Os bonzinhos seguem fazendo sua parte para tornar o mundo pior. Numa canção inesquecível sobre a vida dos trabalhadores ingleses, John Lennon anotava: “assim que você nasce eles te fazem sentir-se pequeno…”
Por esse motivo, segue o raciocínio, iniciativas como cotas, pró-Uni e
outras, iriam prejudicar até psicologicamente aqueles alunos que
pretendem beneficiar, pois estes cidadãos se sentiriam diminuídos e
inferiorizados ao lado de colegas cujas famílias frequentam
universidades há várias gerações.
Vamos combinar que estamos diante de um recorde em matéria de
empulhação ideológica. É possível discutir as cotas a partir de
argumentos políticos, pedagógicos e assim por diante.
Mas o argumento do bonzinho é apenas arrogância fantasiada de caridade.
Num país onde a desigualdade atingiu o patamar da insania e da
patologia, este raciocínio se alimenta de um desvio essencial. Consiste
em considerar que um cidadão que não teve acesso a boas escolas desde o
berço e encara o lado desagradável da pirâmide social logo depois de
abrir os olhos é incapaz de raciocinar sobre sua condição e compreender
que enfrenta dificuldades pelas quais não tem a menor responsabilidade
como indivíduo mas como herdeiro de uma estrutura social desigual e
injusta.
É aquela noção de quem acredita que as pessoas que se encontram nos
degraus inferiores da pirâmide desconhecem a origem histórica material
de suas dificuldades e, intimamente, se consideram “inferiores” aos
demais. No fundo, se sentiriam culpadas por usufruir de um certo
“privilégio” que os ricos, bem nascidos e instruídos podem dispensar —
até porque o recebem por outros meios.
A vida real não é assim. Basta visitar escolas publicas e privadas
que aplicam esses programas para descobrir que a maioria dos estudantes
que se beneficiam de políticas compensatorias tem um desempenho igual ou
até superior a seus colegas. Alguns dão duro como os demais. Outros
batalham menos. Alguns fazem amigos. Outros encontram colegas que não
querem ser amigos. É a vida de verdade, como se aprende até em filme
sobre adolescentes americanos. A única pergunta relevante é saber se
dentro de dez ou vinte anos o país estará melhor com cidadãos menos
desiguais. Alguém tem alguma dúvida?
Mas os bonzinhos seguem fazendo sua parte para tornar o mundo pior.
Numa canção inesquecível sobre a vida dos trabalhadores ingleses, John
Lennon anotava: “assim que você nasce eles te fazem sentir-se pequeno…”
A mensagem dos bonzinhos é essa. Os filhos de pais pobres são tão
pequenos que se sentem menores mesmo quando chegam à universidade. O
melhor, então, é que sejam mantidos ao longe. Pode?
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