História: 35 países onde Washington derrubou governos legítimos,
aliou-se a ditadores e cometeu genocídios, em nome de seus interesses
geopolíticos
Por Nicolas J.S. Davies, no Alternet | Tradução: Vinícius Gomes
Um velho clichê político repetiu-se, nas últimas semanas, na
Ucrânia e na Venezuela – ainda que com roupagem nova. Em Kiev, um
presidente corrupto, porém legítimo, foi deposto após meses de
manifestações, comandadas por grupos neonazistas. Em Caracas, Leopoldo
López, político de extrema-direita e um dos líderes do golpe de Estado
de 2002, apoia-se em dificuldades do governo para pedir sua derrubada
antidemocrática. Nos dois casos, os Estados Unidos têm interesse
geopolítico claro na queda dos governantes e agiram (agem, na Venezuela)
para provocá-la.
O pretexto de Washington é uma concepção particular de
“democracia”. Na Ucrânia, o chefe de governo, Viktor Yanukovitch, teria
sido afastado por se aproximar da Rússia – adversária dos EUA e,
portanto, “antidemocrática” por definição. Na Venezuela, tanto o
ex-presidente Hugo Chávez quanto seu sucessor, Nicolas Maduro, promovem
políticas de unidade latinoamericana que incomodam Washington. Por isso,
seriam, naturalmente, “autoritários”. A mídia aliada ideologicamente à
Casa Branca repete tais argumentos de maneira tão maciça (e acrítica)
quanto assegurava haver, no Iraque, “armas de destruição em massa”.
Mas qual a autoridade do governo norte-americano para falar em
nome da “democracia”?
Nos próprios Estados Unidos, parece haver enormes
dúvidas. Colaborador de publicações como “Huffington Post”, “Salon”, “ZNet” e “Alternet”,
o escritor e jornalista Nicolas J.S. Davies acaba de produzir, para
esta publicação, um texto de grande importância e atualidade. Após vasta
pesquisa histórica, Davies relacionou uma lista (certamente incompleta)
de países em que Washington interveio derrubando governos legítimos por
meio de golpes de Estado, apoiando ditaduras ou participando de
massacres e genocídios.
São 35 países, contando apenas as intervenções entre pós-II
Guerra Mundial e hoje.
Os verbetes são densos, porém breves – ou o texto
seria interminável. Mas Davies teve o cuidado de pesquisar e indicar
por meio de links, em cada caso, textos que permitem compreender, em
detalhes, o contexto e os fatos concretos. O autor adverte: “em nome de
sua incansável busca pelo domínio global, Washington criou um longo e
contínuo histórico de trabalhar lado a lado com fascistas, ditadores,
chefões das drogas e países que patrocinam terrorismo. (…) Os crimes
cometidos vão de assassinato a tortura, de golpes a genocídios. A trilha
de sangue desse caos e carnificina vai até os degraus da Casa Branca e
do Congresso norte-americano”. A seguir o resultado, ordenado
alfabeticamente, da pesquisa de Davies. (A.M)
1. Afeganistão
Durante a década de 1980, os EUA trabalharam com o Paquistão e a
Arábia Saudita para derrubar o governo socialista do Afeganistão. Eles
financiaram, treinaram e armaram forças lideradas por líderes locais
conservadores, cujos poderes foram ameaçados pelas reformas do país nas
áreas de educação, direitos das mulheres e reforma agrária. Após Mikhail
Gorbachev retirar as tropas soviéticas, em 1989, esses senhores da
guerra apoiados pelos EUA, despedaçaram o país e aumentaram a produção
de ópio a um nível sem precedentes de 2 mil para quase 3.500 toneladas por ano.
O governo Talibã cortou tal produção em 95% durante 1999 e 2001, mas a
invasão norte-americana colocou os senhores da guerra e chefões das
drogas de volta ao poder. O Afeganistão ocupa atualmente o 3º lugar dos mais países mais corruptos do mundo (entre 177) e o 175° em desenvolvimento humano
(entre 186). Além disso, desde 2004 sua produção de ópio aumentou para
5.400 toneladas por ano. O irmão do presidente afegão, Ahmed Wali
Kharzai era um notório chefão das drogas financiado pela CIA
. Após uma grande ofensiva do exército norte-americano na província de
Kandahar, em 2011, o coronel Abdul Razziq foi nomeado chefe de polícia
local, impulsionando o contrabando de heroína que já lhe rendeu 60 milhões de dólares ao ano, em um dos países mais pobres do planeta.
2. Albânia
Entre 1949 e 1953, os EUA e o Reino Unido aliaram-se para derrubar o
governo da Albânia, o menor e mais vulnerável país comunista no Leste
Europeu. Exilados foram recrutados e treinados para retornar à Albânia
e, estimular dissidentes a planejar um levante armado. Muitos dos
exilados envolvidos no plano foram antigos colaboradores da Itália
fascista e da Alemanha nazista, durante a Segunda Guerra Mundial. A
lista incluía um antigo Ministro do Interior, Xhafer Deva, que supervisionou as deportações de “judeus, comunistas, partisans
e pessoas suspeitas” (como descrito em um documento nazista) para o
campo de concentração de Auschwitz. Documentos norte-americanos secretos
que se tornaram públicos revelaram desde então que Deva foi um dos 743 fascistas criminosos de guerra que os EUA recrutaram após a guerra.
3. Argentina
Documentos secretos que foram liberados ao público em 2003,
detalham conversações de outubro de 1976, entre o então secretário de
Estado dos EUA, Henry Kissinger, e sua contraparte argentina, o ministro
das Relações Exteriores Almirante Guzzetti, pouco tempo depois de a
junta militar tomar o poder na Argentina. Kissinger aprovou,
explicitamente, a “guerra suja” dos militares sul-americanos, que matou
aproximadamente 30 mil pessoas – jovens, em sua maioria – e roubou 400
órfãos de suas famílias. Kissinger disse a Guzzetti: “Veja bem, nossa
posição é que você tenha sucesso…quanto mais rápido você tiver sucesso,
melhor”. O embaixador dos EUA em Buenos Aires relatou que Guzzetti “saiu
da conversa em estado de júbilo, convencido que não haveria nenhum
problema por parte do governo norte-americano sobre esse assunto”.
4. Brasil
Em 1964, o general Castelo Branco liderou um golpe que iniciou 20 anos de uma brutal ditadura militar.
O adido militar norte-americano, Vernon Walters – mais tarde Diretor
Interino da CIA e embaixador na ONU – conhecia bem Castelo Branco desde a
Segunda Guerra Mundial, na Itália. Por ter sido um agente da CIA, os
relatórios de Walters sobre o Brasil nunca vieram a público, mas a CIA
providenciou todo o apoio necessário para garantir o sucesso do golpe de
Estado, assim como na Ucrânia e Venezuela, recentemente. Uma força
anfíbia dos Marines norte-americanos estava à postos para desembarcar no
país, mas não foi necessário. Assim como outras vítimas dos golpes
apoiados pelos EUA na América Latina, o presidente eleito João Goulart
era um rico latifundiário, não um comunista, mas seus esforços para
permanecer neutro durante a Guerra Fria eram inaceitáveis para
Washington.
5. Camboja
Quando o presidente Nixon ordenou o bombardeio secreto e ilegal no Camboja,
em 1969, os pilotos norte-americanos foram obrigados a falsificar seus
manifestos de voo para encobrir seus crimes. O bombardeio matou pelos
menos 500 mil de cambojanos, despejando mais bombas no pequeno país
asiático do que a Alemanha e o Japão combinados, durante a Segunda
Guerra. Quando o grupo Khmer Vermelho ganhou força no país, em 1973, a
CIA relatou que “sua propaganda é mais efetiva entre pessoas que
sofreram com os bombardeios dos B-52 dos EUA”. Depois de o Khmer
Vermelho matar mais de dois milhões de seu próprio povo e, ser
finalmente expulso do país pelo exército do Vietnã, em 1979, o Grupo de Emergência de Kampuchea,
que tinha como base embaixada norte-americana na Tailândia,
organizou-se para apoiar e alimentar os genocidas do Khmer, vistos então
como um grupo de “resistência” contra o novo governo cambojano, apoiado
pelos vietnamitas. Com a pressão dos EUA, o Programa Mundial de
Alimentos providenciou 12 milhões de dólares para alimentar de 20 a 40
mil soldados do Khmer Vermelho. Por pelo menos mais uma década, a
inteligência do exército norte-americano forneceu imagens de satélites
ao grupo, enquanto forças dos EUA e do Reino Unido treinavam-no para
plantar milhões de minas terrestres no oeste do país. Até hoje, elas
matam e mutilam centenas de pessoas todos os anos.
6. Chile
Quando Salvador Allende tornou-se presidente, em 1970, o presidente dos EUA, Richard Nixon prometeu “fazer a economia berrar”
no Chile. O maior parceiro do país sul-americano eram os EUA, que
cortou o comércio bilateral a fim de causar um caos econômico e falta de
suprimentos. A CIA e o Departamento de Estado promoveram sofisticadas
operações de propaganda durante uma década, financiando políticos
conservadores, partidos, sindicatos, grupos estudantis e todos os
veículos de mídia, enquanto expandiam seus laços com os militares. Após o
general Augusto Pinochet tomar o poder, a CIA manteve os oficiais
chilenos em sua folha de pagamentos e trabalhou em conjunto com o
serviço de inteligência chileno, enquanto o governo militar matava
milhares de pessoas, prendendo e torturando outras dezenas de milhares.
Enquanto isso, os “Chicago Boys”,
cerca de 100 estudantes chilenos enviados pelo Departamento de Estado
dos EUA para estudar na Universidade de Chicago, sob a égide do
economista Milton Friedman, lançaram um programa radical de
privatizações, desregulamentação econômica e políticas neoliberais que
manteve a economia do Chile berrando para grande parte dos chilenos ao
longo da ditadura militar de 16 anos de Pinochet.
7. China
Ao final de 1945, 100 mil soldados norte-americanos estavam lutando lado a lado com o Kuomitang chinês nas áreas dominadas por comunistas no nordeste da China. O Kuomitang e seu líder, o general Chiang Kai-Shek,
foram possivelmente os aliados mais corruptos dos EUA. Inúmeros
conselheiros norte-americanos na China alertaram que a ajuda que os EUA
enviava estava sendo roubada por Chiang e seus comparsas, alguns dos
itens enviados sendo até vendidos aos japoneses, mas o compromisso
norte-americano com o general estendeu-se pela II Guerra Mundial, sua
derrota posterior diante dos comunistas e seu governo em Taiwan. A
perigosa diplomacia do Secretário de Estado, Allen Dulles, em apoio a
Chiang, quase colocou os EUA, por duas vezes, à beira de uma guerra nuclear com a China – em 1955 e 1958 – por conta de duas pequenas ilhas na costa chinesa, Matsu e Qemoy.
8. Colômbia
Quando forças especiais do exército dos EUA e sua agência de combate
às drogas auxiliaram o governo colombiano a caçar e matar o chefão das
drogas Pablo Escobar, eles trabalharam com um grupo de justiceiros
chamado Los Pepes. Em 1997, Diego Murillo-Bejaran e outros líderes dos Los Pepes fundaram a AUC – as Autodefesas Unidas da Colômbia -, que foi responsável por 75% das mortes violentas de civis no país nos dez anos seguintes.
9. Coreia
Quando as forças dos EUA chegaram na Coreia, em 1945,
foram recepcionadas por oficiais da República Popular da Coreia (KPR,
sigla em inglês), formado por grupos de resistência que renderam forças
japonesas na II Guerra Mundial e começaram a estabelecer lei e ordem por
todo o país. O general Hodge expulsou-os então da metade sul do país e
colocou a região sob ocupação militar norte-americanas. Em contraste,
forças russas no norte reconheceram a autoridade do KPR – o que resultou
na divisão da Coreia. Os EUA então trouxeram Sygnman Rhee,
um exilado coreano conservador e o instalaram como presidente da Coreia
do Sul. Rhee tornou-se tornou um ditador na cruzada anticomunista;
prendeu e torturou suspeitos de serem comunistas; liquidou rebeliões com brutalidade;
matou 100 mil pessoas e jurou retomar a Coreia do Norte. Ele foi
parcialmente responsável pela “explosão” da Guerra da Coreia e pela
decisão aliada de invadir a vizinha do norte. Finalmente, foi forçado a
renunciar por um protesto em massa de estudantes, em 1960.
10. Cuba
Os EUA apoiaram a ditadura de Fulgencio Batista, cuja opressão matou mais de 20 mil cubanos e fomentou a revolta que causou a Revolução Cubana. O ex-embaixador Earl Smith testemunhou no Congresso
“’que a influência dos EUA em Cuba era tão grande, que o embaixador
norte-americano era a segunda pessoa mais importante no país; às vezes
até mais que o próprio presidente cubano”. Após a revolução, a CIA
iniciou uma campanha de terrorismo contra a ilha,
treinando cubanos exilados na Florida, América Central e República
Dominicana para cometer assassinatos e atos de sabotagem em Cuba. As
operações patrocinadas pela CIA incluíram a tentativa de invasão da ilha
pela Baía dos Porcos, em 1961, causando a morte de cem cubanos exilados
e quatro norte-americanos; diversos atentados contra Fidel Castro e de
outros governantes cubanos; ataques aéreos com bombas e atentados
terroristas contra turistas, que incluíram um navio francês aportado em
Havana (75 mortos), um ataque biológico com a gripe suína que matou meio
milhão de porcos e a explosão de um avião
(78 mortos) das linhas aéreas cubanas, planejada por Luis Carlos Posada
e Orlando Bosch. Ambos continuam livres nos EUA, apesar de os
norte-americanos estarem em “guerra contra o terrorismo”. Bosch recebeu o
perdão presidencial do primeiro George Bush.
11. El Salvador
A guerra civil que arrasou El Salvador
na década de 1980 foi um levante popular contra um governo extremamente
brutal. Pelo menos 70 mil pessoas foram mortas e milhares de outras
desapareceram. A Comissão da Verdade da ONU organizada após a guerra
encontrou evidências que 95% das mortes foram causadas pelo governo e
esquadrões da morte e apenas 5% pelas guerrilhas do FLMN. As forças governamentais responsáveis por esse massacre unilateral
foram praticamente todas montadas, treinadas, armadas e supervisionadas
pela CIA, pelas forças especiais dos EUA e pela infame Escola das
Américas. A Comissão da ONU descobriu que as unidades que cometeram as
piores atrocidades – como o Batalhão Atlacatl, que conduziu o terrível massacre de El Mozote,
eram precisamente as mais próximas da supervisão norte-americana. O
papel dos EUA na campanha de terrorismo de Estado é agora louvado por
oficiais militares mais velhos como um modelo de “contra-insurgência” na
Colômbia e outros lugares onde a guerra ao terror dos EUA leva
violência e caos pelo mundo.
12. Filipinas
Desde que os EUA lançaram sua suposta guerra ao terror em 2001, uma
força-tarefa de 500 soldados das forças especiais conduziu operações
secretas no sul das Filipinas. Com Obama, a ajuda militar dos EUA para o
país aumentou de 12 milhões de dólares, em 2001, para 50 milhões, neste
ano. No entanto, ativistas de direitos humanos filipinos relatam que o
aumento da ajuda coincide com o aumento de operações militares de esquadrões da morte contra civis. Nos últimos três anos, pelo menos 158 pessoas foram mortas por esses esquadrões.
13. França
Ao final da II Guerra Mundial, as forças aliadas descobriram que
tanto na França como na Itália, Grécia, Indochina, Indonésia, Coreia e
Filipinas, as forças de resistência comunista tinham conquistado o
efetivo controle de várias áreas e até mesmo do país inteiro, ao passo
que as forças alemãs e japonesas retiravam-se ou se rendiam. Na cidade
costeira de Marselha, o sindicato de comércio controlado pelos
comunistas controlava as docas, que eram essenciais para o comércio dos
EUA e o Plano Marshall. A agência norte-americana OSS
(antecessora da CIA) já havia trabalhado durante a guerra com a máfia
siciliana na Itália e com os gângsteres de Córsega, na França. Quando a
OSS transformou-se na CIA, após a guerra, restabeleceu seus antigos
contatos e usou os criminosos corsos para acabar com as greves e
controlar as docas de Marselha. A CIA passou a proteger os corsos, enquanto eles montavam seus laboratórios de heroína
e, inclusive quando despachavam a heroína para Nova York, onde, por sua
vez, os sicilianos mafiosos revendiam a droga com a proteção da CIA.
Ironicamente, o suprimento de drogas quase foi zerado devido a Revolução
Chinesa e o vício em heroína poderia ter sido eliminado, mas a Conexão França
da CIA trouxe permitiu uma nova onda de vício, crime organizado e
violência relacionada ao tráfico para Nova York e outras cidades do
país.
14. Gana
Atualmente parece não haver líderes nacionais inspiradores na África.
Mas isso pode ser culpa dos EUA. Nas décadas de 1950 e 1960, existia
uma estrela em ascensão em Gana: Kwame Nkrumah.
Ele foi primeiro-ministro sobre controle britânico, entre 1952 e 1960.
Quando Gana tornou-se independente, assumiu a presidência. Era um
socialista, pan-africanista e anti-imperialista; em 1965, escreveu um
livro chamado Neo-Colonialismo: O último estágio do imperialismo.
Nkrumah foi destituído em golpe da CIA, em 1966. A agência negou na
época seu envolvimento, mas a imprensa britânica revelou posteriormente,
que 40 oficiais da agência operavam na embaixada dos EUA “distribuindo
favores entre os adversários secretos de Nkrumah” – os quais “foram
completamente recompensados”. O ex-agente da CIA, John Stockwell, revela
bastante sobre o golpe em seu livro Em Busca de Inimigos
15. Grécia
Quando as forças britânicas desembarcaram na Grécia em outubro de 1944,
eles descobriram que o país estava sobre controle efetivo do ELAS-EAM, a
guerrilha esquerdista formada pelo Partido Comunista Grego em 1941,
após a invasão alemã e italiana no país. O ELAS-EAM recebeu de braços
abertos os britânicos, mas estes recusaram-se a qualquer entendimento
com os comunistas e instalaram um governo que incluía defensores da
realeza e colaboradores nazistas. Quando o ELAS-EAM organizou uma
manifestação maciça em Atenas, a polícia abriu fogo e matou 28 pessoas.
Os britânicos recrutaram membros nazistas versados em combate para
caçar e prender membros dos ELAS, que novamente pegaram em armas para
lutar como resistência. Em 1947, com uma guerra civil em andamento, a
Grã-Bretanha, falida, recorreu aos EUA para ocupar e controlar a Grécia.
O papel dos norte-americanos apoiando o incompetente governo fascista
grego estava embasado na Doutrina Truman,
encarada por muitos historiadores como o início da Guerra Fria. Os
membros da ELAS-EAM deixaram suas armas em 1949, após a Iugoslávia
retirar seu apoio a eles. Cerca de 100 mil foram executados, exilados ou aprisionados.
O primeiro-ministro liberal Georgios Papandreou foi deposto com um
golpe orquestrado pela CIA, em 1967, levando a mais sete anos de
ditadura militar. Seu filho Andreas foi eleito o primeiro presidente
“socialista”, em 1981, mas muitos membros do ELAS-EAM presos na década
de 1940, nunca foram libertados e morreram na prisão.
16. Guatemala
Após sua primeira experiência para derrubar um governo estrangeiro com o Irã, em 1953, a CIA lançou uma operação mais elaborada para remover
o governo eleito do liberal Jacobo Arbenz, na Guatemala, em 1954. A CIA
recrutou e treinou um pequeno exército de mercenários em conluio com o
guatemalteco exilado, Castillo Armas, para invadir o país, contando com o
apoio aéreo de 30 aviões não-identificados. O embaixador
norte-americano, John Peurifoy, preparou uma lista de guatemaltecos a
serem executados e Armas foi instalado como presidente. O reino de
terror que se seguiu iniciou os 40 anos de guerra civil
no país, que resultou na morte de 200 mil pessoas – indígenas, em sua
maioria. O clímax da guerra foi a campanha de genocídio desencadeada na
comunidade Ixil, pelo então presidente Rios Montt. Ele foi sentenciado a prisão perpétua em 2013, até que a Suprema Corte da Guatemala anulou o julgamento, a pretexto de uma tecnicalidade. Um novo julgamento está marcado para 2015. Documentos da CIA revelam que o governo Reagan estava totalmente informado da natureza genocida indiscriminada das operações militares dos guatemaltecos
quando aprovou uma nova ajuda financeira em 1981, que incluía veículos
militares, partes sobressalentes de helicópteros e enviou de
conselheiros militares norte-americanos. Os documentos da CIA detalham o
massacre e a destruição de vilas inteiras e concluem: “A
bem-documentada crença do exército, segundo a qual a população inteira
dos índios Ixil é pró-EGP (Exército Guerrilheiro dos Pobres) criou uma
situação na qual, espera-se, que o exército não poupe combatentes e nem
não-combatentes”.
17. Haiti
Quase 200 anos depois da rebelião dos escravos que criou o Haiti e
derrotou os exércitos de Napoleão, a sofrida população do país
finalmente elegeu um verdadeiro governo democrático, liderado pelo padre
Jean-Bertrand Aristide, em 1991. Mas o governo de Aristide foi
derrubado por um golpe militar apoiado pelos EUA, apenas oito meses
depois de ter assumido o cargo. Além disso, a agência de inteligência do
Pentágono recrutou uma força paramilitar chamada FRAPH
com o objetivo de destruir o movimento de Aristide, chamado Lavalas. A
CIA colocou o líder do FRAPH, Emmanuel “Toto” Constant, em sua folha de
pagamentos e lhe enviou armas pela Florida. Quando o presidente Clinton
enviou uma força de ocupação para recolocar Aristide no poder, em 1994,
os membros da FRAPH detidos pelos militares norte-americanos foram
liberados com ordens de Washington e a CIA manteve a FRAPH como um grupo criminoso para sabotar tanto Aristide, como o Lavalas. Após Aristide ser eleito novamente em 2000, uma força de pelo menos duzentos soldados das forças especiais dos EUA, treinou cerca de seiscentos antigos membros do FRAPH
– dentro da República Dominicana para se preparar para um segundo golpe
de Estado. Em 2004, eles lançaram uma campanha de violência para
desestabilizar o Haiti, crianao novo pretexto para forças dos EUA
desembarcarem no país e removerem Aristide do cargo. Pela segudna vez.
18. Honduras
O golpe de 2009 em Honduras iniciou uma era de dura repressão e o assassinato, por esquadrões da morte de oponentes políticos, sindicalistas e jornalistas.
Na época, oficiais norte-americanos negaram qualquer participação com o
golpe e usaram de semântica para evitar o corte da assistência militar –
driblando o que é requerido pelas leis dos EUA. Mas dois vazamentos do
Wikileaks revelaram que a embaixada dos EUA era a maior patrocinadora nas gestões, pós-golpe, para a formação de um governo que reprimiu seu próprio povo.
19. Indonésia
Em 1965, o general Suharto tomou o poder do presidente Sukarno sob o
pretexto de combater um golpe fracassado. Iniciou, na sequência, uma ondaa de assassinatos em massa,
que resultaram na morte de pelo menos meio milhão de pessoas.
Diplomatas norte-americanos admitiram posteriormente que proveram listas
com os nomes de 5 mil membros do Partido Comunista que seriam mortos. O
oficial político Robert Martens disse:
“Realmente foi uma grande ajuda para o exército. Eles provavelmente
mataram muitas pessoas e eu provavelmente tenho muito sangue em minhas
mãos, mas isso não é tão ruim. Há momentos em que você tem agir com
força, em um momento decisivo.
20. Irã
O Irã talvez seja o caso mais instrutivo sobre golpes da CIA que
causaram uma interminável lista de problemas para os EUA. Em 1953, a CIA e o MI-6 britânico derrubaram o popular governo eleito de Mohammed Mossadegh.
O Irã havia nacionalizado sua indústria petrolífera por votação unânime
no Parlamento, encerrando o monopólio da British Petroleum (BP), que
pagava ao país apenas 16% dos royaties na venda de seu próprio
combustível. Por dois anos, o Irã resistiu ao bloqueio naval britânico e
sanções econômicas internacionais. Quando o presidente Eisenhower
entrou na Casa Branca em 1953, a CIA concordou com um pedido britânico
de intervenção. Depois que o primeiro golpe falhou e o Xá Reza Pahlevi
voou para a Itália, a CIA pagou milhões de dólares em suborno para
oficiais militares e gangsters, que aterrorizaram as ruas de Teerã com
violência. Até que Mossadegh finalmente foi removido e o Xá retornou ao
poder como um brutal fantoche ocidental, até a Revolução Iraniana, em
1979.
21. Iraque
Em 1958, após o general Abdul Qasim derrubar a monarquia apoiada pela Grã-Bretanha, a CIA contratou um jovem de 22 anos,
chamado Saddam Hussein, para assassiná-lo. Hussein e sua gangue
falharam feio na missão e ele fugiu para o Líbano, ferido na perna por
um de seus companheiros. A CIA alugou-lhe um apartamento em Beirute.
Depois, deslocou-o para Cairo, onde era pago como um agente da
inteligência egípcia e era, também, um frequente visitante da embaixada
norte-americana. A CIA finalmente assassinou Qasim em um golpe pelo
Partido Baath – e, como na Guatemala e Indonésia, entregou ao novo
regime uma lista de pelo menos 4 mil membros do Partido Comunista a
serem assassinados. No entanto, uma vez no poder, o Baath não se dispôs a
ser um fantoche ocidental. Nacionalizou a indústria petrolífera no
país, adotou uma política externa nacionalista e criou o melhor sistema
educacional e de saúde no mundo árabe. Em 1979, Saddam Hussein tornou-se
presidente, após expurgar oponentes políticos. Lançou-se em uma
desastrosa guerra contra o vizinho Irã. A inteligência do Pentágono
abasteceu Saddam, nesta guerra, com imagens de satélite necessárias para
utilizar armas químicas, que o Ocidente ajudou a produzir. Donald
Rumsfeld e outros assessores do governo norte-americano enxergavam
Hussein como um aliado contra o Irã. Apenas quando o Iraque invadiu o
Kuwait e Saddam Hussein tornou-se mais útil como um inimigo, os EUA
retularam-no como “um novo Hitler”. Depois que os EUA invadiram o Iraque em 2003, baseando-se em mentiras, a CIA recrutou 27 brigadas da “polícia especial”
– unindo a mais brutal das forças de segurança de Hussein com as
milícias Badr, treinadas pelo Irã – para criar esquadrões da morte que
mataram dezenas de milhares de homens e meninos, de maioria sunitas, em
Bagdá e outras cidades, em um reinado de terror que continua até hoje.
22. Israel
Assim como usam seus poderes econômicos e militares, seu sofisticado
programa de propaganda e sua posição como membro permanente do Conselho
de Segurança da ONU para violar as leis internacionais com impunidade,
os EUA empregam as mesmas ferramentas para criar um escudo protetor a
seu aliado israelense, evitando que este tenha que responder por seus
crimes. Desde 1966, os EUA usaram 83 vezes seu poder de veto,
como membro permanente no Conselho de Segurança – mais do que todos os
outros quatro membros combinados. Em 42 casos, estes vetos foram sobre
resoluções acerca Israel e/ou Palestina. No início desse ano, a Anistia Internacional publicou um relatório
dizendo que “forças israelenses demonstraram uma enorme indiferença com
a vida humana, ao matar dezenas de civis palestinos, incluindo
crianças, na Faixa de Gaza ocupada nos últimos três anos, com total
impunidade”. Richard Falk, o relator especial da ONU sobre Direitos
Humanos em Territórios Ocupados, condenou o ataque de 2008 em Gaza
como uma “violação maciça da lei internacional”, salientando que países
como os EUA, que “forneceram armas e apoiaram o cerco, eram cúmplices
nesses crimes”. A Lei Leahy
exige que os EUA cortem assistência militar a forças de segurança que
violem os direitos humanos, mas ela nunca foi aplicada a Israel – que
continua a construir colônias em territórios ocupados, violando o quarto
artigo da Convenção de Genebra, tornando ainda mais difícil o cumprimento das resoluções da ONU
que exigem a retirada completa dos territórios ocupados. Mesmo assim,
Israel continua acima de lei – protegida de prestar de contas pelo seu
poderoso aliado, os EUA.
23. Iugoslávia
O bombardeio aéreo da OTAN na Iugoslávia em 1999 foi um flagrante crime de agressão que violou o Artigo 2.4 da Carta da ONU.
Quando o secretário de relações exteriores britânico, Robin Cook, disse
à secretária de Estado dos EUA, Caroline Albright, que o Reino Unido
estava tendo “dificuldades com seus advogados” a respeito do ataque
planejado, ela disse, de acordo com seu assistente James Rubin, que os
britânicos deveriam “arrumar novos advogados”.
O grupo “terceirizado” pela OTAN para agir em campo contra a Iugoslávia
era o Exército de Libertação de Kosovo (KLA), liderado por Hashuim Thaci. Um relatório de 2010 do Conselho da Europa e um livro de Carla Del Ponte,
antiga procuradora da Tribunal Internacional de Justiça para a
Iugoslávia, alertaram, por muito tempo, que na época da invasão da OTAN,
Thaci comandava uma organização criminosa chamado Drenica, que enviou
mais de 400 sérvios capturados à Albânia para serem mortos e assim terem
seus órgãos retirados e vendidos para transplante. Hashim Thaci é hoje o
primeiro-ministro de Kosovo, o protetorado da OTAN.
24. Laos
A CIA começou a fornecer apoio aéreo às forças francesas no Laos,
em 1950, e continuou envolvida no país por mais 25 anos. A agência
orquestrou pelo menos três golpes de Estado entre 1958 e 1960, com o
intuito de manter a crescente esquerda, liderada por Pathet Lao, fora do
poder. A CIA também trabalhou com os chefões do tráfico de drogas de direita no Laos,
como o general Phoumi Nosavan – transportando ópio entre o Myanmar,
Laos e Vietnã – além de proteger seu monopólio no comércio de ópio no
Laos. Em 1962, a CIA recrutou um exército clandestino de mercenários que
contava com 30 mil soldados veteranos de guerras de guerrilha da
Tailândia, Coreia, Vietnã e das Filipinas, para lutar contra Pathet Lao.
Como inúmeros soldados norte-americanos se viciaram em heroína, durante
a guerra do Vietnã, a Air America, da CIA, transportou ópio do
território Hmong, nas montanhas, para os laboratórios de heroína do
general Vang Pao, em Long Tieng e Vientiane, para serem embarcadas para o
Vietnã. Quando o golpe da CIA contra Pathet Lao falhou, os EUA
bombardearam o Laos, tão brutalmente quanto no Camboja, lançando 2
milhões de toneladas de bomba.
25. Líbia
A ação da OTAN na Líbia construiu a maneira “disfarçada, silenciosa e livre de imprensa”
adotada pelo presidente Obama para fazer guerra. A campanha de
bombardeio da OTAN foi falsamente vendida ao Conselho de Segurança da
ONU como um esforço para proteger civis e o papel dos militares
ocidentais e outras forças estrangeiras foi bem disfarçado, mesmo quando
as forças especiais do Qatar (incluindo mercenários paquistaneses ex-agentes do ISI) lideraram o ataque final ao quartel-general Bab Al-Azizia, em Trípoli. A OTAN conduziu 7.700 ataques aéreos. Entre 30 e 100 mil pessoas foram mortas. Cidades leais ao governo foram bombardeadas até virar destroços. Hoje, quano o país está em caos,
milícias armadas e treinadas pelo Ocidente dominam territórios e
instalações de petróleo, por meio da força. Uma delas, a Misrata, é um
das mais violentas e poderosas. Há poucos dias, manifestantes entraram
atirando no Congresso pela quarta ou quinta vez, em poucos meses e dois
representantes eleitos foram mortos enquanto fugiam.
26. México
A contagem de mortos nas guerras às drogas no México chegou recentemente a 100 mil vítimas. O mais violento dos cartéis de drogas é conhecido por “Los Zetas”. Oficiais dos EUA dizem
que eles são os “mais tecnológicos, avançados e perigosos dos cartéis
operando no México”. O cartel dos Zetas foi formado por forças de
segurança mexicanas, que por sua vez, foram treinados por forças especiais norte-americanas, na Escola das Américas, em Fort Benning – Geórgia; e em Fort Bragg, Carolina do Norte.
27. Myanmar
Após a Revolução Chinesa, os generais do Kuomitang deslocaram-se para
o norte de Myanmar e se tornaram poderosos barões das drogas, contando
com a proteção militar da Tailândia, financiados por Taiwan e tendo o
suporte logístico e transporte aéreo da CIA. A produção de ópio em
Myanmar cresceu de 18 toneladas em 1958, para 600 toneladas em 1970. A
CIA manteve essas forças como um bastião na luta contra a China
comunista. Ajudou a converter o “Triângulo de Ouro”
no maior produtor mundial de ópio. A maioria dessa produção foi
transportada por mulas para a Tailândia, onde outros aliados da CIA,
embarcavam-na para laboratórios de heroína em Hong Kong e Malásia. O
comércio mudou um pouco o foco quando o parceiro da CIA, general Vang
Pao, montou novos laboratórios no Laos, para fornecer heroína aos
soldados norte-americanos.
28. Nicarágua
A Nicarágua foi governada por Anastasio Somoza por 43 anos como se
fosse seu feudo particular. O ditador contou com o apoio incondicional
dos EUA, enquanto sua Guarda Nacional cometia todo o tipo de crime
imaginável – de assassinatos à tortura, de extorsão a estupro – sempre
com completa impunidade. Após Somoza finalmente ser deposto pela Revolução Sandinista, em 1979, a CIA recrutou, treinou e apoiou os mercenários “contras”,
que invadiram o país com o objetivo de promover terrorismo e
desestabilizar a Nicarágua. Em 1986, a Corte Internacional de Justiça
considerou os EUA culpados de agressão contra Nicarágua,
por enviarem os “contras” e sabotarem os portos nicaraguenses. A Corte
ordenou que os EUA terminassem suas agressões e pagassem reparações de
guerra à Nicarágua, mas isso nunca aconteceu. A resposta norte-americana
foi dizer que não considerava mais a jurisdição da Corte Internacional –
efetivamente colocando-se acima das leis internacionais.
29. Paquistão; 30.Arábia Saudita; 31. Turquia
Após ler o meu último texto
no Alternet sobre o fracasso na guerra ao terror, um ex-especialista em
terrorismo da CIA e Departamento de Estado, Larry Johnson, disse que “o
principal problema sobre enfrentar a ameaça terrorista é definir
precisamente o patrocínio do Estado. Os maiores culpados hoje, em
contraste ao que ocorria vinte anos atrás, são o Paquistão, a Arábia
Saudita e a Turquia. O Irã, apesar das bravatas dos neoconservadores de
direita, não está ativamente encorajando e/ou facilitando o terrorismo”.
Nos últimos doze anos, a ajuda militar dos EUA ao Paquistão totalizou 18,6 bilhões de dólares. Os EUA acabaram de negociar a maior venda de armas na história com a Arábia Saudita e a Turquia é um velho membro da OTAN. Os três maiores países patrocinadores do terrorismo são todos aliados dos EUA.
32. Panamá
Integrantes da agência antidrogas DEA, nos EUA, queriam prender Manuel Noriega
em 1971, quando ele era o chefe da inteligência militar no Panamá.
Tinham evidências suficientes para condená-lo por tráfico de drogas, mas
ele era ao mesmo tempo, um velho agente e informante da CIA – assim
como tantos outros traficantes também foram, de Marselha a Macau. Por
isso, era intocável. Foi temporariamente desligado de suas funções
durante o governo Carter mas, mesmo assim, continuava a receber seu
pagamento anual de 100 mil dólares do Tesouro norte-americano. Quando
subiu ao status de governante de fato do país, Noriega tornou-se ainda
mais valioso para a CIA – relatando seus encontros com Fidel Castro em
Cuba e Daniel Ortega na Nicarágua, além de apoiar as operações secretas
dos EUA dentro da América Central. Noriega provavelmente parou de
traficar drogas em 1985, muito antes de os EUA o acusarem publicamente
em 1988. O indiciamento em 1989 foi apenas uma desculpa para os EUA
invadirem o Panamá, cujo maior propósito era ter um controle ainda maior
sobre o país a um custo de 2 mil vidas.
33. Síria
Quando o presidente Obama aprovou em 2011, o envio de armas e de homens da milícia na Líbia para a base do “Exército Livre da Síria”,
na Turquia – em voos da OTAN não registrados –, calculou que os EUA e
seus aliados poderiam replicar o “sucesso” que foi a mudança de regime
na Líbia. Todos os envolvidos no caso compreenderam que, na Síria, o
conflito seria longo e sangrento, mas apostaram que, ao final, o
resultado seria o mesmo, mesmo com 55% de sírios apoiando publicamente o presidente Assad. Poucos meses depois, os líderes ocidentais sabotaram o plano de paz de Kofi Annan, e usaram o “plano B”, Amigos da Síria.
Esse não era um plano alternativo de paz, mas um comprometimento com a
escalada da violência, oferecendo apoio garantido, dinheiro e armas para
os jihadistas na Síria, garantindo assim que eles ignorassem o plano de
Kofi Annan e continuassem lutando. Essa ação selou o destino de milhões
de pessoas. Nos últimos dois anos, o Qatar gastou 3 bilhões de dólares enviando armas para a Síria; a Arábia Saudita embarcou armas via Croácia
e países ocidentais junto de forças especiais de países árabes,
treinaram milhares de jihadistas radicais e fundamentalistas, que hoje
são aliados à Al-Qaeda. As conversações na conferência conhecida como
“Genebra 2” foram uma meia tentativa de retomar o plano de paz de Kofi
Annan, mas a insistência ocidental de que a “transição política” deve
envolver a renúncia de Assad revela que os líderes ocidentais valorizam
mais a mudança de regime do que a paz. Parafraseando, Phillys Bennis, os EUA e seus aliados ainda estão dispostos a lutar até o último sírio.
34. Uruguai
Muitos dos oficiais estrangeiros com quem os EUA trabalharam em
conjunto tiraram proveito pessoal de sua cooperação com os crimes
norte-americanos ao redor do mundo. Mas no Uruguai da década de 1970,
quando o chefe de polícia, Alejandro Otero, alertou seus superiores de
que os norte-americanos estavam treinando uruguaios na arte da tortura,
foi rebaixado em hierarquia. O norte-americano de quem ele reclamou era Dan Mitrione,
que trabalho para o Escritório de Segurança Pública dos EUA – uma
divisão da USAID. As sessões de treinamento de Mitrione incluíam
torturar pessoas sem-teto até a morte com choques elétricos, para
ensinar os “estudantes” até que limite podiam chegar.
35. Zaire (República Democrática do Congo)
Patrice Lumumba,
o presidente do Movimento Nacional Pan-Africano Congolês, tomou parte
na pela independência de seu país e se tornou o primeiro governante
eleito do Congo, em 1960. Foi deposto por um golpe patrocinado pela CIA e
liderado por Joseph-Desire Mobutu,
o líder do exército. Mobutu entregou Lumumba para separatistas e
mercenários apoiados pela Bélgica, contra quem ele tanto lutara na
província de Katanga. Foi executado por um pelotão de fuzilamento.
Mobutu aboliu as eleições e se autoproclamou presidente em 1965 –
continuando no poder como ditador por mais trinta anos. Matou oponentes
políticos em enforcamentos públicos, mandou outros para a tortura até a
morte e, ao final, embolsou 5 bilhões de dólares, enquanto o Zaire, nome
cunhado por ele, permanecia um dos países mais miseráveis do planeta.
Mas o apoio norte-americano a Mobutu continuou. Até mesmo quando
presidente Carter distanciou-se dele publicamente, o ditador continuou a
receber 50% de toda a assistência militar que os EUA para a África
Subsaariana. Quando o Congresso votou para cortar tal ajuda, Carter e os
empresários interessados lutaram para restaurá-la. Apenas na década de
1990, os EUA passaram a abandonar seu antigo fantoche e Mobutu foi
deposto por outro golpe em 1997, liderado por Laurent Kabila.
Uma enorme sofrimento humano poderia ter sido evitado, e problemas
globais resolvidos, se os EUA estivessem genuinamente comprometidos com a
defesa dos direitos humanos e o cumprimento da lei – diferente do que
fazem, aplicando, de maneira cínica e oportunista, tais princípios a
seus inimigos e, nunca, a seus aliados e a si próprios.
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