Os
processos criminais referentes aos escândalos do Mensalão e do Vaticano
devem terminar juntos, em setembro. Por incrível que possa
parecer, esses dois processos guardam semelhanças incríveis e contrastes
interessantes.
No lado do processo de bandeira verde-amarela, aparecem como lavanderias os bancos Rural, BMG e Visanet do Banco do Brasil.
Do
lado de lá da margem romana do rio Tevere, aponta-se, como por trás do
escândalo que objetivava forçar a renúncia do papa Bento XVI, o Banco
do Vaticano, conhecido por IOR (Instituto para as Obras Religiosas).
O
IOR foi fundado em 1942. Seu maior escândalo ocorreu quando esteve sob
gestão executiva do clérigo e arcebispo Paul Marcinkus (posse em 1971 e
exoneração em 9 de março de 1989). Marcinkus, falecido em 2006 num
exílio dourado em Sun City, Arizona, começou a carreira vaticana como
guarda-costas do papa. Ficou famoso pelas alianças, com resultante crack
financeiro-institucional, com Michele Sindona, apelidado banqueiro de
Deus e da Máfia, e Roberto Calvi, do quebrado e liquidado Banco
Ambrosiano: Calvi, que estava foragido, teve o corpo pendurado, em 8 de
junho de 1982, numa ponte londrina, simulando enforcamento.
O
papa, como se sabe, tenta o milagre de por fim à lavagem de dinheiro
no Banco do Vaticano e já rodou o presidente do banco, Gotti Tedeschi.
Enquanto isso, os réus-mensaleiros (e um deles é bispo da Universal),
insistem nas sustentações que o Caixa 2 é um hábito político antigo e
de reprovação social mínima.
O mordomo do papa, preso pela Guarda Vaticana em maio
acusado de furtar documentos reservados do quarto de Bento XVI para promover fuga de notícias, é réu confesso.
No
Mensalão, os réus, aqueles com prova documental de recebimento de
dinheiro na boca do caixa, também confessaram. Só que confessaram o
crime eleitoral do Caixa 2 e não a venda de votos para as reformas da
Previdência e Tributária. A propósito, em alegações finais, o
procurador-geral Roberto Gurgel falou, consoante protestou o advogado
Márcio Thomaz Bastos, em compra de votos por ocasião da lei de Falências
e da PEC-paralela da Previdência.
No Mensalão, diversos defensores afirmaram nas sustentações orais que nem todos os envolvidos foram acusados e processados.
Até
o delegado federal que presidiu o inquérito deu entrevista a alertar
“que faltou gente na denúncia do Ministério Público federal”. Já no
Vatileaks, 25 nomes suspeitos são mantidos em segredo de sacristia e a
imprensa não descarta a existência de um purpurado, ou seja, um cardeal.
Convém frisar que ontem, no processo vaticano, foi incluído, como
corréu por crime de favorecimento ao mordomo Gabriele, o funcionário
público (do Estado do Vaticano) Claudio Sciarpelletti.
No
Mensalão, dinheiro público no importe de quase R$ 3 milhões não foi
recuperado. No apartamento do mordomo do papa, Paolo Gabriele, foram
recuperados uma pepita de ouro e um cheque de 100 mil euros, doado ao
papa, nominal e cruzado: como estava nominal e cruzado só poderia ser
descontado com endosso do papa. Também foi recuperada uma edição da
Eneida, de Virgílio, de 1581, enquanto por aqui Duda Mendonça negará, na
sustentação oral de hoje, evasão de divisas, e vai sustentar
como regular o depósito num paraíso fiscal que não é celestial.
O
mordomo já enviou ao papa uma carta de perdão. Pelo que se sabe, o
papa não pode deixar de perdoá-lo. E se perdoar, termina tudo em pizza,
ou melhor, termina o processo, fica extinta a pena e se evitam
declarações diabólicas.
Por
aqui, no Mensalão e nessa fase procedimental, não tem perdão, mas
existem esperanças por parte de alguns réus. A principal esperança é a
absolvição pela falta de comprovação, pela Procuradoria-geral de Justiça
conduzida pelo arestoso Roberto Gurgel, do Mensalão.
Wálter Fanganiello Maierovitch
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