Santos, 07 de Abril de 2014
RENÚNCIA
Companheiros e companheiras
Renuncio hoje formalmente
ao meu cargo e ao mandato de Coordenador Geral da Diretoria do Sindicato dos
Trabalhadores e Funcionários Públicos do Judiciário Estadual, na Baixada
Santista, Litoral e Vale do Ribeira do Estado de São Paulo - Sintrajus.
Após 15 anos
como trabalhador público do judiciário de São Paulo e quase oito anos como um
dos representantes da categoria, dos quais três anos como Coordenador do
Sintrajus, entendo que chegou o momento de optar por me dedicar à carreira para
a qual estudei e me formei.
A falta de um
real e efetivo plano de carreiras no Tribunal de Justiça, que de fato
aproveitasse as potencialidades de seus funcionários e permitisse uma
verdadeira progressão entre os cargos funcionais torna-se também um argumento que
motiva minha saída, dado que funcionalmente o cargo que ocupava, de agente
operacional, não possui a menor perspectiva de evolução profissional.
Essa visão
instalada e consolidada nas duas leis que tratam do plano de carreiras dos
funcionários do judiciário decorre de uma visão estreita e centralizadora de
comando, que por fim acaba privilegiando os altos cargos comissionados em
detrimento dos cargos efetivamente de carreira os quais ficam a mercê de julgamentos
subjetivos das respectivas excelências hierárquicas. Tentamos e lutamos por um
plano de carreiras verdadeiro, mas fomos sempre derrotados, e não conseguimos
mais do que pequenos ajustes para mitigar danos de um projeto ruim, desde a
origem, que seguiu a distorcida e cara influência de consultorias privadas que
tentam impor ao serviço público a selvagem lógica do mercado.
Enfim, creio que
pude contribuir com os companheiros trabalhadores do judiciário estadual de São
Paulo nas lutas em defesa de seus direitos, na ampliação desses direitos e de
novas conquistas, assim como na
organização, na participação e na mobilização dessa categoria, que mesmo ao me
retirar posso chamar de “nossa”, pois fizemos parte de momentos históricos e
memoráveis das lutas dos trabalhadores com movimentos como as greves de 2001,
2004 e 2010.
Em especial a
última, a mais difícil, a mais longa, onde a presença e atuação dos
companheiros da Baixada Santista, Litoral e Vale do Ribeira foi marcante e
decisiva para as vitórias conquistadas e certamente refletiram o resultado do
trabalho que em conjunto iniciamos em 2004.
Basta dizer
que proporcionalmente ao número de servidores da base os maiores percentuais de
paralisação foram dos fóruns de nossa região, fóruns grandes com centenas ou
milhares de trabalhadores na época. Ou dizer que um terço daqueles heroicos
companheiros, que ocuparam o maior fórum da América Latina, em luta e protesto
contra a intransigência e a truculência da então presidência do TJ, era da
Baixada Santista, Litoral e Vale do Ribeira e aguentamos firmes, do lado de
dentro e de fora, com o apoio dos trabalhadores na praça, dia e noite, naquelas
48 horas sem água potável, sem comida, sob o frio gelado da capital, cortante
no chão de granito do fórum, e sob a ameaça da retirada violenta pelas forças
policiais.
Naquele
momento ganhamos a greve de 2010. Não só pelo impulso e solidariedade que
trouxe ao movimento, daquela parcela que não havia aderido, mas
fundamentalmente por que o TJ percebeu então que nossa resistência era
infinita, sólida e essa rebeldia determinada nos levaria a arrancar nossa
vitória após os 127 dias que abalaram a história da justiça em São Paulo.
Retiro-me para
me dedicar à profissão de professor, concursado, na rede pública. Ainda que
tardiamente início nessa profissão, sabendo que me esperam condições piores até
das que lutamos pra mudar no TJ e um salário ainda menor do que tenho hoje, aliás,
um dos mais baixos do quadro do TJ.
Sigo, porém
com a vontade de realizar o mesmo que acredito fiz em minha passagem pelo
judiciário: socializar o conhecimento adquirido na universidade pública e na
militância política.
Agradeço a
todos os companheiros com os quais trabalhei e militei junto e espero que
voltemos a nos encontrar nas lutas comuns e gerais dos trabalhadores. Aprendi
muito com vocês. Mas aprendi também que a luta política é marcada também por
frustrações e decepções, e por um estranho sentimento de solidão quando não
alcançamos os objetivos compartilhados ou quando percebemos que alguns optam
pelo caminho mais fácil, o de se juntar ao patrão, conchavar, conciliar, e até
ajudar a difundir o pensamento patronal em troca de ambiciosos projetos
pessoais. Sempre atuamos contra essas práticas.
Por isso acredito
no Sintrajus, como uma grande conquista para a categoria, como um instrumento
de luta e combativo dos trabalhadores. O sindicato é para mim o ponto final dos
esforços e do trabalho que realizamos, e me sinto muito feliz e honrado por ter
participado de sua criação. É construindo o sindicato que os judiciários de
nossa região estarão fortalecendo a participação e a mobilização para evoluir
na luta e alcançar novas conquistas. O Sintrajus é a esperança para um futuro
melhor.
Guardarei as
melhores lembranças desse companheirismo vivido nos últimos 15 anos. Estarão
sempre nos meus pensamentos. Foi uma honra lutar ao lado dos companheiros.
Obrigado.
Até a vitória!
Sempre.
Hugo
Rogério Nicodemos Coviello
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