O
livro “Índios na visão dos índios: Memória” foi lançado na sexta
(28), na Aldeia Itapoã (Tupinambá de Olivença), às 11h, dentro da
programação do IV Seminário Internacional de História Indígena Caboclo
Índio Marcelino. Escrito pelos povos Tupinambá, Pataxó, Pataxó Hãhãhãe
(BA), Karapotó, Kariri-Xocó (AL), Xokó (SE), e Pankararu (PE), a
publicação é o décimo sétimo volume da premiada coleção “Índios na Visão
dos Índios”, realizado pela ONG Thydêwá.
Cacique Xarru Ingorá Mirim (Joel, com celular na foto nessa página),
Pataxó do Monte Pascoal, é um dos autores do livro e registra a memória
de seu povo. “Um lema de toda a minha história de vida é divulgar a
memória”, conta. São cerca de 16 mil Pataxó vivendo na região de Santa
Cruz de Cabrália, Porto Seguro, Itamaraju, Prado, no norte de Minas
Gerais, além de Monte Pascoal.
Retomada do Território
A área onde vivem tem o estudo de revisão de limites, mas o
território ainda não está demarcado. A retomada do território Pataxó
começou em agosto de 1999, pelo Parque Monte Pascoal. “O Ibama vinha
reprimindo os índios desde a década de 1960, proibindo o trânsito na
área, a pesca, a caça e até as orações no Monte, região sagrada para
nosso povo”, lembra o Cacique. Depois da primeira, foram mais de 15
retomadas realizadas na região pelos Pataxó.
Os indígenas continuam sendo reprimido por pistoleiros, contratados
por fazendeiros. Os tiros disparados não perdoaram nem as crianças. Em
um dos conflitos mais violentos, em setembro de 2000, os Pataxó ficaram
sob o fogo de pistoleiros, com a conivência da polícia, das 9h às 15h.
Na época, os policiais foram denunciados pelos indígenas. O delegado da
cidade de Prado foi exonerado do cargo. O comandante da Polícia Militar
da Região, o então Major Roosewelt Salustiano Santos chegou a ser
promovido a Tenente-Coronel, mas foi exonerado da PM baiana em julho
deste ano.
Criminalização
A prática de criminalização das lideranças indígenas na região é
bastante comum. O Cacique Joel foi processado pelas retomadas de terra.
Em cinco processos, já foi absolvido. “Se eu fosse uma liderança
comprada pelo governo, com certeza eu não tinha sido processado. Mas
como eu luto, sou leal ao meu povo, nunca traí, sempre reivindicando o
que é necessário para o povo”, comenta o Cacique. “Toda liderança que
defende os seus direitos, em toda a história, foi condenada pelos
poderes”, completa.
O livro, entre outros episódios, também registra a história do
Caboclo Marcelino. Personagem presente na memória do Sul da Bahia,
Marcelino José Alves foi uma liderança Tupinambá que organizou o
movimento indígena para reivindicar seus direitos no início do século
XX. Um dos poucos que sabiam ler e escrever, era visto como ameaça pelos
brancos, sendo considerado um “Lampião”, Marcelino liderou a
resistência contra a construção da ponte sobre o Rio Cururupe que liga o
distrito de Olivença à cidade de Ilhéus, o que acabou facilitando a
expulsão dos Tupinambá de suas terras. A luta ficou conhecida como
“Revolta do Marcelino”.
A publicação de “Índios na visão dos índios: Memória” foi contemplada
pelo Prêmio Ponto de Memória, do Instituto Brasileiro de Museus,
pertencente ao Ministério da Cultura. O livro também conta com imagens
trabalhadas em laboratórios de apropriação de Artes e Tecnologias
promovido pela Oca Digital, realizado pela Thydêwá e Cardim Projetos e
Soluções Integradas, com o Patrocínio da Telefonica e Vivo. A Oca também
conta com o apoio financeiro do Fundo de Cultura da Secretaria de
Cultura do Estado da Bahia, e apoio da Cambuí Produções, do Pontão de
Mídia Livre Esperança da Terra, e do Programa Cultura Viva, do
Ministério da Cultura.
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