A Estação Ecológica Juréia Itatins foi criada em 1987, abrange uma área que inclui os municípios de Peruíbe, Itariri, Miracatu e Iguape e resguarda remanescentes de mata atlântica, manguezal, restinga, praia e costão rochoso.
Praia
do Caramborê, pertence a área de reserva e divide a praia da
Desertinha da Barra do Una.
( uma
pequena amostra do paraíso)
A
questão é que muitos anos antes de ganhar o status de Estação
Ecológica, toda a área de mais de 79 mil ha já era preservada e
ocupada por populações locais que não interferiram no ecossistema,
nem alteraram drasticamente esse meio. Há pessoas com mais de 80
anos que nasceram e residem até hoje por lá.
São
mais de 300 famílias e 12 comunidades adaptadas aquele ambiente, que
não pretendem, nem nunca pretenderam evadir do local. Entendem que
possuem o direito de viver lá. Direito este, que eu também
considero legítimo.
Acontece
que o Governo de São Paulo, através da Fundação Florestal (orgão
da Secretaria do Meio Ambiente) pretende realocar essas famílias,
para implantar um projeto que pretende reestabelecer a Estação
Ecológica.
Você
pode estar achando estranho eu não concordar com uma iniciativa que
prevê a conservação de uma estação ecológica. Mas nesse caso,
estou contra o realocamento dessas pessoas, por vários motivos.
É
engraçado como nesse país, homens que destruíram áreas imensas de
diferentes biomas, para criar gado, plantar soja ou cultivar qualquer
outro alimento em sistema de monocultura, que ganharam milhões
exportando seus produtos e em nenhum momento pensaram na
sustentabilidade do planeta, ainda conseguem o privilégio de não
pagar pelos seus crimes, através de uma anistia que perdoa
criminosos ambientais, e mais que isso, o direito de desmatar ainda
mais. Enquanto populações que vivem há décadas, sem causar
impactos, sem dizimar espécies sejam obrigadas a sair de suas casas
e de sua terra.
Eike
Batista, enquanto maior bilionário do Brasil, comprou milhões de
metros quadrados e não desistiu da construção de um porto em
Peruíbe. Alheio aos impactos ambientais e completamente indiferente
aos direitos dos índios e das populações locais. O petróleo fala
mais alto que qualquer brasileiro.
No
Rio de Janeiro, Sérgio Cabral chegou a alterar a legislação
ambiental, para beneficiar Luciano Huck, que burlando as leis
construiu um mansão em plena reserva em Angra dos Reis. Isso pode.
Essas
famílias não querem esses privilégios, garantidos apenas às
elites criminosas. Essas famílias querem o que lhes é de direito. A
manutenção e preservação de sua cultura e estilo de vida. O
direito de permanecerem onde nasceram. O direito de viverem
integrados a natureza. Fazendo parte do ecossistema. Resguardando sua
floresta.
Elas
querem o direito de continuar em suas casas! E não a obrigação de
abandonar os seus lares para morar em conjuntos habitacionais,
construídos e superfaturados pelo governo, que em época de eleição
há de exibir esses dados, para convencer a massa de que está
trabalhando para o bem do povo.
( E
que o povo não se esqueça, o que fez esse mesmo governo, com a
população de Pinheirinho)
Essas
famílias tem o direito de dizer NÃO à vida urbana. Dizer não aos
bairros periféricos para aonde querem realocá-las. Dizer não aos
subempregos. Dizer não à violência e a hipocrisia! Dizer não a
integrar as estatísticas que indicam a insatisfação de quem mora
nas cidades.
Se o
governo e o órgão ambiental desejam a conservação da reserva, que
desenvolvam programas sócio ambientais, que integrem comunidade e
floresta. Que gerem empregos sustentáveis, assim como acontece em
Ubatuba, com o juçaí (projeto desenvolvido pelo IPEMA, com
supervisão do Ministério do Meio Ambiente). Que fiscalizem! Que não
permitam desmatamentos, especulação imobiliária e turismo
predatório.
Seres-humanos
também fazem parte do meio ambiente. Afastar as pessoas da floresta
e promover educação ambiental nos meios urbanos não me parece
muito lógico. Despejar nativos e permitir a permanência apenas de
técnicos e cientistas, não é muito democrático também, para não
dizer elitista.
E que
não transfiram a dívida de 500 anos de retrocesso ambiental a essas
famílias. É injusto que os moradores da Juréia, paguem, sozinhos,
o preço pelo descaso secular que o homem teve com a natureza! Não
foram eles que dizimaram a mata atlântica. Eles também desejam
continuar vendo a floresta em pé. E eles merecem esse direito!
Até
porque se a reserva chegou intacta até os anos 80, não foi pela
ação dos políticos, especialistas, especuladores imobiliários,
construtores ou qualquer outra pessoa graduada que vive do lado cinza
dessa história.
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