É muito justo destinar 100% dos royalties do
petróleo do pré-sal para a educação, como anunciou o governo através do
Ministro Aloizio Mercadante, confirmado pela Presidenta Dilma Rousseff.
A área de saúde poderia também ser contemplada, mas até agora nada foi dito nesse sentido.
Merece aplausos o anúncio de Mercadante, mas antes é
preciso conhecer o modelo de educação que o governo federal quer para o
país. Se for o esquema do Banco Mundial, que a secretária de Educação
do município do Rio, Claudia Costin, implanta por aqui, os 100% serão
destinados para um esquema de mercado.
Vale lembrar que o Ministro da Educação recentemente
tinha jogado um balão de ensaio convidando a secretária Costin para o
cargo de Secretária de Educação Básica da Pasta. Professores de todo o
Brasil se mobilizaram com abaixo assinado de repúdio. A nomeação não
saiu, mas só o fato de anunciar o convite à secretária municipal do Rio,
a mesma que serviu ao governo Fernando Henrique Cardoso como Ministra
da Administração, é sintomático.
Costin adora falar em resultados, da mesma forma que
os defensores da diminuição do Estado e do modelo de gestão colocado em
prática por FHC.
É necessário aprofundar a questão para que os
brasileiros não se deixem levar por projetos que no fundo não servem ao
país, como o modelo educacional propugnado pelo Banco Mundial, voltado
para o mercado e com índices de produtividade semelhantes ao de uma
empresa privada. Como se a educação fosse um negócio.
Como existe um sindicalismo de resultados e que
apoiou políticas econômicas neoliberais, é necessário estar atento,
porque o Banco Mundial propugna uma pedagogia também de resultados.
Aí
cabe a pergunta: que resultados e para quem?
Por estas e muitas outras, antes de destinar os 100%
das verbas do petróleo do pré sal para a educação, é necessário
questionar o modelo que está sendo implantado não só no Rio, como em São
Paulo, onde o PSDB tem o controle do Estado desde a década de 80, e em
outros municípios.
Os brasileiros não podem aceitar um esquema
educacional que tenha por objetivo apenas preparar mão de obra para as
empresas. Educação em países como o Brasil e demais na América Latina
tem de estar voltada para a cidadania, ou seja, a formação de cidadãos
críticos.
É tudo que o esquema neoliberal abomina e por isso
só aceita educar para satisfazer o mercado. E também é necessário que o
projeto de educação para a formação de cidadãos esteja inserido em um
projeto de nação. Até porque educação e soberania estão interligados. É
tudo o que o esquema neoliberal defendido com unhas e dentes pelo PSDB
abomina.
Não é à toa que na edição de domingo de O Globo,
economistas defensores do esquema neoliberal de FHC, um deles Armínio
Fraga, defenderam com unhas e dentes o modelo do PSDB e de quebra
alertaram para a importância da educação. Eles querem que a educação se
destine à formação de mão de obra, de preferência barata, para empresas,
jamais uma educação voltada para a cidadania.
No mais, a Prefeitura de Petrópolis neste final de
2012 anunciou a desapropriação da “casa da morte”, no bairro de Caxambu,
onde as autoridades que mandavam no país na época da ditadura matavam
opositores do regime e alguns deles, conforme denúncias do ex-policial
Cláudio Guerra, acabaram no forno de uma usina de açúcar no município
de Campos.
O local deverá ser transformado em um museu da
memória, para que as novas gerações sejam informadas sobre os
acontecimentos em um período da história brasileira que pouco a pouco
está sendo conhecida.
E no Rio, o governador Sérgio Cabral quer
transformar o antigo prédio do DOPS, na rua da Relação, um local de
bares e lojas comerciais, junto com um Museu da Polícia.
Se a ideia vingar, o povo brasileiro perderá a
referência de um local histórico que deveria ter como destino final a
criação de um museu para preservação da memória. Na prática, Cabral quer
mesmo apagar um período da história brasileira, tenebroso, diga-se de
passagem, que não se pode esquecer, para que não se repita.
Que o Brasil tenha um feliz 2013, mas com atenção,
porque o conservadorismo, mesmo que disfarçado, e que não tem voto
tentará de todas as formas se fazer presente. E a histõria brasileira
mostra que quando isso acontece, todo cuidado é pouco.
Mário Augusto Jakobskind
É
correspondente no Brasil do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador
do Pasquim, repórter da Folha de São Paulo e editor internacional da
Tribuna da Imprensa. Integra o Conselho Editorial do seminário Brasil de
Fato.
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