O movimento sindical brasileiro passou por várias fases em sua curta, mas fértil, história de lutas, com muitas conquistas e muitas derrotas, sempre em busca de melhores condições de trabalho, de salário e, consequentemente, de vida.
Seus primeiros passos, no início do século XX, foram marcados pelo
confronto ideológico com o capital, uma inspiração do movimento
anarquista que havia crescido na Europa, no século XIX, e ganhava
espaços na incipiente classe operária brasileira.
A partir do ano de 1922, com o surgimento do Partido Comunista
Brasileiro, travou-se séria disputa pela hegemonia das lutas operárias
no Brasil, entre a militância do PCB e dos anarquistas, com vitalização
das lutas operárias e o crescimento dos sindicatos livres, classistas,
muitas vezes com propostas revolucionárias. Mas também com o germe da
divisão da esquerda, na luta pelo comando do movimento sindical livre.
Getúlio Vargas, ao assumir o governo, em 1930, provoca substanciais
mudanças nos rumos do sindicalismo brasileiro, impondo sua legalização,
seu atrelamento ao Ministério do Trabalho, colocando-o oficialmente como
colaborador do Estado. Negou aos trabalhadores todo e qualquer direito
de organização a partir do local do trabalho, enquanto concedeu plenos
poderes para o empresariado. Segundo sua concepção, seria necessário ter
o controle do movimento operário para garantir o crescimento da
industrialização nacional, sem maiores percalços. Inteligentemente,
passou a conceder uma série de direitos reivindicados pelas lutas
operárias das duas primeiras décadas do século XX: jornada de 8 horas,
férias de 30 dias, posteriormente a implantação do salário mínimo aos
trabalhadores urbanos, entre outros direitos. Como se diz no interior,
Vargas deu uma no cravo e outra na ferradura: atendeu parte das
reivindicações históricas, mas colocou rédeas nos sindicatos; favoreceu
enormemente a indústria nacional, mas concedeu alguns dos direitos
reclamados pelos trabalhadores.
Muitos anos se passaram, o sindicalismo oficial teve momentos de
crescimento, apesar do seu atrelamento ao Estado, conseguiu mais algumas
conquistas, como o 13º salário, e passou a bater de frente contra o que
se chamava na época aos interesses das multinacionais, sob a tutela do
governo dos Estados Unidos. O golpe militar de 1964 silenciou a classe
operária, interveio nos sindicatos, amordaçou e impôs derrotas aos
trabalhadores.
Novas formas de organização operária, porém, foram se criando, à
revelia da ditadura. A organização clandestina no chão da fábrica ganhou
forças e, apesar da cruel repressão, acumulou forças, até que sua força
reprimida viesse à tona, com novo vigor, em 1978, a partir da greve da
Scania, e sua expansão pelo ABC, São Paulo e outras cidades do país.
Esse novo vigor operário revelou que era possível ir adiante, abrir
novos espaços na vida política nacional e participar das mudanças que o
povo brasileiro tanto exigia. A fundação da CUT em 1983 – além do PT e
PC do B – foi o passo mais significativo do novo momento operário
brasileiro. Mas o capital “não dormiu de botina”, trabalhou em surdina,
usou de todos os recursos disponíveis para cooptar parte significativa
das direções sindicais. Três meses após a fundação da CUT, nova central
foi criada, a CGT, dividindo politicamente o movimento dos
trabalhadores. Em 1991, com o apoio ostensivo de Collor de Mello e de
empresas nacionais e multinacionais, nova central se cria: a Força
Sindical, que introduziu o sindicalismo de “resultado”, em que
trabalhadores de uma empresa vendem seus dedos em troca de alguns anéis
de vidro.
Mas a CUT era a verdadeira face do movimento sindical combativo e
classista. E assim permaneceu até declaradamente trocar as lutas
operárias pelo projeto petista de colocar Lula na presidência do país, a
qualquer preço. E o capital aceitou o desafio, passando a cortejar
Lula, o PT e até o PC do B. Assim, a CUT se empenhou com todas as forças
para eleger seu presidente, jogando a luta e a unidade dos
trabalhadores na lata do lixo. PT, PC do B e CUT passaram a manipular
suas bases e a desestimular a mobilização dos trabalhadores. Lula na
presidência, campanha bancada com muito dinheiro do capital, levou
consigo para o Planalto seus companheiros da central cutista e cooptou
as direções das outras centrais, especialmente da Força (ou Farsa)
Sindical.
Se a Força Sindical já era do capital, agora já não estava só nessa
tarefa. Tinha a toda poderosa CUT ao seu lado. E juntas tramam o assalto
aos direitos dos trabalhadores, aprovando as alterações constitucionais
que permitem eliminar tais direitos (conquistados ao longo dos anos com
muita luta e muito sangue de operários e trabalhadores do campo).
Trechos de uma matéria são bem elucidativos dessa adesão das centrais
sindicais aos interesses do capital: o comentário é de Cesar Sanson, professor de Sociologia do Trabalho na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e colaborador do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Eis parte do artigo.
“As centrais sindicais, entre elas a CUT e a Força Sindical,
anunciaram que a partir de agora terão um espaço permanente de
negociação com o governo, ou seja, passarão a sentar-se regularmente no
Palácio do Planalto para negociações.
As centrais sindicais conseguiram o que está distante para outros
movimentos sociais, como, por exemplo, o movimento indígena. Como
destacamos em recente análise de conjuntura, o governo não tem problemas
em receber e conversar com movimentos que estão na esfera
produtivista-consumista, na esfera do formal, subordinada ao modelo
fordista-desenvolvimentista. Demonstra, porém, enorme dificuldade em
dialogar com os movimentos ‘étnicos’, com os movimentos que estão fora
da lógica formal ou que não aceitam e resistem subordinar-se à sua
agenda.
A Mesa Permanente de Negociação das centrais com o governo
começa, entretanto, com uma agenda imposta pelo Palácio do Planalto.
Foram deixados de fora o fim do fator previdenciário e a redução da jornada de trabalho para
40 horas, exatamente os dois pontos que as centrais mais queriam
discutir. As centrais aceitaram que os dois pontos ficassem de fora da
agenda em troca da promessa que mais à frente poderão ser discutidos.
O governo sugere oito pontos para a conversa. O mais relevante,
entre eles, é o Projeto de Lei 4330 que prevê regulamentação da
terceirização, leia-se institucionalização... O restante diz respeito a
uma agenda que já vem sendo discutida e implementada, não haverá ganhos
significativos, pois são conteúdos que não incomodam o capital.
Chama ainda atenção o fato de que na Mesa Permanente de Negociação
não foi pautado o tema da desindustrialização – tema dos mais
importantes e que vem pulverizando os melhores empregos no mercado de
trabalho. Tampouco foram incluídas nas negociações contrapartidas
criando mecanismos de estabilidade no emprego para as empresas que
recebem generosos subsídios do BNDES. Recentemente, a General Motors em São José dos Campos, depois de receber dinheiro do governo, demitiu 600 trabalhadores.
Resumindo, o que está posto na Mesa Permanente de Negociação
é muito pouco para o histórico de lutas, reivindicações e bandeiras
construídas pelo movimento sindical brasileiro. É um enorme retrocesso e
revela certo adesismo das centrais por não terem exigido a inclusão da
redução da jornada de trabalho. O que vem sendo anunciado como uma
conquista das centrais – um canal aberto e direto para negociações – é
quase nada, ainda mais quando se considera que o atual governo tem
parcela de sua origem no próprio movimento sindical”.
Em síntese, o que os dirigentes dessas centrais realmente querem é
ter espaços políticos ao lado de quem dirige o país em favor das grandes
empresas nacionais e internacionais. Para enganar suas bases, tais
dirigentes fazem longos discursos, ocupam espaços na mídia conservadora,
organizam shows financiados pelo capital e manifestações públicas com a
presença de aposentados e desempregados bem remunerados. Quando não
alcançam seus espaços, fazem a chantagem visando cacife para galgar os
escalões da política tupiniquim, mas que em nada interessa ao povo
trabalhador. Praticam, de fato, verdadeira Farsa Sindical.
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Sindicato dos Servidores Públicos do Judiciário Estadual na Baixada Santista, Litoral e Vale do Ribeira do Estado de São Paulo
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domingo, 26 de maio de 2013
A farsa sindical das centrais
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