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sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Processo do Mensalão parece com o do mordomo do papa Bento XVI


 
 
Os processos criminais referentes aos escândalos do Mensalão e do Vaticano devem terminar juntos, em setembro. Por incrível que possa parecer, esses dois processos guardam semelhanças incríveis e contrastes interessantes.
 
No lado do processo de bandeira verde-amarela, aparecem como lavanderias os bancos Rural, BMG e Visanet do Banco do Brasil.
 
Do lado de lá da margem romana do rio Tevere, aponta-se, como por trás do escândalo que objetivava forçar a renúncia do papa Bento XVI, o  Banco do Vaticano, conhecido por IOR (Instituto para as Obras Religiosas).
 
 
 
O IOR foi fundado em 1942. Seu maior escândalo ocorreu quando esteve sob gestão executiva do clérigo e arcebispo Paul Marcinkus (posse em 1971 e exoneração em 9 de março de 1989). Marcinkus, falecido em 2006 num exílio dourado em Sun City, Arizona, começou a carreira vaticana como guarda-costas do papa. Ficou famoso pelas alianças, com resultante crack financeiro-institucional, com Michele Sindona, apelidado banqueiro de Deus e da Máfia, e Roberto Calvi, do quebrado e liquidado Banco Ambrosiano: Calvi, que estava foragido, teve o corpo pendurado, em 8 de junho de 1982, numa ponte londrina, simulando enforcamento.
 
O papa, como se sabe,  tenta o milagre de por fim à lavagem de dinheiro no Banco do Vaticano e já rodou o presidente do banco, Gotti Tedeschi. Enquanto isso, os réus-mensaleiros (e um deles é bispo da Universal), insistem nas sustentações que o Caixa 2 é  um hábito político antigo e de reprovação social  mínima.
 
O mordomo do papa, preso pela Guarda Vaticana em maio 
acusado de furtar documentos reservados do quarto de Bento XVI para promover fuga de notícias, é réu confesso.
 
No Mensalão, os réus, aqueles com prova documental de recebimento de dinheiro na boca do caixa, também confessaram. Só que confessaram o crime eleitoral do Caixa 2 e não a venda de votos para as reformas da Previdência e Tributária. A propósito, em alegações finais, o procurador-geral Roberto Gurgel falou, consoante protestou o advogado Márcio Thomaz Bastos, em compra de votos por ocasião da lei de Falências e da PEC-paralela da Previdência.
 
No Mensalão, diversos defensores afirmaram nas sustentações orais que nem todos os envolvidos foram acusados e processados.
 
Até o delegado federal que presidiu o inquérito deu entrevista a alertar “que faltou gente na denúncia do Ministério Público federal”. Já no Vatileaks, 25 nomes suspeitos são mantidos em segredo de sacristia e a imprensa não descarta a existência de um purpurado, ou seja, um cardeal. Convém frisar que ontem, no processo vaticano, foi incluído, como corréu por crime de favorecimento ao mordomo Gabriele, o funcionário público (do Estado do Vaticano) Claudio Sciarpelletti.
 
No Mensalão, dinheiro público no importe de quase R$ 3 milhões não foi recuperado. No apartamento do mordomo do papa, Paolo Gabriele, foram recuperados uma pepita de ouro e um  cheque de 100 mil euros, doado ao papa, nominal e cruzado: como estava nominal e cruzado só poderia ser descontado com endosso do papa. Também foi recuperada uma edição da Eneida, de Virgílio, de 1581, enquanto por aqui Duda Mendonça negará, na sustentação oral de hoje, evasão de divisas, e  vai sustentar como regular o depósito num paraíso fiscal que não é celestial.
 
O mordomo  já enviou ao papa uma carta de perdão. Pelo que se sabe, o papa não pode deixar de perdoá-lo. E se perdoar, termina tudo em pizza, ou melhor, termina o processo, fica extinta a pena e se evitam declarações diabólicas.
 
Por aqui, no Mensalão e nessa fase procedimental, não tem perdão, mas existem esperanças por parte de alguns réus. A principal esperança é a absolvição pela falta de comprovação, pela Procuradoria-geral de Justiça conduzida pelo arestoso Roberto Gurgel, do Mensalão. 
 
Wálter Fanganiello Maierovitch

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