Porquê "democracia e miséria são incompatíveis"
Natasha Ísis
do Canal Ibase
Há 15 anos morria Herbert José de Souza, o Betinho,
vítima de Aids. Sociólogo, como gostava de ser qualificado, e ativista
em prol da justiça social, ele tinha, segundo relato de amigos, mais
vocação para ação do que para sistematização de suas teses e
pensamentos.
“É um homem de pensamento, sim, mas para
a ação aqui e agora, para a urgência da mudança capaz de trazer um
pouco de humanidade a quem está excluído e sofre”, escreveu em janeiro
de 1997, o sociólogo e atual diretor-geral do Ibase, Cândido Grzybowski.
A personalidade sensível para as questões sociais e o
comportamento voltado para a ação levaram Betinho a criar projetos que
mudaram a história do país e que até hoje impulsionam novas
transformações. “As bandeiras ainda estão vivas. Há vários exemplos,
como o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional,
que foi criado depois que Betinho chamou a atenção do país para a
questão da fome. Ao descobrir que estava com Aids contribuiu muito para o
movimento de conscientização da doença, que resultou na regulamentação
dos bancos de sangue, uma determinação da Lei do Sangue ou Lei Betinho”,
diz a historiadora e pesquisadora Dulce Pandolfi, autora do livro “Um abraço, Betinho”.
Ele atuou em diversas frentes e criou movimentos do porte da Ação da Cidadania,
que resiste até hoje realizando ações de combate à fome e a miséria no
país, e que pavimentou o terreno para a criação de políticas públicas
para o setor, como o Fome Zero. Na ocasião do lançamento da campanha, em 1993, Betinho foi assertivo ao dizer: “democracia e miséria são incompatíveis”.
A criação do Instituto de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), em 1981, foi outro legado importante de Betinho. Há 30 anos, a entidade dá continuidade ao seu trabalho, apostando em projetos de cidadania ativa.
Ao descobrir que estava com AIDS, Betinho não só não se abateu como
tornou o seu drama pessoal uma nova motivação para o seu trabalho. O
sociólogo decidiu que era hora de mobilizar a sociedade brasileira para
que houvesse uma consciência maior do que se tratava o HIV/AIDS e formar
uma rede de solidariedade. Assim foi criada a Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS
– ABIA. Desde 1986, a Associação mantém vivo o trabalho idealizado por
Betinho, acompanhando as políticas públicas de saúde, estimulando a
educação e prevenção, exigindo tratamento e assistência, tudo com base
numa política de direitos humanos.
“Betinho assumiu diversas bandeiras e tinha uma
capacidade única de sensibilizar muitos setores da sociedade que até
então eram indiferentes a essas lutas. Isso permitiu a sobrevivência das
suas ideias”, observa Dulce Pandolfi.
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