Sem alojamento, os sem-teto da ocupação Ipiranga ficaram na calçada com suas roupas dentro de sacos de lixo nesta terça-feira (28); no imóvel, antes da ocupação, funcionava um hotel que estava abandonado há mais de sete anos
José Francisco Neto
de São Paulo
As
94 famílias sem-teto que ocupavam o prédio da avenida Ipiranga, 908, no
centro de São Paulo, foram despejadas na manhã desta terça-feira (28).
Com a presença de dezenas de policiais militares prontos para fazer a
reintegração de posse, os moradores decidiram sair do prédio
pacificamente para evitar confrontos.
Sem ter
para onde ir - já que a prefeitura deixou claro aos moradores que não
terá alojamento por falta de verba - as famílias, neste momento, estão
na calçada com suas roupas em sacos de lixo.
De
acordo com o advogado e assessor jurídico do movimento das famílias
sem-teto, Manoel Del Rio, havia uma decisão do tribunal de justiça que
obrigava a prefeitura a atender as pessoas com pelo menos um alojamento
provisório, mas que nada foi apresentado efetivamente.
“Eles
estão descumprindo a decisão do tribunal. Pode até cumprir a liminar da
reintegração de posse, mas desde que atendam as famílias em
alojamento”, ressalta.
O coordenador da Frente de
Luta Por Moradia (FLM), Osmar Silva Borges, também afirma que as
famílias deveriam ser alojadas até a decisão do tribunal. “Até agora não
foi oferecido nenhum tipo de alojamento, o que existe é um arrolamento
das famílias que foi feito ontem (27) até as dez da noite, mas não tem
até agora nenhuma oferta de um local para as famílias ficarem alojadas”,
aponta.
Porém, o major operador do 7º Batalhão
da Polícia Militar, Edenilson Accarini, disse que o direito de moradia
tinha que ser tratado num processo judicial, e que não era autoridade
para decidir isso. Accarini ainda falou que no processo não está
incluído o alojamento, por isso, considera o assunto “mais do que
esgotado”.
“O problema do alojamento não é da
Polícia Militar e também não sei se seria da Prefeitura, porque se a
Prefeitura não foi intimada a cumprir essa parte, ela não tem obrigação
nenhuma”, salienta o major.
Neste imóvel em que
as famílias moravam, antes, funcionava um hotel que estava abandonado há
mais de sete anos. Quando ocuparam, no dia 6 de novembro de 2011, o
prédio estava sujo, sem esgoto, sem água e sem luz, conforme afirmou a
coordenadora da ocupação, Maria do Planalto. “Estamos há 10 meses neste
prédio. Se hoje ele tem esgoto, água e luz é porque nós mesmos
reformamos tudo”, conta.
Com lágrimas e sem rumo
Com
lágrimas nos olhos, os moradores, após uma rápida assembleia, decidiram
sair pacificamente do prédio. Coordenadores, advogados e a imprensa
participaram também da reunião.
Silmara, ex-moradora do apartamento 132, disse ao Brasil de Fato
que não tem para onde ir. Estudante de enfermagem da Uniesp, ela estava
no prédio desde o início da ocupação, junto com seu cunhado e sua a
mãe. “Muitos aqui fazem faculdade e a maioria trabalha. Agora, estamos
sem rumo”, lamenta.
A reportagem do Brasil de Fato
conversou com vários moradores, e todos afirmaram que não querem nada
de graça. “Nós queremos pagar, nós só queremos ter o direito de
moradia.”
Ivanildo Mendes, 40, que morava com a esposa e mais dois casais, disse também que irá ficar na rua.
“Eu
trabalho de jardineiro, não tenho condições de pagar um aluguel. Nós só
queremos ter o direito de moradia”, disse em prantos.
Até
o fechamento da matéria, as mais de 90 famílias, incluindo 78 crianças e
diversos idosos, ainda estavam na calçada com suas roupas dentro de
sacos de lixo. Ninguém da Prefeitura estava presente para comentar o
caso.
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