O presidente da CUT, Artur Henrique, defendeu 'mudanças estruturais' e presença regulatória do Estado na economia (Roberto Parizotti/CUT)
São
Paulo – Na avaliação de técnicos e sindicalistas que participam
do congresso nacional da CUT, as crises norte-americana e europeia
demonstram a importância da presença do Estado na economia e a
necessidade de regulamentação dos chamados mercados, desmontando
teses centrais nos anos 1990, que pregavam exatamente o contrário.
“A luta contra o desemprego é política e encontra forte
oposição”, afirmou o assessor político sênior do comitê
sindical da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OCDE), Roland Schneider. “Os inimigos do movimento
sindical se opõem à intervenção do Estado na economia”,
acrescentou, considerando a estratégia de crescimento do Brasil “um
exemplo bem sucedido”.
Para
Schneider, “a experiência brasileira sublinha a importância de
proteger os setores mais vulneráveis”. Ele destacou a necessidade
de manter o investimento público e as politicas públicas voltadas
para o emprego, defendendo instrumentos do mercado de trabalho como a
legislação, o salário mínimo e o seguro-desemprego. O assessor vê
governos europeus sendo chantageados por organismos financeiros
internacionais para aplicar modelos de austeridade fiscal, “uma
péssima ideia para fazer crescer a economia”.
O
secretário-geral da Central Sindical dos Trabalhadores e
Trabalhadoras das Américas (CSA), Victor Baez, vê um processo de
disputa por uma nova hegemonia no debate sobre projeto de sociedade.
“A crise não é apenas econômica. É trabalhista, social,
ambiental, alimentar e energética. Isso nos leva a pensar em que
tipo de desenvolvimento queremos para os nossos países, para o
continente e para o mundo. Os direitos humanos não dependem apenas
das leis, das constituições e das convenções, mas sobretudo do
tipo de desenvolvimento que nós queremos.”
Para
ele, passou-se do período do Estado do bem-estar social para a
“financeirização” da economia e o crescimento das
transnacionais, o que resultou em concentração da riqueza e
eliminação das pequenas empresas, impedindo a expansão do emprego.
A legislação trabalhista também ficou sob ameaça, acrescentou. “O
que está acontecendo na OIT (Organização
Internacional do Trabalho)
é uma briga pelo poder. O papel normativo da OIT está sendo
questionado”, afirmou. O presidente da CUT, Artur Henrique,
destacou a importância da eleição de Guy Ryder para a direção
geral da organização, com apoio do movimento sindical. “Mas isso
não basta se não houver uma estrutura para que a OIT consiga
continuar implementando a agenda do trabalho decente.”
Mas
Artur acredita que é momento de "mudanças estruturais" na
economia, dando o exemplo de uma efetiva reforma tributária.
"Desonerações pontuais não bastam mais." Isso também
vale para a política, sustenta o dirigente: "Queremos discutir
nosso modelo de desenvolvimento. E o instrumento para isso é a
plataforma da CUT para as eleições. Temos lado nessa disputa."
Na
mesma linha, o secretário-geral da Cisl (central sindical italiana),
Raffaele Bonanni, defendeu o que chamou de "verticalização"
do poder. "É preciso maior participação dos trabalhadores nas
decisões econômicas e políticas", afirmou.
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