Muitos alunos e seus pais se perguntam se a greve dos professores é realmente necessária. Não será a greve um ato extremo?
A que se fazer outra pergunta: será extrema a situação dos professores brasileiros a ponto de se justificar uma greve?
Iniciemos com valores, ou seja, o salário do professor. De acordo
com a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e
a Cultura) o salário do professor brasileiro é o terceiro mais baixo
ente 38 países. No Estado de São Paulo o valor hora/aula chega a ser
menor do que cinco reais e se considerarmos a rede privada esse valor
pode ser ainda menor.
Um professor que recebe este salário apresenta dificuldades para
alimentar até mesmo a sua família. Com salários defasados, que não são
corrigidos de acordo com a inflação, fica inviável qualquer tipo de
acesso social. Milhares de professores passam a vida toda sem poderem ir
ao teatro, ao cinema, ao circo com seus filhos porque o motivo é obvio:
o salário não permite este tipo de “luxo”.
Um professor para poder ensinar deve estar bem alimentado, alinhado
com suas necessidades materiais (e vejam que isso é a necessidade mais
animal que possuímos) e culturais. Entretanto, como os salários
defasados (ou atrasados) e com a precariedade cada vez maior nos espaços
de ensino, fica cada vez mais difícil ser professor nos dias de hoje.
De acordo com DIEESE, o salário mínimo no mês de abril de 2013 deveria
estar nas casas dos 2800,00 reais e o que vemos é absurdamente diferente
disso. Observem que as palavras não são inocentes: Salário mínimo; ou
seja, uma quantidade de valor que se recebe e que é o mínimo necessário
para a reprodução da vida… E como apontei antes… A vida não é apenas o
saciar da fome, as necessidades materiais como vestir, morar, se
transportar. Isso é o elementar da existência, e para além desta
necessidade, o professor (assim como todos os trabalhadores) possuem
outras necessidades. O Professor, especificamente, para poder ensinar
seus alunos além de bem alimentado (assim como os alunos) deve estar bem
formado, buscando constantemente sua formação humana. O Professor além
de comer deve possuir bons livros, bons meios de se comunicar com o
mundo, estar sintonizado na realidade social, cultural, economia e
política. Assim ele poderá apresentar uma pratica de ensino para seus
alunos que seja capaz de contribuir para o desenvolvimento histórico da
humanidade. Ele necessita possuir referências para possibilitar o
desenvolvimento de referências em seus alunos (nossos filhos e filhas).
Um professor que sequer consegue atender as suas necessidades mais
animais fica fragilizado para proporcionar uma prática de ensino
realmente de qualidade. Como é que o professor contribuirá para uma
educação realmente de qualidade se este não possui nem mesmo qualidade
em seu corpo? Como é que nossos filhos poderão se referendar socialmente
aos seus professores se estes são tratados com desprezo e exploração
pelos governos? Como é que nossos filhos irão aprender se o educador é
tratado como cachorro pelo Estado?
Imagino que a situação é de extrema violência contra os trabalhadores
no mundo. Neste caso, dos professores e a greve, estou convencido de
que a situação de extrema precarização é que impõem a necessidade de
greve. A greve não é uma situação extrema. Ela é uma manifestação mínima
e legitimada pela própria ideia de direito na sociedade capitalista e
que os extremizados devem utilizar todas as vezes que a exploração der o
seu mínimo sinal de existência!
E, por isso, termino dizendo que ato extremo é ver nossos filhos
sendo degolados pelas falácias do Estado e não fazermos nada. Ato
extremo é não estarmos na mesma trincheira daqueles que ensinam nossos
filhos a serem verdadeiros e não serem covarde diante das injustiças.
Ato extremo é ver aquele que ensina como inimigo. E, o extremo de tudo
isso, é deixar nossos filhos e alunos jogados em um mundo de faz de
contas enquanto o futuro lhes espera com crocodilos famintos.
Como parte de uma luta internacional, todos à greve já!
Por Jean Paulo Pereira de Menezes
Professor do sistema público e privado, pai e avô
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