Cláudio Guerra afirmou que os recursos vinham de bancos e de empresas, como a Ultragas e o jornal Folha de S. Paulo. “Frias visitava o DOPS, era amigo pessoal de Fleury”
Do portal Terra, via Viomundo
O ex-delegado da Polícia Civil Claudio Guerra afirmou nesta
terça-feira, à Comissão Municipal da Verdade de São Paulo, que foi o
autor da explosão de uma bomba no jornal O Estado de S. Paulo,
na década de 1980, e afirmou que a ditadura, a partir de 1980, decidiu
desencadear em todo o Brasil atentados com o objetivo de desmoralizar a
esquerda no País.
“Depois
de 1980 ficou decidido que seria desencadeada em todo o País uma série
de atentados para jogar a culpa na esquerda e não permitir a abertura
política”, disse o ex-delegado em entrevista ao vereador Natalini (PV),
que foi ao Espírito Santo conversar com Guerra.
No depoimento, Guerra afirmou que “ficava clandestinamente à
disposição do escritório do Sistema Nacional de Informações (SNI)” e
realizava execuções a pedido do órgão.
Entre suas atividades na cidade de São Paulo, Guerra afirmou ter
feito pelo menos três execuções a pedido do SNI. “Só vim saber o nome de
pessoas que morreram quando fomos ver datas e locais que fiz a
execução”, afirmou o ex-delegado, dizendo que, mesmo para ele, as ações
eram secretas.
Guerra falou também do Coronel Brilhante Ustra e do delegado Sérgio
Paranhos Fleury, a quem acusou de tortura e assassinatos. Segundo ele,
Fleury “cresceu e não obedecia mais ninguém”. “Fleury pegava dinheiro
que era para a irmandade (grupo de apoiadores da ditadura, segundo
ele)”, acusou.
O ex-delegado disse também que Fleury torturava pessoalmente os
presos políticos e metralhou os líderes comunistas no episódio que ficou
conhecido como Chacina da Lapa, em 1976.
“Eu estava na cobertura, fiz os primeiros disparos para intimidar.
Entrou o Fleury com sua equipe. Não teve resistência, o Fleury
metralhou. As armas que disseram que estavam lá foram ‘plantadas’,
afirmo com toda a segurança”, contou.
Guerra disse que recebia da irmandade “por determinadas operações
bônus em dinheiro”. O ex-delegado afirmou que os recursos vinham de
bancos, como o Banco Mercantil do Estado de São Paulo, e empresas, como a
Ultragas e o jornal Folha de S. Paulo. “Frias (Otávio, então
dono do jornal) visitava o DOPS (Departamento de Ordem Política e
Social), era amigo pessoal de Fleury”, afirmou.
Segundo ele, a irmandade teria garantido que antigos membros até hoje tivessem uma boa situação financeira.
‘Enterrar estava dando problema’
Segundo Guerra, os mortos pelo regime passaram a ser cremados, e não
mais enterrados, a partir de 1973, para evitar “problemas”. “Enterrar
estava dando problema e a partir de 1973 ou 1974 começaram a cremar.
Buscava os corpos da Casa de Morte, em Petrópolis, e levava para a Usina
de Campos”, relatou.
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