Não se deve pensar em 2013 sem ter em vista a relevância de 2014 para
o país em geral, e em particular para os planos e projetos do governo e
dos grandes conglomerados e interesses empresariais.
Em 2014 teremos a Copa do Mundo e eleições presidenciais, além da
renovação da Câmara dos Deputados, dos governos e assembleias estaduais e
parte do Senado. Significa que a “casa” tem que estar pronta,
funcionando, a Copa tem que ser um grande êxito nacional e mundial e, na
sua sequência, abre-se a campanha eleitoral. Significa que não pode
haver protestos populares e greves (por moradia, salários, paralisação
de grandes obras etc.), nem crise na segurança pública, nem colapsos nas
infraestruturas (aeroportos, energia elétrica, mobilidade urbana etc.).
Parece óbvio que, sob o atual modelo de política econômica e social
que vigora no país, não será possível resolver ou mesmo amenizar o
conjunto de problemas estruturais do país, por exemplo, na
infraestrutura e na área social. Basta lembrar a retração nos
investimentos diretos após dois anos de forte desaceleração da economia e
a sanha do capitalismo brasileiro em erguer grandes obras com dinheiro
público e superexploração do trabalho (que resultou, em 2012, em grandes
greves operárias nas principais obras do país, a exemplo de Belo
Monte).
Os atuais apagões regionais, os atuais “ensaios” dos transtornos que
poderemos ver nos aeroportos e nos transportes públicos em 2014, são
sinais evidentes de que o déficit de infraestrutura no país (cada vez
mais privatizada) não estará solucionado em 2014.
No entanto, prever que não será possível ter as coisas bem ajeitadas,
do ponto de vista da apresentação do país ao mundo em 2014 e do
consequente bônus eleitoral, não significa que se deixará de tentar a
excelência.
Barbaridades estão à vista
Portanto, 2013 será um ano de corrida contra o tempo, de muito
dinheiro público para avançar nas obras atrasadas, de muita corrupção e
benesses para os amigos do poder e das grandes obras; ano de novos
ataques a direitos dos trabalhadores, de criminalização e crescimento da
militarização da sociedade para disciplinar a resistência, para isolar
em guetos das periferias as camadas mais pobres da classe trabalhadora.
Para não “incomodar” os turistas e as imagens exportadas dos grandes
eventos, veremos algo similar ao que ocorreu na Copa de 2010 na África
do Sul (repressão e “higienização”).
Fustigar os direitos dos trabalhadores também será uma norma. Estão
aí em discussão a regulamentação do direito de greve no serviço público,
o acordo coletivo especial (para flexibilizar a legislação trabalhista
na forma do negociado prevalecendo sobre o legislado), além da repressão
e política de extermínio sobre a população pobre.
Não é previsão, está mais para fato. Afinal, 2012 conheceu a maior
greve da história do setor público federal e a polícia militar matou
como nunca no estado de São Paulo (um assassinato a cada 16 horas),
sendo que a esmagadora maioria dos mortos pela polícia sequer tinha
antecedentes criminais.
Não nos esqueçamos: a casa tem de estar pronta em 2014 custe o que
custar, os grandes interesses da especulação imobiliária, das
empreiteiras, dos Eikes Batistas, entre outros, têm que estar bem
“ajeitados”.
E como temos insistido e tentando demonstrar nas páginas do Correio da Cidadania, os seguidos governos do PT não têm faltado aos empresários.
Ainda assim, não bastaram a desoneração da previdência, as inúmeras
isenções fiscais, o arrocho nos gastos com serviços públicos, a
privatização da infraestrutura. Diante do cenário da grave crise externa
e incertezas, os capitalistas pedem mais e seguram o investimento. Ao
que o governo respondeu positivamente, anunciando uma injeção de R$ 100
bilhões na economia em 2013, movida a dinheiro do BNDES (que receberá
novo aporte do Estado, na ordem de R$ 45 bilhões).
E há mais “incentivos fiscais” e novas garantias no mundo encantado
das parcerias público-privadas. Ainda assim, o Capital vai querer mais,
especialmente no que diz respeito à flexibilização dos direitos
trabalhistas para diminuir ainda mais o custo da mão-de-obra nacional
(afinal, a China também pode ser aqui).
Um cenário de resistência e conflitos
Mas não estão claros quais poderão ser os efeitos de dois anos de
forte desaceleração nas taxas de crescimento em relação à capacidade de
consumo e pagamento das dívidas já contraídas. Desde o primeiro ano de
governo Dilma, verifica-se um crescimento nos conflitos sociais e greves
no país. Segundo o Dieese, houve um crescimento de 24% no número de
greves em 2011 em relação a 2010. Não há números sobre 2012, mas foi
evidente a manutenção de um cenário conflitivo na arena econômica, com
greves e paralisações em grande escala tanto no setor público como
privado.
Considerando a emergência de fazer os “negócios”, de as obras e de a
liturgia da militarização do espaço público andarem a passos largos em
2013, podemos prever o cenário de novas lutas sociais no ano que se
inicia.
Ao lado das lutas sociais e de resistência, o Correio da Cidadania continuará
cumprindo a sua função de denunciar com mais intensidade as mazelas
deste modelo que projeta a desigualdade social, a exclusão do povo, até
mesmo da sua grande paixão esportiva, que é o futebol.
Estaremos ao lado e dando voz a todas as lutas e manifestações em
2013, pois será daí também, desse caldo de cultura que brota das
manifestações e lutas populares, que será pavimentado o caminho para
fazer valer os direitos dos trabalhadores e do povo, para mudar a
consciência e a percepção de que outro país é possível e será
necessário.
Correio da Cidadania |
Sindicato dos Servidores Públicos do Judiciário Estadual na Baixada Santista, Litoral e Vale do Ribeira do Estado de São Paulo
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terça-feira, 15 de janeiro de 2013
2013: o “saco de maldades” antes de 2014
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