Por Claudio Weber Abramo, Diretor Executivo da Transparência Brasil:
Participei,
na semana passada, de painel de debates durante congresso que a
Associação dos Magistrados Brasileiros promoveu em Belém (PA).
Após frisar que o Judiciário brasileiro é unanimemente considerado
abaixo da crítica na literatura comparada, sendo incapaz de entregar à
população o serviço da justiça, passei a descrever por alto alguns dos
números relativos ao tempo de espera para a resolução de processos no
Supremo Tribunal Federal, coligidos no âmbito do projeto Meritíssimos
(www.meritissimos.org.br), da Transparência Brasil.
Aludi a algumas causas para a lentidão do STF e do Judiciário em
geral. Seria impossível não mencionar, entre tais causas, os privilégios
da magistratura, entre eles a prerrogativa de gozar de férias de dois
meses por ano.
Ao abordar a questão, disse que os magistrados se consideram
merecedores de férias tão prolongadas porque, alegadamente, trabalhariam
à noite e nos fins de semana. Disse que, sem dúvida, deve haver
magistrados que fazem isso, mas que, de forma a considerar a
circunstância como predominante na atividade, seria necessário que a
alegação fosse acompanhada de números — os quais inexistem.
Ante a falta de medidas objetivas quanto à produtividade de
magistrados, fiz a pergunta: “Por que alguém deveria acreditar no que os
juízes afirmam?”
Foi o suficiente para transformar a ocasião num suceder-se de
lamentações indignadas a respeito de quanto cada qual trabalha e as
decorrentes consequências familiares, de saúde e assim por diante.
Houve quem exprimisse que, na verdade, juízes mereceriam férias de 90
dias. Não faltou quem tivesse atribuído a crítica aos privilégios da
magistratura como “inimizade” em relação a juízes.
O ponto mais baixo foi atingido quando alguém declarou que números
não exprimem a realidade da magistratura, afirmação recebida com
aplausos particularmente entusiasmados da plateia.
Não é extraordinário que juízes procurem defender seus privilégios.
Qualquer categoria defenderá ferrenhamente suas vantagens, por mais
descabidas que sejam. O extraordinário, no caso, foi a total ausência de
argumentos objetivos.
Ainda que não se possa considerar que o público presente à discussão
tivesse sido representativo da magistratura brasileira, a completa falta
de objetividade e a incapacidade de encarar a questão friamente dá
pistas sobre o que se pode esperar de uma categoria que tem suas
benesses contestadas.
Se a história encerra alguma moral, é que o problema dos privilégios
da magistratura (como de qualquer categoria de funcionários públicos)
jamais poderá ser solucionado levando-se em conta as opiniões dos
beneficiários.
Afirmar-se que o encaminhamento do problema passaria, por motivos
“democráticos”, por debates com juízes, é a melhor forma de garantir que
o assunto permancerá estacionado.
O que deve governar a questão é a avaliação sobre se é de fato
democrático permitir-se que uma categoria de agentes do Estado goze de
privilégios que ninguém mais (exceto, naturalmente, os promotores
públicos) goza.
Um comentário:
Segue marchinha da greve de 2010 (contribuição dos servidores do Complexo Judiciário Ipiranga)
"Esses lentíssimos juízes, desembargadores, são muito ágeis pra lesar os servidores. O Escrevente, que é muito gente, também despacha pra Justiça ir à frente. O Auxiliar já está terceirizado, privatizado está o Poder Judiciário; até a PRODESP foi desprezada e a que preço a SOFTPLAN foi contratada?? Desvio de verba, desvio de função e a sociedade sofre com a leeeeeeeennnnnnnnttiiiiiiidão.
A maior punição ainda é a aposentadoria compulsória... discutir o quê?? pra quê??
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