..." se fosse tão fácil levar Gilmar no bico, ele não teria chegado aonde chegou" .
Reportagem desmonta armação do ministro, aponta nova operação envolvendo “Veja” e sugere que estratégia é enterrar CPI do Cachoeira
Por Luis Nassif
A última edição da Carta Capital, matéria de Cynara Menezes, liquida de vez com o factoide Veja-Gilmar, meramente juntando a lógica com as diversas versões apresentadas por Gilmar.
Primeiro, desmascara o teatro da indignação de Gilmar com o encontro.
Ele não se coaduna com uma espera de 30 dias, sem sequer comentar o
episódio com seus colegas de Supremo.
A revista mostra que o único
comentário foi com o presidente Ayres Brito, na 4ª feira anterior à capa
da Veja. E teria sido uma conversa informal, papo de
cafezinho, sem nenhuma dramaticidade. Provavelmente apenas para dar um
gancho para a inclusão do ingênuo Ayres na matéria da Veja.
Depois, alinhava as diversas versões de Gilmar para o encontro,
mostrando o festival de contradições. A reportagem da revista sustentava
que Nelson Jobim não ouviu toda a conversa (uma maneira de
desqualificar a negativa de Jobim sobre a versão de Gilmar); em uma das
inúmeras entrevistas, o próprio Gilmar garante que sim.
Na versão da revista, houve pressão explícita de Lula para adiar o
mensalão.
Na entrevista de Manaus, Gilmar diz que houve uma breve menção
ao mensalão que ele (trinta dias depois) intuiu ter sido pressão.
É certo que houve intriga da pesada de duas experientes jornalistas –
uma da TV Globo, outra da Globonews. Algumas versões supõe que o
explosivo Gilmar tivesse sido envolvido pela intriga. Mas se fosse tão
fácil levar Gilmar no bico, ele não teria chegado aonde chegou.
O mais provável é que sua estratégia tenha sido montada rapidamente,
depois do Ministro Ricardo Lewandovski, do STF, ter assumido as rédes da
Operação Monte Carlo e liberado as chamadas gravações de conversas
fortuitas não incluídas no relatório da PF.
É curioso também como mudou o comportamento da velha mídia em relação
a Lewandovski – alvo de uma quebra de sigilo, quando filmadas as
mensagens que trocava com uma colega, em uma sessão do Supremo. Agora, é
tratado com deferência. A mudança se deve ao poder de que Lewandovski
se viu revestido.
Agora, por sua posição no caso, tem poderes quase absolutos. Coube a
ele quebrar o sigilo de todo mundo em Goiás. Pode convocar a Polícia
Federal, pedir informações, quebrar sigilos.
Além da reportagem da Veja, mudou completamente o
comportamento de Gilmar em relação ao Ministério Público Federal e ao
próprio mensalão. De uma hora para outra criou caso com Lewandovski,
pressionando-o a apressar o relatório.
Do mesmo modo, depois de qualificar o MPF como “milícias” – na
Operação Satiagraha -, de repente tomou as dores do Procurador Geral
Roberto Gurgel.
Se o relatório tivesse sido entregue no prazo pelo qual a mídia
pressionava, o julgamento começaria no dia 5 de junho. E, aí, adeus CPI
do Cachoeira. Todos os jornais e a Rede Globo centrariam fogo no
julgamento do mensalão, abafando completamente a CPI.
Por aí é possível entender a agonia de Gilmar, pressionando pelo relatório de Levandovski.
Celso Melo e Marco Aurélio Melo já se manifestaram contra essa
pressão da velha mídia. E consideraram que a pressão procura transformar
o julgamento quase em um rito sumário, prejudicando o direito de
defesa. Celso de Melo já opinou que a criação de um mutirão para
acelerar o relatório comprometeria o rito legal da corte.
Não se tenha dúvida de que o julgamento do mensalão está sendo
considerada a tábua de salvação dos possíveis alvos da CPI de Cachoeira.
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