algumas semanas a imprensa já estava soltando informações sobre um novo
pacote pra enfrentar a crise econômica. No final de semana, a revista
Veja já anunciava alegremente “O Choque de Capitalismo de Dilma” em sua capa, e na
“Carta ao Leitor” da mesma edição alertava que em relação a esse pacote “a
presidente Dilma Roussef vai enfrentar resistências óbvias de setores
de seu partido, o PT, e de outras forças reacionárias, em geral à
esquerda do espectro político. Está aí uma batalha para a qual a
presidente vai precisar de apoio da opinião pública. O de Veja fica
desde já aqui hipotecado”.
Afinal, o que essa reacionária revista
semanal, descarado panfleto da burguesia para atacar a luta dos
trabalhadores comemora e apoia?
Todas as medidas do governo pra
enfrentar a crise têm sido para beneficiar os grandes empresários.
Absolutamente nada foi feito para beneficiar e proteger os
trabalhadores. Desoneração da folha de pagamento com o Plano Brasil
Maior, redução do IPI, desvalorização do real, queda dos juros, PAC
Equipamentos, etc. São exemplos dessa política.
De outro lado, o
ataque contra a greve dos servidores federais segue.
Mais de 350 mil
servidores estão de braços cruzados.
A mobilização segue forte há mais
de 2 meses apesar de toda a repressão do governo e da grande mídia. Os
ataques por parte do governo passaram pela recusa em negociar, o
desconto do salário dos grevistas e a publicação da Medida Provisória
7777/12, a MP Fura Greve, que autoriza o absurdo de substituir
servidores públicos federais em greve, por servidores municipais,
estaduais, ou até terceirizados. Tais atitudes fizeram com que a CUT,
Condsef, Fenasps e sindicatos da categoria denunciassem o governo
brasileiro para a OIT por “atividade anti-sindical”.
Agora, a
notícia tão comemorada e apoiada pela revista Veja, pelo resto da grande
mídia e os empresários, é um novo pacote de bondades para os
capitalistas.
Como falou Eike Batista, um “Kit Felicidade”.
Num primeiro
momento o que foi anunciado são as privatizações de rodovias e
ferrovias, mas já foi anunciado que as privatizações também atingirão
portos, aeroportos e hidrovias. Este pacote bem que poderia ser chamado
de PAC Privatizações, ao invés do simpático Programa de Investimentos em
Logística.
Privatização e Concessão
O
governo e os dirigentes petistas brincam com as palavras tentando
convencer que concessões não são privatizações. Shakespeare escreveu em
sua peça Romeu e Julieta: “O que há num simples nome? O que chamamos Rosa com outro nome não teria igual perfume?”.
A verdade, no nosso caso, é que privatizações e concessões tem o mesmo
cheiro podre de venda de serviços e do patrimônio público para a
exploração da iniciativa privada.
A Veja, que não precisa ter nenhum pudor, explica que “O
Palácio do Planalto fala em concessões à iniciativa privada, mas, na
prática, são privatizações. As empresas privadas que ganharem as
concessões poderão aplicar o dinheiro arrecadado na operação nas
próprias rodovias, ferrovias, portos e aeroportos. É um grande passo na
direção certa.” Mas é claro que “um pouquinho” também tem que
sobrar para o bolso dos donos das empresas responsáveis pelas obras.
Afinal, isso é capitalismo.
Na quarta-feira, no lançamento do
programa, foi anunciado que 5.700 quilômetros de rodovias serão
entregues para a iniciativa privada realizar a duplicação. Após a
conclusão de 10% das obras, a empresa ganhadora na licitação poderá
iniciar a cobrança dos pedágios. Em relação às ferrovias, a pretensão é a
construção de 10 mil quilômetros pela iniciativa privada que terá
liberdade para explorar comercialmente o uso.
O governo deve
anunciar nas próximas semanas a continuidade do pacote. Para os portos, a
ideia é construir novos portos no mesmo modelo das ferrovias e
privatizar os existentes de Vitória e Salvador. Além das privatizações
já realizadas no governo Dilma dos aeroportos de Brasília, Campinas e
Guarulhos, a pretensão é privatizar o aeroporto do Galeão (RJ), Confins
(BH) e mais um no Nordeste (Recife ou Salvador). Além das privatizações,
o governo também pretende diminuir o custo da energia para as grandes
empresas.
É claro que o discurso de louvores ao livre mercado é
apenas quando se trata dos lucros. No prejuízo todos vão com o pires na
mão pedir dinheiro para o governo. No caso do custo para as novas
construções também, o BNDES deve ser um dos grandes parceiros da
iniciativa privada para financiar o projeto.
Além de taxas de
juros reduzidas para contrair empréstimos, as empresas terão carência de
3 anos para iniciar o pagamento no caso das rodovias e de 5 anos no
caso das ferrovias. O governo Dilma realmente tem sido uma mãe, mas não
para os pobres, e sim para essa minoria que vive e enriquece em cima do
suor e do sangue dos trabalhadores.
Continuando o PAC
Essa
nova onda de privatizações tem como objetivo ampliar a infraestrutura
(portos, aeroportos, ferrovias e rodovias). Além de beneficiar o setor
privado na construção e exploração dessas instalações. Assim como no
PAC, tais obras visam o escoamento da produção nacional para o exterior.
Aprofundando o caráter do país de plataforma de exportação agro
mineral, dependente do mercado externo e da tecnologia dos países
imperialistas.
Engana-se quem acha que Dilma está aplicando agora
uma política distinta da do governo Lula. O próprio PAC, lançado em
2007, tinha entre seus eixos as Parcerias Público-Privadas (PPPs) na
construção e administração das instalações. A primeira ação do PAC foi
justamente a concessão de rodovias federais para exploração da
iniciativa privada. Portanto, a política hoje aplicada, é a continuação
daquela implantada por Lula, que se aprofunda diante de uma nova
conjuntura. No mesmo dia do anúncio do novo programa por Dilma, Lula
saiu em defesa das novas medidas.
Além das medidas já tomadas pelo
governo e das recentemente anunciadas, está em gestação uma nova
Reforma da Previdência para aumentar a idade da aposentadoria. Além de
não estar descartada uma Reforma Trabalhista para reduzir direitos, o
sonho de consumo dos empresários.
O papel da CUT e do PT
A
CUT, que deveria organizar a luta contra todas essas medidas, declarou
pelo presidente da central, Vagner Freitas, após reunião com
representantes do governo, que as “medidas de estímulo à economia são
positivas, mas governo precisa exigir garantias de emprego e salário
decente”. Ou seja, que os empresários enriqueçam explorando aquilo que
deveria ser público, mas pelo menos tratem bem os trabalhadores que vão
usar. É uma posição vergonhosa para a central que sempre lutou contra as
privatizações.
A posição do presidente do PT, Rui Falcão, é tão vergonhosa quanto a posição do Presidente da CUT. Em nota oficial, Rui declara:
“O Partido dos Trabalhadores saúda o lançamento do Programa de Investimentos em Logística – Rodovias.
É
um plano ambicioso, que prevê investimentos de R$ 133 bilhões em nove
trechos de rodovias e ferrovias.Trata-se de um programa complementar ao
PAC e uma continuação da política implementada durante o governo Lula,
baseada no tripé crescimento, estabilidade e inclusão social.
...
Neste
momento de crise internacional, nosso governo mostra que a saída é mais
desenvolvimento, mais empregos e mais inclusão social. Este é o caminho
do Brasil. Este é o caminho do PT.”
Caminho do PT? Este é o
caminho para destruir o PT, é o caminho totalmente contrário ao
manifesto de fundação do partido e a própria campanha eleitoral de
Dilma, que se posicionava contra as privatizações. Este é o caminho
resultante da coalizão com a burguesia, coalizão no qual os
trabalhadores perdem direitos e os empresários ganham benesses. Rui,
inclusive, não explica que os tais 133 bilhões sairão em sua maioria dos
cofres públicos para financiar estas concessões e que se os empresários
tiverem prejuízos, estes serão jogados nas costas da estatal recém
criada (Empresa Brasileira de Logística), que não será dona de nada,
somente dos prejuízos.
O caso é que temos uma crise econômica
chegando, com ataques aos trabalhadores já se iniciando, e o governo só
pensando em como beneficiar mais os empresários. Diante dessa situação, a
grande proposta da CUT e outras centrais tem sido a criação de um fundo
anti-crise, em que as suspensões do contrato de trabalho, o chamado Lay
Off, tenham o prazo atual de 5 meses, prolongado para 2 anos, como
ocorre na Alemanha. O caso é que, apesar de evitar demissões imediatas,
essa suspensão significa desoneração para os industriais, pois eles
param de pagar o INSS e o FGTS dos trabalhadores e parte do salário é
paga pelo FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador), ou seja, de recursos
públicos vinculados ao Ministério do Trabalho e Emprego. Segue a linha
de bondades aos empresários.
O que a CUT e os sindicatos deveriam
exigir e o governo promulgar é uma lei que garanta a estabilidade no
emprego para todos os trabalhadores e que empresas que realizarem
demissões em massa devem ser estatizadas. Essa é uma medida de interesse
e de proteção real dos trabalhadores diante da crise.
Junto com
uma verdadeira campanha de apoio à greve dos servidores federais, que
passe das palavras para a ação, a Central deveria mobilizar sua base e
lançar uma campanha nacional Contra a Desoneração e as Privatizações,
Pela Estabilidade no Emprego, fazendo parte da agenda dessa mobilização a
marcha a Brasília adiada para o dia 5 de setembro, tornando-a uma
marcha massiva pra colocar o governo na parede.
Não nos enganemos,
a política do governo é a expressão da conciliação de classes existente
desde o primeiro mandato de Lula. A posição da CUT é fruto do
tripartismo, a ideia de que é possível conciliar os interesses de
patrões e empregados. A base da CUT e do PT nada tem a ver com essa
política que só reserva tragédias e derrotas para nossa classe.
Nós
mantemos erguidas as bandeiras que fundaram o PT e a CUT, estamos ao
lado dos filiados e sindicalistas que permanecem fiéis à luta da classe
trabalhadora. Exigimos o rompimento da coalizão com a burguesia e por um
governo aliado à CUT e aos sindicatos, ao MST e aos movimentos sociais.
Nosso combate é contra a colaboração de classes e pelo socialismo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário