"A desindustrialização e a desnacionalização têm forte impacto sobre o desenvolvimento econômico e social brasileiro em geral e sobre temas como emprego e salários" |
O Brasil corre o risco de uma especialização regressiva na produção
agropecuária e de minérios, acompanhada de uma contração do setor
industrial e de atrofia de sua capacidade tecnológica de
desenvolvimento, e de vir, assim, a se tornar uma mera plataforma de
produção e de exportação das megaempresas multinacionais. A
desindustrialização e a desnacionalização têm graves consequências para o
Brasil e para a integração sulamericana.
1. A desindustrialização e a desnacionalização têm forte impacto
sobre o desenvolvimento econômico e social brasileiro em geral e sobre
temas como emprego e salários, violência urbana, tráfico e consumo de
drogas e saúde da população.
2. A desindustrialização e a desnacionalização têm graves
consequências para a integração sul-americana, a partir de sua base
necessária que é o Mercosul, para a posição do Brasil no mundo e, em
consequência, para sua política externa.
3. Um país com uma indústria atrasada e não-integrada é um país fraco
econômica e politicamente; um país com sua economia desnacionalizada é
um país com menor capacidade de fazer política econômica e de fazer
política externa.
Mais:
4. Algumas causas da desindustrialização são uma política cambial e
monetária que resulta, na prática, na valorização do real que estimula
as importações e prejudica as exportações; uma política comercial que
não combate com firmeza o dumping de produtos importados, o baixíssimo
preço e o subfaturamento das importações; a ausência de políticas firmes
de conteúdo nacional em áreas estratégicas como motores. A questão da
competitividade (sistema de transportes, educação, tributos, etc) como
causa da desindustrialização é complexa, suas soluções são de longo
prazo e, ainda que importantes, não evitariam o perigo que se corre, que
é atual, urgente.
5. A crise internacional e as relações comerciais com a China têm
profundo impacto sobre a desindustrialização da economia brasileira. De
um lado, a concorrência dos produtos chineses de baixíssimo preço afeta
não só as unidades produtivas instaladas como a possibilidade de
instalação de novas unidades. De outro lado, a forte demanda chinesa por
produtos primários torna os investimentos a agricultura e na mineração
mais lucrativos e, ademais, sujeitos a menor competição quando
comparados à indústria. A crise nas economias européia e americana afeta
as exportações brasileiras para a Europa (e, portanto, a lucratividade
das empresas) enquanto se reduz o comércio intra-firma de manufaturados
com os Estados Unidos, que corresponde a parte importante da pauta de
exportação.
6. A desindustrialização da economia pode ser aferida pela redução do valor relativo da produção da indústria como um todo ou
"As causas da desnacionalização são a ausência de políticas de preferência pelo capital nacional, diferindo da situação dos países desenvolvidos e dos outros Brics" |
de setores industriais específicos ou pelo aumento do percentual das
importações no valor total do consumo interno de um bem industrial ou da
indústria em seu conjunto.
7. Os argumentos que procuram demonstrar a existência de um processo
de desindustrialização através dos índices de redução da participação
dos produtos industriais na pauta de exportações ou de déficit comercial
por setores não são suficientes. A redução da participação percentual
dos produtos industriais na pauta pode resultar ou de aumento de preços
internacionais dos produtos primários ou do aumento do seu volume
exportado, sem que haja redução do valor ou do volume das exportações
industriais que podem, inclusive, ter aumentado.
8. As causas da desnacionalização são a ausência de políticas de
preferência pelo capital nacional, diferindo da situação dos países
desenvolvidos e dos outros Brics que possuem políticas, principalmente
em áreas de tecnologia sensível, que tem como beneficiárias exclusivas
empresas de capital nacional; de uma política firme de compras
governamentais (e.g. na área de computadores); de preferência ao capital
nacional nos financiamentos com recursos públicos, recursos inclusive
dos trabalhadores, como é o do BNDES.
9. A desnacionalização da economia ocorre quando se verifica uma
participação percentual crescente de empresas estrangeiras na produção
de determinado bem ou serviço específico, ou do setor industrial e de
serviços como um todo ou na produção de outros setores, tais como na
agricultura e na mineração.
10. 85% da população brasileira é urbana. Nas cidades, o emprego é
necessariamente na indústria ou em serviços. Nas cidades não há
agricultura, nem pecuária, nem mineração e, portanto, não há emprego
nesses setores que possa ser urbano. Os próprios empregos nos serviços
urbanos são profundamente vinculados à atividade industrial.
11. O desenvolvimento brasileiro significa o aproveitamento cada vez
mais eficiente de seus recursos naturais, de sua mão-de-obra e de seu
capital, o que depende da expansão e da integração física de seu mercado
interno. A desindustrialização e a desnacionalização da economia tornam
difícil este aproveitamento eficiente e, portanto, o desenvolvimento do
país. Em situações de desindustrialização ou desnacionalização, o
desenvolvimento, medido em termos de aumento do PIB, pode até ocorrer,
mas a uma taxa inferior à que seria necessária para superar a situação
de subdesenvolvimento e de pobreza em que ainda vivemos.
"O desenvolvimento industrial eficiente significa a integração da cadeia produtiva, o que significa produzir no país todos os componentes ou insumos de um produto final" |
12. O desenvolvimento eficiente dos recursos do solo e do subsolo,
através da melhor organização da agropecuária e da mineração, depende da
utilização crescente de máquinas, equipamentos e veículos que são,
necessariamente, ou produzidos pela indústria no país ou importados.
Nenhuma colheitadeira é produzida numa fazenda, nenhuma máquina
perfuradora é produzida em uma mina.
13. O desenvolvimento industrial eficiente significa a integração da
cadeia produtiva, o que significa produzir no país todos os componentes
ou insumos de um produto final, sempre que haja escala atual ou
potencial para isto, ou pelo menos a maior parte dos componentes e, em
especial, os mais estratégicos. Digo potencial, pois quando a Embraer
foi criada, por exemplo, não havia escala nacional para a produção de
aviões.
14. O desenvolvimento eficiente da mão-de-obra significa o aumento da
capacidade produtiva do trabalho em relação à mesma unidade de capital.
O aumento da produtividade do trabalho em decorrência da utilização de
unidades de capital, de equipamentos, mais eficientes significa aumento
da produtividade do capital e não do trabalho. O aumento de
produtividade do trabalho se verifica pela capacitação técnica da mão de
obra, a qual, com a mesma unidade de capital com as mesmas
características técnicas, passa a produzir mais.
15. A desindustrialização significa a redução da possibilidade de
aumento da produtividade da mão de obra em geral. Primeiro, porque a
indústria é a atividade de maior produtividade, onde a produtividade
mais cresce e de onde nasce a maioria das inovações que irão aumentar a
produtividade nos outros setores. Em segundo lugar, porque a
desindustrialização reduz a integração das cadeias produtivas e assim as
possibilidades de aprendizado que decorrem da instalação e da operação
de novas unidades de produção para preencher “lacunas” nas cadeias
produtivas.
16. A desindustrialização corresponde também à perda de emprego
potencial, já que o emprego utilizado para produzir os bens importados
pelo Brasil ocorre em outro país, o emprego é gerado em outro país.
17. Tendo em vista o grande estoque de mão-de-obra desempregada e
subempregada que existe no Brasil e sua residência nas cidades, a menor
expansão do emprego decorrente da desindustrialização da economia
contribui para maiores índices de criminalidade, de tráfico e consumo de
drogas, de incidência de doenças e para maiores despesas do Estado com
segurança e saúde.
18. A desnacionalização tem consequências importantes para o desenvolvimento tecnológico, para o grau de concorrência no
"Estas megaempresas já têm centros de pesquisa no exterior, o que leva muitas vezes ao fechamento dos laboratórios de pesquisa que existiam nas empresas por elas adquiridas no Brasil" |
mercado brasileiro e para o balanço de pagamentos do país.
19. O impacto da desnacionalização sobre o desenvolvimento e a
capacidade tecnológica, que significa a capacidade de transformar
conhecimento em patentes e em investimentos produtivos, decorre do fato
de que as empresas estrangeiras que adquirem empresas brasileiras são,
em geral, megaempresas multinacionais. Estas megaempresas já têm centros
de pesquisa no exterior, em especial nos países de sua sede, o que leva
muitas vezes ao fechamento dos laboratórios de pesquisa que existiam
nas empresas por elas adquiridas no Brasil.
20. As empresas que desnacionalizam empresas brasileiras são, em
geral, megaempresas multinacionais com muito maior capacidade financeira
e, portanto, têm maior capacidade de concorrer no mercado, de adquirir
concorrentes e de oligopolizar ou monopolizar mercados. Este “controle”
do mercado resulta em lucros maiores e lucros maiores de empresas
multinacionais significa remessas maiores para o exterior e redução da
formação de capital no Brasil, isto é, da expansão da capacidade
produtiva no Brasil, do desenvolvimento eficiente do capital.
21. A desnacionalização leva à desindustrialização. Muitas vezes as
empresas multinacionais adquirem empresas no Brasil e integram a
produção desta empresa na cadeia produtiva geral da empresa o que pode
dificultar a instalação de empresas supridoras no território brasileiro
ou mesmo levar ao desaparecimento das que existiam antes da aquisição.
22. O Brasil corre o risco simultâneo de uma especialização
regressiva na produção agropecuária e de minérios, acompanhada de uma
contração do setor industrial e de atrofia de sua capacidade tecnológica
de desenvolvimento, e de vir, assim, a se tornar uma mera plataforma de
produção e de exportação das megaempresas multinacionais, inerme objeto
de suas estratégias globais.
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