As eleições municipais em segundo turno realizadas em 50 cidades
mantiveram, em linhas gerais, a tendência de fortalecimento da ampla
base de sustentação do governo Dilma, incluindo o seu arco fisiológico
de direita e um outro, não tão fisiológico, mas de centro-direita, como o
partido de Kassab, o PSD.
Neste amplo leque, PT e PSB foram os mais vitoriosos. Num certo
sentido, talvez mais o PSB, que teve um crescimento espetacular nas
cidades mais importantes e ficou com cinco capitais, derrotando o PT em
BH, Fortaleza e Recife. Assim, aumenta (muito) seu poder de chantagem e
negociação sobre o governo Dilma para 2014, enquanto flerta com o PSDB
de Aécio e dá sinais de que se oferece, no cenário nacional, como um
tipo de PMDB “moderno”.
Mas o PT, pela primeira vez, confirmou-se como o partido mais votado
do país em eleições municipais, pois ganhou, afinal de contas, São
Paulo, e quase fechou por inteiro sua região metropolitana. De toda
forma, não foi uma vitória acachapante do PT e de Lula, que sofreram
derrotas importantes no Nordeste e foram bem mal no Norte do país,
apesar da vitória em Rio Branco. Mas o fato é que partidos mais próximos
da sustentação do governo, sem ignorar suas contradições, cresceram.
Encolheu a oposição de direita, com o PSDB sofrendo derrotas muito
importantes, como em São Paulo, e vencendo em capitais mais secundárias.
O DEM só não evaporou nestas eleições graças ao triunfo de ACM Neto em
Salvador, mas com uma cara mais renovada e "light" em relação ao velho
perfil oligárquico do carlismo.
Em geral, a tendência municipal foi mudancista, e não situacionista,
ainda que tenha havido envolvimento direto de Lula e Dilma em algumas
localidades, e a despeito da altíssima popularidade do governo Dilma.
Uma hipótese é que os efeitos da crise, das medidas de ajuste e os
gargalos sociais, que em geral não afetam a relação do governo Dilma com
a maioria da população, chegam de forma mais direta, concreta, na
esfera local.
Outro elemento a ser considerado no marco geral das eleições nos dois
turnos é o aumento da abstenção eleitoral no país, que, somado à
parcela que votou nulo ou branco, abarca aproximadamente 30% do
eleitorado nacional. Isto pode significar uma expressão inicial,
parcial, de desgaste dos partidos e representações tradicionais da
institucionalidade. A ampliação do número de partidos que ganharam
prefeituras importantes, inclusive siglas de aluguel, ou mesmo fenômenos
como Russomano em São Paulo e Ratinho Junior em Curitiba, é expressão
de uma certa irritação de parcela da população com os partidos e
políticos tradicionais.
De outro lado, vale reafirmar que estas eleições expressaram um
crescimento de uma esquerda socialista, de um espaço de oposição crítica
e de esquerda, expressa amplamente no PSOL, que teve votações
significativas no primeiro turno e chegou a vencer sua primeira capital
no segundo turno (Macapá), tendo uma votação muito representativa em
Belém.
Embora, registre-se, a vitória do PSOL em Macapá, com apoio do PSDB e
DEM, seja extremamente contraditória, para dizer o mínimo, pois vencer
nestas condições já gerou o rechaço de quase metade do Diretório
Nacional do partido, de inúmeros de seus candidatos, alguns
parlamentares e, possivelmente, da maioria da militância ativa.
Mas a conclusão mais importante é que, em que pese a ampliação do
número de partidos que conquistaram prefeituras importantes, o grosso
está no arco ou do bloco dirigido pelo PT ou da oposição de direita,
incluídos aí os já citados que gostam de flertar com os dois blocos
dominantes. Um resultado que não aponta para mudanças significativas no
atual modelo de política econômica e projetos que vêm sendo tocados no
país.
Em termos práticos, deve, assim, ser mantido o ajuste no setor
público, com as consequências já visíveis no âmbito da saúde,
transportes e moradia. Haverá uma nova rodada de reformas contra
direitos dos trabalhadores, o que o governo federal não esconde, tais
como a reforma trabalhista, nova reforma da previdência, lei antigreve
no setor público, ao lado da criminalização dos movimentos sociais e da
pobreza e da manutenção da política do PAC visando os megaeventos. Ou
seja, o projeto de tornar o Brasil um país capitalista mais
“competitivo”, com redução dos custos da mão-de-obra, redução da
capacidade de resistência dos trabalhadores e uma ampla política de
privatização de serviços e da infraestrutura do país.
Se, portanto, o resultado das eleições fortaleceu esse ‘mais do
mesmo’, é certo que as desigualdades geradas por essa política e os
gargalos deste modelo prosseguirão. O recente apagão elétrico no
Nordeste e parte do Norte do país são um sintoma desta doença.
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Sindicato dos Servidores Públicos do Judiciário Estadual na Baixada Santista, Litoral e Vale do Ribeira do Estado de São Paulo
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sábado, 17 de novembro de 2012
O pós-eleições: gargalos sociais não serão resolvidos
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