Sindicato dos Servidores Públicos do Judiciário Estadual na Baixada Santista, Litoral e Vale do Ribeira do Estado de São Paulo
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domingo, 10 de junho de 2012
A crise da razão e a destruição do mundo
por Mauro Santayana
Grandes pensadores, e não
apenas os sacerdotes menores, recorrem ao mito de Adão, a fim de
associar o fim da inocência ao pecado. Uma teologia mais alta repelirá a
idéia ortodoxa: Deus, existindo, não criaria seres dotados das sementes
da inteligência para serem parvos. Ao dotá-los da mente, dotou-os,
naturalmente, da dúvida e da busca da verdade. Da busca da verdade,
ainda que não do encontro desta mesma verdade.
A verdade absoluta, como
todas as idéias que ocupam a inteligência do homem, é uma categoria de
fé.
Apesar da advertência de que só ela nos libertará, nunca a teremos, a
não ser cada um de nós em sua própria fé. Aquilo em que cremos – mesmo a
dúvida – é a nossa verdade.
Em todos os tempos, convivemos
com o conflito entre os grandes pensadores e os reitores das sociedades
políticas. O poder – e a tese se alicerça nos fatos históricos – sempre
esteve associado ao medo, à loucura e à fome do ouro. Cabe, assim, aos
que pensam, moderar os desatinos dos poderosos e – quando a situação de
insensatez chega ao insustentável – favorecer o retorno à normalidade.
Esse retorno se faz com as revoluções, não necessariamente sangrentas.
Na visão de Vitor Hugo – e a citação é sedutora – o poder muitas vezes
se sustenta em ficções rendosas, e a tarefa da revolução é a de promover
o retorno da ficção à realidade.
A realidade está submetida à
necessidade, que é a grande legisladora, e que atua, de tempo em tempo,
para corrigir os seus desvios, ou seja, restituir o real ao campo do
necessário. É assim que podemos pensar um pouco na questão chave de
nossos dias, a da preservação da vida na Terra.
Uma inteligência do Universo,
se houvesse alguma além dos homens – mesmo sendo a divina – talvez
chegasse à conclusão de que a espécie humana perdeu a sua razão de ser. A
mente dos homens – seu atributo maior – abandonou a sua razão
essencial, que era a de contemplar o mistério do universo, tanto nas
grandes constelações e galáxias, como no vôo de um inseto e buscar o seu
sentido. Ao contrário, vem pretendendo fazer do Universo um submisso
servidor.
O homem não convive mais com o
mundo, mas o agride com a plena consciência do crime. Ele pode, e deve,
usufruir dos bens do planeta, mas não destruí-los, sem que se destrua a
civilização que conhecemos. Há uma razão para que a visão estética do
mundo e a construção de planos mentais se reúnam no vocábulo grego
teoria, contemplação. Conciliar a contemplação do mundo com o projeto,
que transforma o homem em criador e êmulo da natureza, é associar a
idéia do desígnio, de Prometeu, à da esperança, de Epimeteu.
Há quarenta anos que a
comunidade internacional se reúne periodicamente, para discutir o estado
do planeta. O "Jornal do Brasil", então, ao noticiar a Primeira Conferência
do Meio Ambiente realizada em Estocolmo, em 1972, deu às matérias um
titulo geral que continua válido: A Terra está doente. A agressão
continua, até mesmo no simulacro de providências, que agravam o
problema, em lugar de resolvê-lo, como as ONGs e os protocolos daqui e
dali, para iludir os bem intencionados e fazer a fortuna dos espertos.
A ciência em pouco tem
contribuído para resolver o problema. Ao contrário, as grandes
descobertas científicas, sobretudo as do campo da química e da
bioquímica, têm agravado o quadro de caquexia geral do planeta – como é o
caso dos defensivos agrícolas e da engenharia genética, com as sementes
transgênicas. As multinacionais do agronegócio, que criam sementes
transgênicas e agrotóxicos assassinos, se associam aos gananciosos
produtores de grãos, senhores de vastas extensões de terras férteis.
Esses empreendedores, se
optassem por uma agricultura mais racional, teriam, segundo alguns
especialistas, mais retorno econômico e preservariam o solo, as águas, o
meio ambiente, enfim, o futuro. Um exemplo da insensatez da tecnologia
capitalista na produção rural é o caso da superprodução de leite na
Europa, com vacas alimentadas com proteínas vegetais – como a soja –
importadas dos paises em desenvolvimento. Com o excesso, produzem leite
em pó, que é depois reconstituído para alimentar os bezerros – e liberar
mais leite para o mercado, ou seja, para a superprodução e o retorno
aos bezerros. É o lucrativo ciclo da insensatez.
A razão capitalista impede que
esse leite possa salvar da morte milhares de crianças na África. É
provável que nessa razão prevaleça a idéia dos clubes de blidelberg do
mundo (que são vários) de que o planeta será muito melhor e mais
saudável sem os pobres.
Entre outras formas de tornar
impossível a sobrevivência dos homens e de outras manifestações de vida
no planeta, encontra-se, em primeiro lugar, esse modelo de produção de
nossos dias, que se revela no prefixo trans. É um recurso da tecnologia,
como tantos outros, para servir ao lucro imediato, à fome do ouro, a
que se refere Lucrécio.
A Conferência que se abre no
Rio não conduzirá a resultados realmente importantes se for movida pela
idéia de que a ciência e os bons sentimentos poderão salvar o mundo.
A
questão é política, de poder.
E enquanto o poder estiver, como está
hoje, na mão dos banqueiros e dos grandes conglomerados industriais, que
controlam as universidades, os laboratórios de pesquisas, os grandes
meios de informação universal, e remuneram cientistas, tecnólogos e,
sobre todos eles, os políticos e os policy makers, o planeta continuará a
ser deliberadamente assassinado, em benefício de algumas famílias. Elas
mesmas já desertaram da espécie humana e, em seu egoísmo doentio, vivem
as ficções rendosas.
O mundo está à espera de que a
necessidade imponha aos homens a ação imediata para o retorno à
realidade, enfim, à normalidade, à solidariedade que salvará o planeta. E
convém lembrar que norma, em latim, é a denominação do esquadro, que
marca o ângulo reto, princípio imemorial das construções sólidas.
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