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Em meio a esta discussão sobre a falta de recursos para investir no
social – no transporte público, no salário dos professores, no sistema
de saúde e em tudo o mais que pode tornar a vida melhor para as maiorias
– fomos procurar recursos públicos... e encontramos muito dinheiro! Mas
não é fácil acessá-lo.
Durante décadas as grandes empresas investiram pesadamente,
influenciando o Parlamento e o Executivo para moldarem uma legislação e
políticas que atendam a seus interesses. Nos anos 1990, com a hegemonia
do pensamento neoliberal se afirmando no Brasil, o governo orientou suas
políticas para facilitar, ou amplificar, o processo de acumulação das
grandes empresas. O dinheiro público é destinado a potenciar
investimentos privados, ou a remunerar aplicações financeiras.
A autonomia do Banco Central é um dogma neoliberal que comprova a
hegemonia dessa doutrina; na prática, entrega a gestão da política
econômica ao setor financeiro privado. O compromisso com o superávit
primário garante aos rentistas o pagamento do serviço da dívida, que
consome hoje mais de 48% do total dos impostos arrecadados. Os
principais credores da dívida pública são as corporações financeiras
nacionais e internacionais e os fundos de investimento. A taxa Selic
serve para assegurar essa extraordinária rentabilidade para os
investidores que compram títulos da dívida pública. E o risco zero desse
investimento está garantido na própria Constituição de 1988, em seu
artigo 166, § 3o, que trata das emendas ao projeto de
lei do orçamento anual ou aos projetos que o modifiquem, impedindo que
os cortes orçamentários incidam sobre o serviço da dívida. Pode-se
cortar o orçamento das políticas sociais, mas nunca a remuneração
assegurada aos rentistas.
No âmbito do Judiciário, as facilidades continuam. As dívidas pelo não
pagamento dos impostos podem ser proteladas por anos; depois de vencido o
último recurso, elas podem ser parceladas em até sessenta meses e ao
final ainda receber abatimentos − descontos que chegam a 40% do valor
principal no caso do agronegócio. Essas políticas públicas são um
verdadeiro incentivo à sonegação.
Mas as fontes de receitas possíveis não são só as dívidas que não foram
pagas pelas empresas aos poderes públicos: há o dinheiro dos impostos
que não entrou, por conta de toda uma legislação que facilita a vida das
empresas e de seus “planejadores tributários”, profissionais
especializados em aproveitar as brechas legais para evitar o pagamento
de impostos. Também entra nessa conta o que é remetido ilegalmente para
os paraísos fiscais, uma prática tão tolerada quanto a atuação dos
“doleiros”, operadores do sistema financeiro conhecidos pela mídia que
enviam clandestinamente recursos para fora do país. Além disso, podem
entrar nessa lista os subsídios para setores da indústria e do
agronegócio. São as grandes corporações internacionais, como a indústria
automotiva, que não precisam, mas recebem subsídios, transferências do
dinheiro público em apoio à sua atuação. Há ainda o comércio
internacional intracorporativo, que faz sua contabilidade de maneira a
zerar os lucros e os impostos devidos. Entre os países que mais importam
produtos brasileiros, sejam eles quais forem, se destaca a Suíça! Mesmo
que os produtos nem sequer passem por lá, a escrituração fiscal da
grande maioria das empresas brasileiras exportadoras traz esse destino,
beneficiando-se dos baixos impostos lá cobrados.
Seria ingenuidade pensar que os expedientes para a sonegação fiscal
param por aqui, mas já temos informações suficientes para dizer que um
grande desafio é cobrar os impostos de quem deve. Com esse dinheiro
seria possível atender às demandas das ruas e, em pouco tempo, às
necessidades de todos. Especialistas da área tributária estimam que a
sonegação fiscal esteja em torno de 40%, ou até mais em alguns setores.
Não estamos falando de pouca coisa. A União tem a receber mais de R$ 1
trilhão lançados na dívida ativa, principalmente de grandes empresas;
outro R$ 1 trilhão é dinheiro de empresas e empresários brasileiros
depositado em paraísos fiscais.
No plano estadual, também temos recursos disponíveis, mas não cobrados.
Por certo a dívida ativa mereceria mais atenção. Mas outras medidas são
possíveis. A cobrança mais efetiva do IPVA na cidade de São Paulo – um
terço dos carros está com o IPVA atrasado – pode gerar uma receita da
ordem de R$ 7 bilhões. Dividido meio a meio com o governo do estado de
São Paulo, esse montante poderia ser destinado à melhoria dos
transportes coletivos metropolitanos.
Considerando uma escala menor, se a prefeitura de São Paulo, por
exemplo, recuperasse dos devedores 10% de sua dívida ativa por ano,
poderia oferecer, por dez anos, transporte público gratuito aos
usuários.
O que não pode continuar ocorrendo é o Estado acobertar os grandes
devedores. Numa tentativa de identificar quem são eles em São Paulo, nem
mesmo esforços feitos junto à Câmara Municipal foram frutíferos. Esse
silêncio compromete os governos e o interesse público.
Silvio Caccia Bava
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Sindicato dos Servidores Públicos do Judiciário Estadual na Baixada Santista, Litoral e Vale do Ribeira do Estado de São Paulo
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terça-feira, 17 de setembro de 2013
É muito dinheiro!
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