A mídia do capital, existente hoje e no passado, é um instrumento de manipulação da sociedade utilizado pela direita. |
Na maioria das vezes, a versão dominante na sociedade sobre qualquer
tema é estabelecida pela mídia do capital, composta pelos grandes
jornais, revistas, rádios e televisões, com raras exceções. São os
manipuladores de informações, que vivem nos bombardeando com armas
linguísticas, quando não são tendenciosos ou mentem. O objetivo
principal da mídia do capital não é ter um cidadão bem informado sobre
as múltiplas visões de um tema, mas um cidadão alienado, crente que a
única visão apresentada sobre o tema, coincidente com a visão de
interesse do capital, é a correta. Proponho-me a mostrar, a seguir,
versões pouco divulgadas de alguns fatos históricos e algumas
manipulações da população pela mídia, colhidos a esmo na memória.
A quase totalidade dos países da América Latina vinha sofrendo, desde
as suas independências, com golpes militares, seguidos por ditaduras.
Corroborando a tradição, nos anos 60 e 70 do século passado, ocorreu uma
onda golpista no continente, que espalhou ditaduras de duração
variável, dependendo do país. Os golpes tinham a aprovação do governo
dos Estados Unidos, quando não eram planejados por ele, em um mundo
dividido basicamente em dois blocos. A elite econômica de cada um desses
países SE instalou, com o apoio do capital internacional, nos governos
de tais países militares com a incumbência de permitir a usurpação do
esforço do trabalho do povo e dos recursos naturais do país. Contudo,
nada disso teria ocorrido se a mídia do capital não tivesse colaborado
ativamente.
Como outro exemplo de participação nefasta da mídia do capital na
dominação do povo e da nação, posso mencionar o caso do suposto “mar de
lama do Catete” de 1954, imputado a Vargas. E um exemplo menos distante é
o famoso caso da Proconsult sobre a eleição do Rio de Janeiro de 1982,
onde a mídia teria um papel relevante de manipulação. Pouco comentado,
mas bem característico do que esta mídia pode fazer, em 1984 um grande
canal de televisão noticiou o comício de no mínimo 300 mil pessoas do
movimento “Diretas Já”, em São Paulo, como sendo parte das comemorações
dos 430 anos desta cidade, aproveitando a coincidência do dia do comício
com o aniversário da cidade.
Continuando na lista de fraudes na comunicação, que infelizmente
nunca resultaram em condenações, em 1989, poucos dias antes da eleição
presidencial, a superexposição das imagens dos bandidos que sequestraram
o empresário Abílio Diniz com camisetas do PT deve ter retirado votos
deste partido. Também em 1989, ocorre o mais clássico caso de
manipulação de informações, já muito comentado, que consiste da edição
do debate entre Collor e Lula. Em 2006, na véspera da eleição para o
governo do estado do Paraná, um canal de TV aberta mostrou uma fila de
caminhões na estrada indo para Paranaguá, como sendo um engarrafamento
que ocorria devido à má administração do porto. As imagens não eram
daquele momento, mas de época passada.
Nos anos 90, após as ditaduras já terem sido varridas, anos antes, da
América Latina, chegou a avalanche neoliberal por imposição de forças
econômicas e políticas estrangeiras, com a complacente aceitação do
empresariado desta região. Tudo ocorreu com o firme apoio e a constância
tradicional da mídia do capital. Foi uma época de triste recordação,
pois nunca tantos foram enganados, chegando a ponto de tomarem decisões
que prejudicavam a eles próprios. Todas as sociedades dos países da
região sofreram, pois as riquezas foram dilapidadas, as empresas
fechadas ou vendidas para estrangeiros, os mercados usurpados, os
empregos exterminados e a miséria aumentada, além De os pobres fenecerem
e as pátrias esmaecerem.
Nos anos 2000, mais uma vez, acontece na América Latina uma nova onda
política, desta vez com impacto social positivo. Nesta década, os povos
da maioria dos países da região tomam posse da condução dos seus
destinos, rejeitando os candidatos da direita, para desespero desta, da
mídia do capital e de muitos profissionais de marketing político. O
governo do presidente Lula e outros desta parte do continente
conseguiram inclusões sociais, que eram consideradas como impossíveis de
serem alcançadas, a ponto de o índice de Gini da região, que havia
crescido de 0,50 em 1980 para quase 0,54 em 2000, retornar para o nível
de 0,50 em 2010 (Fonte: The Economist e Carta Capital).
Tudo leva a crer que a população desta região passou a identificar
melhor os candidatos, não significando que nunca mais votará em
conservadores. Mas não deverá mais votar por questões supérfluas, e
nunca mais candidatos maquiados a convencerão. Não é por outra razão que
Brasil, Uruguai, Argentina, Paraguai (até bem pouco tempo), Bolívia,
Equador, Venezuela, Peru e outros países têm governos bem mais próximos
do povo do que tinham mais de uma década atrás. Restam, para os
conservadores da América Latina, novas e criativas artimanhas, para as
quais continuam contando com a inseparável aliada mídia do capital.
Apesar dos eventuais erros do presidente Lugo do Paraguai, o golpe
legislativo ocorrido lá é o caso de um novo tipo de artimanha usada pela
direita para chegar ao poder. Pois, pelo voto popular, agora mais
consciente, se tornou difícil.
Assim, é extremamente elucidativo analisar o caso do desvio de
dinheiro público ocorrido no Brasil e que está em julgamento. Um bando
de usurpadores, utilizando o esquema do senhor Marcos Valério, se
locupletou. Para os que existem provas comprobatórias dos desvios, a
condenação é o caminho inequívoco a seguir. Entretanto, neste momento, a
direita vislumbrou uma forma de golpear o voto popular, pois esperar no
mínimo uns dez anos para que os antigos 40 milhões de miseráveis
famintos esqueçam quem foi eleito e não os esqueceu, irá demorar muito.
Para tanto, a direita arquitetou o estratagema, no qual a obsequiosa
mídia do capital voltava a ter participação especial. Na sua nova
tarefa, ela tinha que criar na grande massa, principalmente na classe
média, o conceito de que acontecia algo inteiramente novo no país, ou
seja, todos os integrantes de um mesmo partido tramaram suas
permanências no poder pela corrupção. Recuso-me a lançar argumentos
contra acusação tão desprovida de nexo. Tampouco irei me ater à falta de
isonomia no tratamento de questões deste partido relativamente a outros
em situação análoga. Nem sobre a coincidência do julgamento com a
véspera das eleições municipais. Não quero me ater a essas questões,
porque tudo isto é de uma imensa mesquinhez.
A pressão da mídia na classe média funcionou muito bem, uma vez que
ela passou a acreditar que todos, criminosos comprovados e supostos
criminosos, deveriam ser condenados. O instituto da “presunção da
inocência” foi jogado prazerosamente no lixo, para angústia dos
humanistas. Peço às forças maiores do universo que poupem os atuais
verdugos de terem um filho no local errado e na hora errada. O ódio com
que algumas pessoas se manifestavam com relação ao caso indicou para mim
que elas estavam se vingando, não julgando de maneira isenta.
Obviamente, um ódio incentivado.
Tenho mais uma observação. No nosso país, felizmente, a homofobia
diminuiu e a aceitação dos afrodescendentes melhorou. Contudo, a
aceitação de pessoas de esquerda por algumas instituições de governo e
pela elite econômica não aconteceu, nem um pouco. Isto explica por que
pessoas de esquerda só têm suas opiniões divulgadas na mídia do capital
em questões como direitos humanos, cultura, comissão da verdade etc.
Pessoas de esquerda nunca são chamadas a opinar nesta mídia sobre
política econômica, direito de greve, privatizações e concessões,
política externa (questões de economia, soberania etc.), política
industrial, apoio às empresas nacionais genuínas, política mineral, lei
do petróleo, renovação das concessões de hidroelétricas e outras
questões relacionadas ao capital.
A mídia do capital, existente hoje e no passado, é um instrumento de
manipulação da sociedade utilizado pela direita.
Os golpes militares,
eleitorais, legislativos e de outros tipos requerem o preparo inicial da
sociedade, feito por esta mídia. Pode-se até dizer que ela é a única
responsável pela fase do pré-golpe, tendo participação também nas demais
fases.
A “realidade da conspiração” consiste do capital internacional, uma
parte da elite econômica brasileira e a mídia do capital tramarem
diuturnamente formas de manterem o povo brasileiro desinformado,
alienado e votando contra seus próprios interesses.
Paulo Metri é conselheiro da Federação Brasileira da Associação de Engenheiros e do Clube de Engenharia. Blog do autor: http://paulometri.blogspot.com.br/ |
Sindicato dos Servidores Públicos do Judiciário Estadual na Baixada Santista, Litoral e Vale do Ribeira do Estado de São Paulo
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sexta-feira, 30 de novembro de 2012
A Realidade da conspiração
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