Em entrevista para Caros Amigos, o filósofo e professor universitário
Vladimir Safatle avalia o quadro político nacional e suas implicações
no processo de eleições municipais no Brasil. Para ele, as eleições
serão marcadas pela expressão de um descontentamento com a vida
partidária do País. Ainda terão, como elemento característico, a
ausência de planos e proposições mais efetivas por parte da maioria dos
candidatos, enquanto, em contraposição, as cidades vivem a degradação
aliada à falta de intervenções urbanas. O intelectual alerta ainda: na
sua avaliação, o modelo político inaugurado pelo ex-presidente Lula
caminha para o esgotamento e, nos próximos anos, o País tende a viver
uma situação socialmente explosiva.
Caros Amigos - Você
disse, recentemente, que a política contemporânea tende a ir para os
extremos na Europa, mas que aqui na América Latina é diferente. Sobre o
Brasil, especificamente, como você caracteriza o quadro político atual e
as perspectivas em curto prazo?
Vladimir Safatle -
Eu acho que esse processo de deslocamentos para os extremos vai ocorrer
no Brasil, mas talvez num tempo mais alongado. Não é como o que
acontece agora na Europa, onde essa tendência já é muito vivida. Lá, nos
dois polos tem uma tendência à radicalização através da reconstrução do
núcleo duro da extrema direita e também da renovação dos partidos de
esquerda.
"É muito provável que nos próximos anos exista um espaço grande para uma radicalização no Brasil" |
No Brasil, há de se creditar a dinâmica peculiar da nossa política ao
grande acordo que foi o lulismo. Foi um acerto impressionante em que o
Lula conseguiu transpor para dentro do Estado brasileiro todas as
tendências contraditórias da sociedade civil e ele arbitrava como se
fosse um mediador universal. Então, por exemplo, o embate entre o
monetarista e o desenvolvimentista, entre o Ministério do Planejamento e
Ministério da Fazenda e o Banco Central; o embate entre o agronegócio e
o meio ambiente, entre o Ministério da Agricultura e o do Meio
Ambiente; entre os defensores dos direitos humanos e militares, entre
Ministério da Defesa e a Secretaria de Direitos Humanos e por aí vai.
Tudo isso permitiu que, de uma certa forma, o lulismo aparecesse como um
esquema de acordos nacional. Só que esses acordos têm um preço e ele é
muito alto. E talvez nós não consigamos mais pagá-lo. Então, é muito
provável que nos próximos anos exista um espaço grande para uma
radicalização no Brasil.
CA - E a Dilma mantém essa característica do Lula de grande mediador?
VS - A Dilma
não tem o capital simbólico que o Lula tem para operar esse papel,
porque ele exige que a pessoa seja reconhecida pelos atores como um dos
seus de uma certa forma e a Dilma não tem condições de desenvolver isso.
É bom lembrar que vários setores que apoiaram o governo Lula, de uma
certa maneira a esquerda do governo, se mostram muito mais
desconfortáveis com a Dilma, a começar pelos sindicalistas. Isso indica,
entre outras coisas, que o governo Dilma tem uma característica de ser
alguém que estabilizaria as coisas, mas para criar essa estabilização
ela optou por uma espécie de governo gerencial. E um governo gerencial é
um governo que tem limitações profundas na implementação de reformas.
Por exemplo, reformas vinculadas ao funcionamento da vida política,
sobre a maneira como o Estado se financeiriza e se capitaliza para
enfrentar prioridades sociais e coisas dessa natureza. E ela não tem
essa margem de manobra, até porque para ter essa margem ela teria que
sair do lulismo e estabelecer um governo de confrontação com certos
setores da sociedade, coisa que ela não está disposta a assumir. Então,
tudo isso abre um campo para o esgotamento do modelo que a gente vai ver
nos próximos anos.
CA - Por uma falta de políticas sociais mais expressivas?
VS - Eu posso dar um exemplo muito concreto, nesse sentido: a greve dos professores federais. O governo apareceu para a opinião
pública durante a campanha como um governo que seria pautado por dar
prioridade nacional à educação. E isso significa não só melhorar a
qualidade da nossa educação, mas também garantir um sistema público,
universal e de qualidade. Bem, não há nenhum projeto no governo daqui a
50 anos que vise transformar o ensino fundamental e médio em um ensino
público de qualidade, no qual inclusive a classe média pudesse se
beneficiar. Não há nada nesse sentido. E, quando os professores
universitários, por exemplo, falam que é necessário um investimento de
outra natureza na universidade pública, isso não pode ser feito como há
cinto ou seis anos até porque houve um ciclo de expansão da universidade
e ele criou novas demandas. Existe uma pressão por produtividade, e
isso exige também que você tenha professores muito mais comprometidos.
Tudo isso é possível, mas tem que ter investimento. E quando o
Ministro da Fazenda diz que 10% do PIB para educação quebraria o País,
ele está dizendo claramente que não tem condição de levar essa proposta
de construção do sistema público como uma proposta prioritária. E isso
impacta em todo o processo de acensão social que é próprio do lulismo.
O lulismo foi financiado graças à experiência concreta de ascensão
social de uma larga parcela da população brasileira, só que esse
processo de ascensão não tem mais como continuar. Estamos vendo a figura
lenta do processo de desaceleração não só da economia, mas desse
processo de acensão social. Veja, isso é um dado muito concreto. Uma
família, hoje, que está na nova classe média gasta pelo menos um terço
do seu salário com saúde e educação privadas. Ela precisaria, para
continuar sua ascensão, ter esse dinheiro de volta e para isso o Estado
deveria ser capaz de garantir esse serviço e ele não tem nenhuma
condição de fornecer isso dentro desse modelo econômico que impera. E
nós temos um processo de degradação contínua dos salários, temos um
processo de aumento exponencial do custo de vida, dos aluguéis - hoje
tem cidades brasileiras que estão entre as 20 mais caras do mundo. E
ainda com uma desigualdade que é a quarta maior dentro da América
Latina. Então, é uma situação que tende a ser socialmente explosiva nos
próximos anos.
CA - E é nesse momento
que tenderemos a essa polarização que vemos hoje na Europa, de uma
radicalização da esquerda e também do fortalecimento da direita?
VS - Eu
acredito que há um espaço de reconfiguração de uma esquerda mais clara e
também mais propositiva. E, por outro lado, tem um espaço de construção
de um núcleo conservador nacional, que é patrocinado pelo
conservadorismo como uma bandeira política clara. E também por setores
que não têm condições de acertos com o passado da história brasileira,
haja visto o nível da gritaria que as discussões sobre a Ditadura
Militar ainda criam - e também são setores que têm um profundo
ressentimento de classe que nunca foi escondido. Então, existe aí um
novo caldo dentro da política nacional que ainda não foi percebido
claramente, mas isso é uma questão de anos.
CA - Você citou a
necessidade de saúde e educação pública, mas disse que o lulismo, para
assumir esse papel de mediação, não se comprometeu com essas reformas.
Quais seriam as reformas que o País precisa, as mais latentes?
"A constituição de um sistema público de qualidade de saúde e educação é uma política revolucionária, é uma revolução social no Brasil. Isso exige, por um lado, uma capitalização do Estado que faria com que ele fosse obrigado a taxar, de maneira mais efetiva, os setores que nunca pagaram imposto nesse País" |
VS - A
constituição de um sistema público de qualidade de saúde e educação é
uma política revolucionária, é uma revolução social no Brasil. Isso
exige, por um lado, uma capitalização do Estado que faria com que ele
fosse obrigado a taxar, de maneira mais efetiva, os setores que nunca
pagaram imposto nesse País. Criar imposto sobre grandes fortunas,
imposto sobre transações financeiras e coisas dessa natureza. Por outro
lado, isso faria com que uma larga parcela da população brasileira
tivesse um aumento real nos seus salários pelo simples fatos de eles
terem esses gastos desonerados dos seus salários. Mas, defender o
aumento de impostos para ricos e demonstrar o conflito de classes no
sistema brasileiro é algo fora do espectro do lulismo.
Essa política significa sustentar uma radicalização política que está
longe do programa consensual que foi desempenhado durante muito tempo. É
preciso que se lute, de maneira definitiva, contra a desigualdade
social já que nosso modelo de desenvolvimento ainda é um modelo de
capitalização profunda das classes mais abastadas. Uma capitalização
que, inclusive, aumenta o custo de vida em geral expressivamente, porque
você tem uma parcela da população que vive de forma nababesca e empurra
os preços para cima. E colocar esse tipo de pauta dentro do debate
político é sair completamente desse perfil de coalizão que foi
implementado durante o governo Lula.
CA - E qual sua
opinião sobre o tema corrupção, que foi amplamente explorado pela grande
mídia com o julgamento do mensalão em agosto, mas sem abordar o
problema de uma forma profunda?
VS - Há um
problema to não só do Estado brasileiro, mas da política nacional. Essa
história do mensalão poderia ter sido um grande momento da política do
País se, de fato, ele tivesse servido para mostrar de maneira clara o
funcionamento do sistema partidário e do sistema eleitoral do Brasil. Ou
seja, como todos os partidos, sem exceção, utilizaram financiamentos
escusos para transformar o Brasil numa plutocracia, numa democracia onde
só mesmo a manipulação do poder financeiro garante a elegibilidade.
Por exemplo, você pergunte quanto deve gastar um deputado federal
para se eleger em São Paulo, garanto que não menos que R$ 5 milhões.
Isso dá à democracia brasileira uma distorção brutal e leva a problemas:
quem vai financiar a campanha? Como eu vou conseguir dinheiro? Veja, o
Brasil passa de maneira sazonal e periódica por mares de lama. É uma
coisa que você pode apostar. Isso demonstra que tem um problema grave.
Eu diria, na verdade, que são três grandes problemas. O primeiro, é o
presidencialismo de coalizão, que gera uma obrigação de criar as
coalizões mais esdrúxulas para conseguir obter algum tipo de maioria no
Legislativo. Isso faz com que você tenha um grande balcão de negócios,
onde, no fundo, o Executivo vai balcanizando os partidos em negociações
com o Legislativo.
Um segundo problema muito grave é a baixa densidade de participação
popular. A participação popular se resume a poucas discussões eleitorais
de quatro em quatro anos. Seria possível ter se inciado um processo de
transferência das decisões de gestão do Estado para uma democracia
direta e isso nunca foi sequer tentado no Brasil. Existiu algumas
experiências em nível municipal do PT, lá no começo, e depois isso sumiu
da pauta completamente. E é inaceitável que isso não tenha ocorrido.
O terceiro elemento fundamental é o caráter completamente desgastado dos partidos brasileiros. Os partidos, raras exceções, estão
com uma baixa capacidade propositiva e de reflexão, e se cortaram
completamente de outros setores da sociedade civil, como sindicatos, os
movimentos sociais organizados, intelectuais. Então, há partidos com uma
capacidade propositiva próxima do zero, o que desagrega completamente
qualquer tipo de política nacional. Retira, na verdade.
CA - Nesse quadro, o que podemos esperar para as eleições municipais desse ano?
VS - Olha, eu
diria que há dois fenômenos bastante evidentes. Primeiro, existe um
problema com essa polaridade PT x PSDB. Isso faz com que vá se tendo a
tendência de um terceiro candidato nas cidades, que tem como grande
característica justamente não ser de nenhum dos dois partidos. Veja o
caso de São Paulo: o candidato que está na frente [Celso Russomano] é um
candidato que tem como característica fundamental não ter
característica alguma. Ele é conhecido pela população desde a época do
programa Aqui, Agora e isso dá uma certa familiaridade, nada mais do que
isso. Nenhuma proposta, nenhuma frase de efeito, nada. E isso é um
exemplo muito claro de um certo desgaste dessa polaridade de uma maneira
ou de outra. Há outros desdobramentos, como em Belém, onde tem um
candidato do PSOL que está em primeiro lugar para além de qualquer outro
candidato dos partidos tradicionais. Isso é bem importante, é uma forma
de ir abrindo um pouco o espaço de exposição, mesmo, de um certo
descontentamento com a vida partidária do País.
O segundo fenômeno evidente é uma completa ausência de qualquer tipo
de força propositiva de corpo político. O que é característico dessa
eleição municipal é como todos os candidatos, salvo algumas exceções,
procuram - custe o que custar - não ter plano algum. Ou seja, não
colocar nada que possa de alguma maneira tensionar a conquista não só de
um eleitorado, mas de um campo político, que é o campo político desses
partidos que estão no meio e que não tem cara alguma. E que são os
partidos com os quais se fazem todas as tramitações: PMDB, PR, PP, PTB,
PDP e por aí vai. Até PSD [fundado pelo prefeito de São Paulo Gilberto
Kassab] vai se transformando num partido dessa natureza. Então, para não
tensionar esses quadros, não se propõe nada.
Com isso, as cidade são catastróficas do ponto de vista urbano e as
eleições municipais passam como se nada disso tivesse ocorrendo. Como se
não existisse um déficit de intervenção urbana, como se não tivesse um
sequestro das nossas cidades pela especulação imobiliária de maneira que
desorganiza completamente a vida das pessoas, como se nada disso
tivesse realmente afligindo a população urbana do Brasil.
CA - E qual a herança que esse quadro nas eleições municipais pode deixar para a população das cidades brasileiras?
VS - Primeiro,
ele vai produzindo uma profunda indiferença em relação à política. Veja,
vai ter uma eleição no começo de outubro, nós estamos no final de
agosto e em última instância a campanha não começou. Mas, ela não
começou não é porque não tinha televisão, é porque ninguém se
interessou. Não houve discussão alguma, não houve debate, simplesmente
nada. E isso é muito impressionante, se você lembrar, há uns dez anos,
as campanhas começavam em janeiro, fevereiro. Esse processo demostra
claramente esse desinteresse fundamental pela estrutura
político-partidária no Brasil.
"A gente vai, tendencialmente, caminhando para a catástrofe urbana. Cidades como São Paulo e Rio de Janeiro precisam de uma intervenção, eu diria, da maneira como o Haussmann interviu em Paris no final do século 19 para conseguir transformar aquilo numa estrutura urbana minimamente viável" |
Uma segunda herança fundamental: a gente vai, tendencialmente,
caminhando para a catástrofe urbana. Cidades como São Paulo e Rio de
Janeiro precisam de uma intervenção, eu diria, da maneira como o
Haussmann interviu em Paris no final do século 19 para conseguir
transformar aquilo numa estrutura urbana minimamente viável. Esse tipo
de intervenção exige que você confronte os interesses brutais da
especulação imobiliária, das grandes construtoras. E consiga discutir a
estrutura urbana não a partir dos interesses financeiros em jogo na
cidade, mas a partir de uma racionalização de fato do espaço público.
Nada disso aparece mais em larga medida, um ou outro candidato que
consegue colocar uma coisa ou outra só. O que é desesperador, porque,
veja, uma cidade como São Paulo é um dos exemplos mais bem acabados de
degradação urbana.
CA - De caos, né?
VS - É, de
caos, urbano. São Paulo, Lagos, na Nigéria, Cairo, no Egito. Nem a
cidade do México, que inclusive é maior do que São Paulo, tem um grau de
caos urbano nesse nível. Você tem problemas brutais, quer dizer, não
são problemas simples e somos obrigados a conviver com discursos
políticos, em que as pessoas que estão se candidatando à prefeitura da
cidade parecem estar se candidatando a síndico de prédio, é algo
completamente inadequado.
CA - Nesse contexto,
eu queria comentar um texto seu em que você trata dos resquícios do
autoritarismo. Nesse cenário de caos, existe uma tendência em continuar
esse Estado autoritário, com as heranças da Ditadura, e com intervenções
cada vez mais impositivas?
VS - Sempre foi
assim, porque isso é um modelo de gestão populacional no Brasil - o
modelo da violência extrema. Os níveis de assassinato, de violência da
PM no Brasil não deixam mentir - qualquer comparação entre o grau de
violência da PM brasileira e as polícias de outros países deixam isso
muito evidente. E não adianta falar que é porque o Brasil é um País mais
violento, quer dizer, essa violência demonstra que o modelo de
intervenção da polícia é completamente fracassado. Por outro lado, é
fato que a polícia brasileira é uma polícia que nunca se depurou do
regime militar. Os torturadores continuaram sendo delegados de polícia, a
gente tem uma polícia que tortura mais hoje do que na época da
Ditadura, que é um grande motor de produção de ressentimento social.
Essa é a única função que ela realmente faz: produzir um ressentimento
social cada vez mais brutal nas classes mais desfavorecidas da população
brasileira. O que faz com que essas pessoas cada vez tenham menos
confiança no aparato do Estado.
Tudo isso deveria nos levar pelo menos, para a discussão sobre o
modelo de segurança pública que foi implementado no Brasil. Mas, tocar
nessa questão é algo impensável para uma certa parcela da população. Uma
parcela que tem uma visão de que todas as vezes que ela vê a polícia
com um cassetete na mão, ela acha que está mais segura. Então, há uma
espécie de fetiche da violência de uma parte da população, que é, na
verdade, uma maneira que essa parte da população tem de expressar seu
ressentimento com as próprias classes da população brasileira.
CA - E isso, por exemplo, faz esse tema ser um dos intocáveis nas eleições municipais como você comentou?
VS - Com
certeza. Ao contrário, eles simplesmente entram numa lógica cada vez
mais de uma política dura contra o crime. Essa é uma piada, até porque
um dos atores que mais produzem crime na sociedade brasileira é a
própria polícia. Ela trata conflitos sociais como se fossem processos
criminosos. O que dá nesses casos absolutamente medonhos que nós vemos,
intervenções nas universidades da pior maneira possível, etc. Tudo isso
só produz ressentimento social, tanto contra a polícia como contra o
Estado brasileiro.
CA - Isso tudo parece
um ciclo vicioso, esse quadro que você está traçando, que tende a
explodir com o esgotamento do modelo político econômico.
VS - Com
certeza. Quando você tem um modelo que funciona do ponto de vista
econômico, essas tensões são minimizadas. Elas estão lá, mas como as
pessoas estão num processo de ascensão social pela primeira vez na vida,
elas esquecem um pouco. Agora, quando esse processo já não funcionar
como as pessoas imaginavam, então essas questões voltam a falar alto.
Não é que elas sumiram, elas foram secundarizadas por outros processos
que tomaram a frente na atenção da população. Mas, quando isso terminar,
essa tensão ganha de novo a proporção que ela realmente tem.
CA - E num momento de
explosão dessa tensão e esgotamento do modelo, onde surgem os extremos, o
que vai ser determinante para o Brasil conseguir uma pauta mais
progressista e não mais conservadora?
VS - A
capacidade que os setores organizados da sociedade terão de organizar a
pauta de debate da opinião pública. E, aí, eu acho que os intelectuais
têm um papel importante que eles têm negligenciado por causa de um
sentimento derrotista, que é um discurso perigoso e irreal. Há, hoje, no
Brasil, pensadores conservadores que têm uma grande penetração, uma
coisa que há muito tempo não se tinha. Pessoas que organizam blogues e
coisas dessa natureza e vão pautando o debate do ponto de vista
conservador. E não existe alguma coisa dessa natureza do ponto de vista
da esquerda nacional. Isso é uma coisa extremamente grave.
As figuras da esquerda nacional que ainda têm algum tipo de
ascendência sobre esse processo de constituição da pauta da opinião
pública são de gerações anteriores, não tem ocorrido uma renovação. E
isso é extremamente preocupante, uma vez que o Brasil tem uma larga
tradição de intelectuais públicos que nos ensinaram a pensar o País.
Celso Furtado, Darcy Ribeiro, Sérgio Buarque de Holanda, Florestan
Fernandes, Milton Santos, Josué de Castro - tem uma lista de grandes
intelectuais quenosensinaramaveroqueéoBrasileo que pode ser o Brasil. O
que é impressionante, hoje, é que, salvo exceções, com um gap de umas
duas gerações atrás que ainda tem capacidade de intervenção, não há mais
mais isso - alguém na nova geração que compreenda esse papel como uma
de suas tarefas. E isso pode ser fatal, como foi fatal, por exemplo, na
Europa.
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