Está criado, mais uma vez, um clima de conformismo diante das chacinas em São Paulo. Folha e Estado de S. Paulo noticiaram o assassinato de sete homens no Campo Limpo
Por Mauro Malin, do Observatório da Imprensa
Está criado, mais uma vez, um clima de conformismo diante das chacinas em São Paulo. Folha e Estado de S. Paulo noticiaram
o assassinato de sete homens no Campo Limpo, bairro da Zona Sul, na
madrugada do dia 5 (sábado), usando a mesma expressão: “A primeira
chacina do ano no estado…”. A Folha chega a estabelecer uma métrica: “Em 2012, ocorreram ao menos 15 chacinas em São Paulo.”
As reportagens dos dois jornais apontam
criteriosamente indícios de autoria policial, relatados por moradores.
Apenas omitem que pouco depois de tomar posse, no final de novembro, o
atual secretário de (In)Segurança, Fernando Grella, declarou que a
polícia passaria a trabalhar estritamente dentro da legalidade, ou seja,
sem assassinar, aterrorizar, sequestrar, chantagear, torturar, espancar
ninguém.
Mas, como se sabe, ninguém manda na
polícia. A propósito, no site da Secretaria o procurador Grella ainda
nem tomou posse (confira aqui).
Represália
A hipótese levantada pelos dois jornais é
de que o assassinato coletivo tenha sido uma represália à denúncia,
documentada em vídeo, de que o servente Paulo Batista do Nascimento foi
executado por homens da Rota no dia 10 de novembro, depois de dominado, o
que levou cinco PMs à prisão (o inquérito ainda não foi concluído).
Na manhã de sábado, 5, o próprio
delegado-geral da Polícia Civil, Maurício Blazeck, disse à Rede Globo
que um dos mortos era o morador que havia documentado o assassinato,
exibido no Fantástico. Mais tarde, voltou atrás. Quem não
deduzir que ele recebeu telefonema do gabinete do governador Geraldo
Alckmin acredita em duendes, Papai Noel e Branca de Neve.
É uma repetição, assim como a
manjadíssima incapacidade dos dois jornais de mexer com a programação de
seus cadernos de cidade dominicais. No Estadão (6/1), a capa do “Metrópole” destaca: “Aparelhos de GPS já são usados para rastrear até pessoas”. Não diga! Na Folha,
que deu a notícia da chacina no primeiro caderno (página A9), o
“Cotidiano” protesta contra os indesejados: “Favela na Barra do Sahy
‘escala’ a Serra do Mar”.
Sete ou vinte por um
O episódio em que sete morrem para punir
a revelação de que um foi morto friamente faz lembrar uma declaração
dada quase vinte anos atrás (27/3/1994), à Folha de S. Paulo,
por Leon Kornhauser, sobrevivente do campo nazista de Plaszóvia, quando
lhe foi perguntado se poderia ter tentado fugir: “Sim. Eu tive duas
chances de fuga, mas não quis: a cada fuga, eles matavam 20 presos. Não
queria isso na consciência.”
Há mais do que coincidência entre as
duas situações, afastadas no tempo por mais de sete décadas.
Qualquer
que seja a natureza do grupo exterminador: policiais-bandidos ou
bandidos.
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