Oxfam alerta que os poderes econômicos e políticos estão
“separando cada vez mais as pessoas”, tornando inevitáveis “as tensões
sociais e o aumento do risco de ruptura social”
A organização humanitária Oxfam publicou um relatório esta
segunda-feira onde dá conta que a riqueza acumulada pelas 85 pessoas
mais ricas do mundo corresponde aos recursos disponíveis de mais de
metade dos pobres de todo o mundo. Em Portugal, o peso dos rendimentos
dos mais ricos no rendimento total do país mais que duplicou desde a
década de 80.
O estudo intitulado “Governar para as elites – sequestro democrático e
desigualdade econômica”, é divulgado nas vésperas de mais um Fórum
Econômico Mundial de Davos, que reúne os mais poderosos e ricos do
mundo.
Com este estudo, a organização pretende alertar para o fato dos
poderes econômicos e políticos estarem “separando cada vez mais as
pessoas”, tornando inevitáveis “as tensões sociais e o aumento do risco
de ruptura social”.
A Oxfam alerta que cerca de metade da riqueza de todo o globo é
propriedade de apenas 1% da população mundial, o que corresponde a 110
bilhões de euros, 65 vezes superior ao que dispõe a metade mais carente
do mundo.
Os dados relatados pela organização são elucidativos. No ano passado,
210 pessoas entraram no “restrito clube dos multimilionários – que
superam o 1 bilhão de dólares de fortuna -”, atualmente composto por
1.426 pessoas, com uma riqueza total avaliada em 5,4 bilhões de dólares.
Por sua vez, na Europa, a fortuna das dez pessoas mais ricas, 217
bilhões de euros, ultrapassa o valor das medidas de estímulo à economia
aplicadas entre 2008 e 2010 (200 bilhões de euros). Segundo a Oxfam,
estes valores dão uma “ideia da magnitude da concentração de riqueza a
nível mundial”.
A organização vai mais longe e demonstra que sete em cada dez pessoas
vivem em países onde a desigualdade econômica aumentou nos últimos 30
anos e que o peso dos rendimentos do 1% mais rico da população nos
rendimentos totais dos seus países cresceu em pelos menos 24 dos 26
Estados para os quais dispõe de dados. Esta tendência confirma-se também
“em países considerados mais igualitários, como a Suécia e a Noruega”.
Em Portugal, à semelhança da China e dos Estados Unidos, o peso dos
rendimentos dos mais ricos no rendimento total do país mais que duplicou
desde a década de 80, “e a situação tem vindo a piorar”, revela o
relatório.
“É provável que, na realidade, a concentração de riqueza seja muito
maior, dado que uma grande quantidade dos rendimentos dos mais
endinheirados se ocultam em paraísos fiscais”, entende a Oxfam, que
estima existirem pelos menos 18,599 bilhões de dólares não registados.
No tocante à distribuição de riqueza, a organização humanitária
foca-se em dados do Crédit Suisse que demonstram que 86% dos recursos do
mundo são controlados por apenas 10% da população, por sua vez, os 70%
dos mais pobres, têm a seu dispor apenas 3% dos recursos.
Segundo a Oxfam, a concentração de capital não tem equivalente na
história mundial, dando o exemplo do multimilionário mexicano Carlos
Slim, que com apenas os seus ganhos anuais conseguiria pagar o salário
anual a 440 mil conterrâneos.
Os autores chegam mesmo a classificar esta concentração brutal de
recursos como um “sequestro democrático”, que faz com que vários
governos sirvam apenas uma pequena elite através de “políticas fiscais
injustas e práticas corruptas, que expoliam os cidadãos”. “A magnitude
da concentração de riqueza, a monopolização de oportunidades e a
desigualdade na representação política são uma tendência grave e
preocupante”, que ameaça “perpetuar as diferenças entre ricos e pobres e
torná-las irreversíveis”.
Assim, solicitam aos participantes de Davos que tomem medidas para combater as desigualdades.
Segundo o jornal Público, entre as recomendações aos mais ricos e
poderosos do mundo figuram as de não recorrer a paraísos fiscais, nem
fugir aos impostos; não utilizar o poder econômico para obter favores
políticos; o apoio a políticas de progressividade fiscal sobre a riqueza
e os rendimentos; exigir que todas as empresas paguem salários justos
aos seus trabalhadores e que os governos canalizem a sua receita fiscal
para proporcionar cuidados de saúde, educação proteção social a todos os
cidadãos.
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