Canteiro
de obras da Camargo Corrêa na hidrelétrica de Jirau (Rio Madeira, RO).
Empresa cresceu à sombra da ditadura, tornou-se transnacional, e atua em
privatização de estradas e linhas de metrô.
Como Camargo Corrêa, OAS, Odebrecht e Andrade Gutierrez
ampararam-se no Estado para construir impérios que estendem-se das obras
públicas e telefonia à produção de sandálias havaianas
Por Adriano Belisário, na Pública
Apesar de mais conhecidas no Brasil por sua
atuação no setor de construção civil, as chamadas “quatro irmãs” –
Odebrecht, OAS, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez – hoje atuam em
diversas outras atividades. As empreiteiras respondem apenas por parte
dos lucros destes grupos econômicos que atuam em todos os continentes,
com foco nos mercados da África, América Latina e Ásia. Juntas, possuem
empreendimentos que vão do agronegócio à moda, passando pela
petroquímica, setor armamentício, telefonia e operação de concessões
diversas.
Os controladores, porém, permanecem os mesmos
e os maiores ganhos ficam com as famílias que comandam as empresas. “O
controle de base familiar é uma característica da formação do capital
monopolista dos grupos econômicos constituídos no Brasil. Embora isso
não impeça a abertura de capital, esta é feita de modo a preservar
sempre o controle acionário dos ativos mais rentáveis pelas famílias
controladoras. Isso confere à estrutura societária desses grupos um
formato piramidal, em que um controlador último controla toda uma cadeia
de empresas”, analisa o cientista político da Universidade Federal do
Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) João Roberto Lopes Pinto, que coordena
o Instituto Mais Democracia.
Além do controle familiar, outro traço comum é
o fato de serem grandes financiadoras de campanhas. Entre as eleições
de 2002 e 2012, juntas, as quatro empresas investiram mais de R$ 479
milhões em diversos comitês partidários e candidaturas pelo Brasil. No
Estado do Rio de Janeiro, o PMDB é de longe o partido mais beneficiado,
com R$ 6,27 milhões, mais que a soma dos quatro seguintes: PT, PSDB, PV e
DEM. Porém os repasses podem ser ainda maiores em anos não-eleitorais.
Em 2013, por exemplo, somente a Odebrecht repassou R$ 11 milhões dos R$
17 milhões arrecadados pelo PMDB. Veja mais no infográfico:
Além dos contratos para obras públicas, o governo federal também
incentiva o negócio dessas empresas através do BNDES. Por meio da Lei de
Acesso à Informação a reportagem apurou que, entre 2004 e 2013, o banco
realizou 1665 transferências para as construtoras das “quatro irmãs”,
totalizando mais de R$ 1,7 bilhão em empréstimos. Deste total, a
Odebrecht e Andrade Gutierrez foram as maiores beneficiadas, levando R$
1,1 bilhão. As duas também lideram o ranking de desembolsos para
operações de exportação entre 2009 e março de 2014. Juntas, levaram mais
de U$ 5,8 bilhões em empréstimos neste segmento. “É importante chamar a
atenção para o fato de que o BNDES também tem participações, através do
BNDESPar no capital de empresas controladas pelas referidas
empreiteiras, como a CPFL, controlada pela Camargo Correa; a Braskem,
controlada pela Odebrecht; e da Oi/Telemar, controlada pela Andrade
Gutierrez”, destaca João Roberto.
Conheça a história dessas quatro gigantes.
OAS
“Obras Arranjadas pelo Sogro”, “Obrigado Amigo Sogro”, “Organização
Apoiada pelo Sogro”… As paródias com a sigla da construtora OAS vão tão
longe quanto a imaginação permite. Em comum, a eterna gratidão da
empresa ao “sogro”, que pode ser descrito com outras três letras: ACM,
ou Antônio Carlos Magalhães, político símbolo do coronelismo na Bahia.
Já o referido genro atende pelo nome de Cesar Araújo Mata Pires, dono do
grupo empresarial, que debutou na lista de bilionários da Forbes em
2014 com aproximadamente R$ 3,6 bilhões em patrimônio pessoal.
Criada em 1976, a empresa levou apenas oito anos para ficar entre as
dez maiores do Brasil. Além do “A” de Cesar Araújo, a sigla da companhia
traz outros dois sobrenomes: “O” de Durval Olivieri e “S” de Carlos
Suarez. Em comum, os três tinham ainda experiência de trabalho na
construtora Odebrecht.
Assim, a OAS começou a atuar por meio de subcontratos com a
Odebrecht. Foi por meio dela também que Cesar Araújo conheceu o então
governador Antonio Carlos Magalhães. O futuro encontro dele com a filha
de ACM iria aquecer não só seus corações, mas também os negócios da
empresa.
Segundo o historiador Pedro Campos, da Universidade Federal
Fluminense, a OAS atuava apenas no nordeste até o final da década de 80,
em especial nos estados governados por aliados de ACM. “Arena [partido
político que apoiava o regime militar] era muito poderosa no Norte e
Nordeste. E Antonio Carlos tinha muitos aliados ali. A OAS chega ao
Sudeste apenas na década de 90”, diz. Ex-proprietário da TV Bahia,
retransmissora da Globo na região, e filiado ao PSD, Mata Pires de fato
deve muito ao sogro pela ascensão da OAS.
Hoje, no Rio de Janeiro, a empresa é responsável pela construção da
Transcarioca, parte do consórcio Porto Novo S/A e é uma das
controladoras do Metrô Rio, por intermédio da Invepar. Dentre os
projetos ligados à Copa e Olimpíadas, a OAS também participa dos
consórcios do Porto Maravilha (R$ 7,7 bilhões), Transolímpica (R$ 1,6
bilhão), Reabilitação Ambiental da Bacia de Jacarepaguá (R$ 673
milhões), do VLT (R$ 1,2 bilhão), além de ter feito as obras de controle
de enchentes na Praça da Bandeira, próximo ao Maracanã (R$ 292
milhões).
A OAS foi a empresa que mais financiou campanhas de Sergio Cabral
para o governo do Estado: foi repassado R$ 1,8 milhão diretamente para
suas duas candidaturas, em 2006 e 2010. Em 2008, a construtora também
investiu no principal candidato à prefeitura do Rio: foram R$ 350 mil
diretamente para a campanha de Eduardo Paes. Ainda que se leve em conta
os R$ 850 milhões repassados para o comitê financeiro do PMDB no Rio de
Janeiro entre 2006 e 2012, os financiamentos de campanha são uma
bagatela perto dos contratos bilionários firmados com a empresa durante a
gestão de ambos.
Apesar do êxito da empresa em todo o país, as condições de trabalho
para os operários da OAS estão longe de serem as melhores. Após
fiscalização em obras do aeroporto de Guarulhos, em São Paulo no ano
passado, o Ministério Público e Ministério do Trabalho encontraram nada
menos que 111 operários em condições análogas à escravidão. A OAS foi
obrigada a pagar multa de R$ 15 milhões.
A OAS foi a empreiteira entre as “quatro irmãs” que mais demorou para
se internacionalizar, expandindo seus negócios apenas em 2003.
Atualmente já realiza diversas operações internacionais, algumas delas
por meio da OAS Finance Limited, subsidiária nas Ilhas Virgens
Britânicas, e toca projetos em praticamente toda América do Sul e
Central, além de Moçambique, Angola, Guiné Equatorial, Gana e Guiné, na
África.
No Brasil, a OAS foi uma das investigadas pela Polícia Federal,
durante a Operação Caixa Preta, por irregularidades na licitação de
obras em 10 aeroportos. A Justiça Federal do Distrito Federal julga os
envolvidos por fraude nas licitações e formação de quadrilha. Quatro
obras ainda estão em fase de inquérito no Ministério Público: os
aeroportos de Uberlândia, Cuiabá, Corumbá e de Brasília.
O Império de Areia
Em 1926, seria difícil imaginar que as carroças de Sebastião Ferraz
de Camargo um dia fariam de sua futura viúva a mulher mais rica do
Brasil, com um patrimônio de US$ 13 bilhões. Aos 17 anos o jovem de Jaú
(SP) transportava areia para a construção de estradas no interior
paulista. Dez anos depois, fundou a Camargo Corrêa & Cia Ltda em
parceria com o advogado Sylvio Correa, que deixaria sua marca no nome da
empresa mesmo tendo saído dela em 1964. Em 1985, Sebastião Camargo já
comandava a maior empreiteira do Brasil e era doutor honoris causa na Escola Superior de Guerra – mesmo tendo o primário inconcluso.
De fato, não foram apenas os cavalos que levaram a carroça de
Sebastião ao topo da economia brasileira. Sua decisiva proximidade com a
cúpula de Brasília começou com a construção das vias de acesso à
própria capital, no Governo JK, mas foi estreitada com a ditadura
militar. “A Camargo Correa é a maior empreiteira do regime militar, a
mais vinculada com o projeto da ditadura”, afirma o historiador Pedro
Campos.
Na época, Sebastião tornou-se alvo de grupos guerrilheiros, como a
Ação da Libertadora Nacional (ALN) e a VPR, comandada por Carlos
Lamarca. Seu nome é mencionado em depoimentos e publicações da ALN como
alvo preferencial, ao lado de outros empresários, como Pery Igel (Grupo
Ultra/Ultragás) e Roberto Campos (Univest/Investbanco). “Existe uma
características comum entre os três supracitados cavalheiros: todos
financiam a repressão policial da ditadura, pagam os carrascos da OBAN
(Operação Bandeirantes) e dão prêmios de milhões de cruzeiros por cada
guerrilheiro assassinado”, publicou a ALN na quinta edição de seu jornal
“Venceremos”.
A proximidade com a ditadura também lhe rendeu diversas obras
públicas para alavancar seu negócio, mesmo fora do Brasil. A
participação de sua empresa na construção da hidrelétrica de Itaipu, por
exemplo, teria sido uma imposição ao governo de Ernesto Geisel feita por seu parceiro de pescaria, o ditador Alfredo Stroessner, que governou o Paraguai por 35 anos.
Avesso a entrevistas, Sebastião Camargo declarava abertamente sua
simpatia pelo regime autoritário, mesmo após a redemocratização. “Acho
que o grande progresso do Brasil foi no governo militar”, disse o
fundador da empreiteira em entrevista para a Folha de São Paulo, em
1990.
Enquanto se fortalecia na construção civil, Sebastião começou a
diversificar e internacionalizar seus negócios. Em 1978, a empresa
estreou no exterior na liderança de um consórcio internacional para
construir uma usina hidrelétrica na Venezuela. A estratégia funcionou.
Em 2012 pouco mais da metade da receita líquida de R$ 23,372 bilhões da
empresa veio do ramo de cimento (com a InterCement) ou engenharia; o
restante vem de áreas como concessões de transporte e energia (CCR, CPFL
Energia), indústria naval (Estaleiro Atlântico Sul), incorporação
imobiliária e vestuários e calçados (Alpargatas). Pertencem a este
último grupo, inclusive, as marcas mais conhecidas da empresa, como as
Havaianas, Topper, Rainha, Mizuno e Osklen.
O império da mais antiga das empreiteiras se viu fortemente abalado
em 2009 com a operação Castelo de Areia da Polícia Federal. A
investigação sobre crimes financeiros e lavagem de dinheiro da empresa
trouxe à tona denúncias de formação de cartel, fraudes a licitações e
pagamentos milionários a políticos de alto escalão, que beneficiariam
inclusive o atual vice-presidente Michel Temer. Envolvendo diversos
partidos, como o PMDB, PT, PSDB, PR, DEM, PCdoB, PSB e PP, a
investigação causou embaraços tanto ao governo Lula como à oposição.
A Camargo Corrêa foi denunciada pelo Ministério Público Federal por
formação de cartel nas obras do metrô de Salvador junto com a Andrade
Gutierrez, Odebrecht, OAS, Queiroz Galvão e outras empresas que também
estariam envolvidas no acordo. Para se defender, contratou os serviços
de advocacia do ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos por nada menos que R$ 15 milhões.
A batalha jurídica chegou ao Supremo Tribunal de Justiça, que suspendeu
a operação em 2011, alegando ilegalidade na coleta de provas.
Ainda hoje, porém, a Camargo Corrêa sente os efeitos da investigação.
Documentos ausentes do processo original da Castelo de Areia chegaram
ao Procurador-Geral da República no final do ano passado e podem reabrir
o caso, que envolveria também um esquema de pagamento de propinas na
concessão do Metrô Rio durante a gestão de Sérgio Cabral. Segundo reportagem da Revista Época,
a Polícia Federal teria descoberto tardiamente a relação entre parte
das provas apreendidas na operação e o pagamento de uma dívida de R$ 40
milhões do Estado do Rio com a Camargo Corrêa por intermédio da
Opportrans. Esta empresa do Grupo Opportunity teria quitado a dívida do
Estado em 12 parcelas em 2008, livrando-o assim de cinco ações judiciais
movida pela empreiteira. Por sua vez a Opportrans ganhou a renovação de
seu controle da concessão do Metrô Rio até 2038, porém a repassou um
ano depois para a OAS e os fundos de pensão do Banco do Brasil e da
Petrobras. A reportagem aponta que, para cada parcela recebida pela
Camargo Corrêa, 5% teria sido destinado a Wilson Carlos de Carvalho,
secretário de Governo e coordenador das campanhas de Cabral. Amigo de
longa data, marido de sua prima e ex-sócio do Governador, Carlos Emanuel
Miranda também teria recebido o mesmo quinhão, por meio de pagamentos
no exterior.
Em 2010, ao lado da OAS, a Camargo Corrêa foi a empresa que mais
investiu na campanha de Sérgio Cabral para o governo do Estado. Na
ocasião, a empresa doou R$ 2 milhões para o PMDB apenas no Rio de
Janeiro. Deste total, R$ 1 milhão foi para a campanha de Cabral. Antigo
aliado do PMDB, Lindbergh Farias (PT) recebeu o mesmo valor para sua
candidatura ao Senado. Hoje rival da chapa peemedebista – pré-candidato
ao governo do Rio – Lindbergh recebeu ainda R$ 250 mil diretamente do
empresário Julio Gerin de Almeida Camargo naquele ano.
Dentre as quatro irmãs, a Camargo é a empreiteira com menor
participação em projetos envolvendo Copa e Olimpíadas. Suas
participações se dão por intermédio da Invepar, empresa controlada por
ela junto com os três maiores fundos de pensão do país. A Invepar está
presente nas obras da Transolímpica e do VLT do Centro do Rio de
Janeiro, cujos orçamentos somados chegam a R$ 2,8 bilhões. Por meio da
Intercement, outra empresa do seu grupo econômico, a Camargo Corrêa
consta ainda entre os condenados pelo CADE no caso do “cartel do
cimento”, onde o órgão aplicou a maior da multa de sua histórica: R$ 3,1
bilhões.
De Minas para o mundo
Santo Estevão, Sant’Ana e São Miguel. Assim são chamadas as
administradoras que controlam a holding Andrade Gutierrez S.A, segundo
levantamento do projeto Proprietários do Brasil. Por trás da santa
trindade estão cerca de vinte membros da família Andrade e dois da
Gutierrez, que dividem entre si o controle das três empresas; à frente,
um dos maiores grupos econômicos do Brasil, com uma receita líquida de
quase 14 bilhões de reais em 2012, segundo seu último relatório
financeiro publicado.
Da pequena empresa iniciada em Minas Gerais na década de 40 pelos
irmãos Roberto e Gabriel Andrade, ao lado do amigo Flávio Gutierrez, até
a atual multinacional presente em 44 países (incluindo grandes
potências como Alemanha, Rússia, Índia e países com economia de menor
expressão como Gana, Ucrânia e Argélia), há um longo caminho marcado por
um faro apurado para oportunidades.
Irmão de Roberto e Gabriel, José Maurício de Andrade preferiu a
política do que a engenharia. Entre 1947 e 1969, ele foi eleito duas
vezes deputado estadual e três vezes deputado federal. Durante a gestão
de Juscelino Kubitschek no estado de Minas Gerais, José Maurício foi
líder do governo na Assembleia Legislativa, além de ter trabalhado na
candidatura do conterrâneo.
Não foi à toa que os negócios dos seus irmãos se expandiram na
esteira do crescimento de JK no cenário político nacional: as primeiras
obras rodoviárias da empresa se deram quando ele assumiu o governo; e a
estreia fora do Estado, com as obras da BR-3 que ligou o Rio de Janeiro a
Belo Horizonte, deu-se quando JK chegou à presidência.
Como outras empreiteiras, a Andrade Gutierrez encontrou sua mina de ouro nas obras públicas. Segundo reportagem da Revista Exame,
esses contratos correspondiam a 98% do faturamento da empresa em 1989,
durante o Governo Sarney. Na mesma época, percebendo a retração dos
investimentos públicos para o setor de infraestrutura que se desenhava
por conta da crise econômica do país na década de 1980, foi a vez de
outro Andrade, filho de Roberto, alinhar a empresa com os novos rumos da
economia. Naquela época, Sergio Andrade foi o grande mentor da
reestruturação da Andrade Gutierrez e sua expansão para além da
construção.
Mas se Sérgio Andrade arquitetou a entrada da Andrade Gutierrez no
ramo das teles, foi Otávio Marques quem realizou a engenharia da
operação. Em 1992, ele ingressou na empresa trazendo na bagagem sua
experiência na presidência da Telemig e da Telebrás, além de sua atuação
na Cemig. Seis anos depois, a Telebrás foi vendida na maior
privatização do Brasil por mais de R$ 22 bilhões.
Na ocasião, a Tele Norte Leste (posteriormente transformada em
Telemar/Oi) foi entregue a um consórcio composto pela Andrade Gutierrez e
outras empresas, como a La Fonte Participações, de Carlos Jereissati,
irmão do ex-presidente do PSDB, Tasso Jereissati. Segundo dados do
último relatório, o setor de telecomunicações foi responsável por 43,2%
da receita bruta em 2012: aproximadamente R$ 7,2 bilhões.
Logo depois, em 1998, a Andrade Gutierrez criou a CCR para atuar no
mercado de concessões para administração de rodovias no Brasil. Assim, a
empresa encerrou o século passado com o caminho pavimentado para
expandir no novo milênio.
O sucesso da estratégia de Sérgio Andrade e Otávio Azevedo é evidente
nos números da companhia. Em 2010, o setor de telecomunicações
respondia por 56,76% dea receita bruta de R$ 18 bilhões da empresa.
Àquela altura, Sérgio já havia passado o bastão da presidência do
grupo Andrade Gutierrez para Otávio Azevedo, que permanece no cargo até
hoje. Atualmente, a CCR possui participação em diversos consórcios no
setor de transporte não só no Brasil, como também no exterior. A lista
de empresas do grupo CCR é grande e cruza fronteiras: Ponte Rio-Niterói,
NovaDutra, ViaLagos, RodoNorte, AutoBAn, ViaOeste, RodoAnel, Renovias,
ViaQuatro, Actua, Engelog, Controlar, EngelogTec, Barcas, SAMM, STP,
Transolímpica, Aeroporto Internacional de Quito, Aeroporto Internacional
de San José e Aeroporto Internacional de Curaçao.
Atualmente, também fazem parte da cadeia de controle da Andrade
Gutierrez empresas como a Light, Sanepar e a Cemig. A mais nova aposta
do grupo é a Logimed, empresa especializada na gestão de suprimentos,
operação logística e sistemas de tecnologia da informação para
hospitais. A empresa presta serviços em São Paulo, para a Santa Casa de
São Paulo, Santa Casa de Marília e a Unimed, e em Minas Gerais, para o
Lifecenter Hospital.
Entre os dez maiores projetos relacionados à Copa e Olimpíadas no Rio
de Janeiro, a Andrade Gutierrez foi a segunda maior beneficiada. A
empresa garantiu seu quinhão nos orçamentos para a reforma do Maracanã
(R$ 1,2 bilhão), Transolímpica (R$ 1,6 bilhão), Parque Olímpico (R$ 2,1
bilhões), VLT do Centro do Rio (R$ 1,2 bilhão), Transcarioca (R$ 1,9
bilhão) e Reabilitação da Bacia de Jacarepaguá (R$ 673 milhões). Na
maior parte deles, a Andrade Gutierrez tem a Odebrecht como parceira no
negócio. São exceções apenas as duas últimas obras.
Segundomatéria da Folha de São Paulo,
a Andrade Gutierrez compartilhou documentações com a Odebrecht em uma
concorrência para obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento)
nas favelas do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro. Ambas empresas
também foram alvo de denúncia do Ministério Público por suspeita de
formação de cartel em São Paulo para a construção da Linha 5 do Metrô.
Dentre grandes, a gigante
A família Odebrecht tem muito a comemorar no aniversário deste ano de
70 anos de empresa. Maior beneficiada direta com os recursos investidos
em obras ligadas à Copa e Olimpíadas no Rio de Janeiro, ela é hoje a
líder no setor de construção civil no Brasil e uma multinacional de
peso.
Dos dez maiores projetos já licitados envolvendo a Copa e Olimpíada
no Rio de Janeiro, a Odebrecht participa de todos, com exceção de dois: a
Transcarioca e o projeto de despoluição das lagoas da Barra e
Jacarepaguá – neste, é suspeita de ter enviado uma proposta de cobertura para cumprir com uma divisão de obras com suas concorrentes, de acordo com uma denúncia da revista Época.
O orçamento total dos outros oito projetos com participação da Odebrecht em consórcios ultrapassa R$27 bilhões.
A empresa já foi investigada pelo Ministério da Justiça por
cartelização em obras em portos no Rio Grande do Sul e São Paulo e
denunciada pelo Ministério Público de São Paulo por participação em um
cartel para obras na linha 5 do metrô da capital paulista. O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE)
também apurou práticas de intimidação à concorrência por meio de
acordos de exclusividade com fornecedores, no processo que trata da
construção da Hidrelétrica de Santo Antônio e Jirau em 2010.
A história da empresa começa com a chegada de Emil Odebrecht ao
Brasil, em 1856. Em terras tropicais, o engenheiro alemão trabalhou na
construção de estradas no sul do país. Tempos depois, seu neto Emílio
Odebrecht fundou uma empresa neste ramo em Recife, em 1923. O negócio
faliu, mas inspirou o bisneto Norberto Odebrecht a fundar a Construtora
Norberto Odebrecht.
Hoje, a Odebrecht possui mais de R$ 142,3 bilhões em ativos, de acordo com seu último relatório financeiro.
Ao todo, são mais de 175 mil funcionários trabalhando em 25 países dos
cinco continentes, sendo 27% estrangeiros. A companhia atua em diversos
setores, como petróleo, agronegócio, meio ambiente, defesa, transporte,
finanças, entre outros. Apesar de reconhecida principalmente como
empreiteira, grande parte de sua receita não vem do ramo de construções
ou do mercado imobiliário, mas por meio do refino do petróleo brasileiro
– mantendo íntima e polêmica relação com a Petrobras.
No final do ano passado, por exemplo, veia à tona a suspeita de
superfaturamento em um contrato de US$ 825 milhões com a petrolífera:
ali constavam coisas como o valor R$ 7,2 milhões para aluguel de três
máquinas de fotocópias e R$ 22 mil como salário mensal de um pedreiro
nos Estados Unidos, segundo documentos obtidos pela Agência Estado.
O estreitamento de laços entre a Odebrecht e a Petrobras deve muito a
um Emílio, mas não aquele da família Odebrecht. Embora tenha realizado a
primeira obra para a Petrobras – um oleoduto na Bahia – no mesmo ano em
que a empresa nasceu, em 1953, – o que define como início de “uma importante parceria que perdura até hoje“ em
seu site, a empresa não era mais que uma empreiteira regional de
pequeno porte até o início da ditadura militar. A partir de então as
coisas mudaram – e rápido, em especial após o governo de Emílio Médici
(1969-1974).
Para o historiador Bernardo Galheiro, sua chegada ao poder
(1969-1974) estava ligada a uma conciliação entre os interesses de
empresários paulistas e baianos. “Na época, a Odebrecht era ligada com
outros setores da burguesia baiana, como o grupo Rocha Miranda, família
Calmon de Sá e a família Mariani. No governo Médici, eles passaram a
dividir o assento do aparato estatal com a burguesia de São Paulo. No de
Geisel, assumem o comando”, diz.
“Quando Geisel assume a presidência da Petrobras, ainda no Governo
Médici, ele passa a contratar sistematicamente a Odebrecht; quando
assume a presidência do país [1974-1979], a empresa dá um salto”,
confirma Pedro Campos, que pesquisou a ascensão das empreiteiras no
regime militar. Os números do período não deixam dúvida: em 1971, a
empresa era a 19ª maior construtora do país; dois anos depois alcançava o
terceiro lugar.
Não por acaso, o primeiro projeto da Odebrecht fora do Nordeste
ocorre naquele período, a construção da sede da Petrobras no Rio. Um
marco não apenas da expansão da empresa, mas da aproximação que seria
decisiva para a futura diversificação de seus negócios. Durante a década
de 1970, a Odebrecht assumiu obras importantes, como o Aeroporto
Internacional do Rio de Janeiro, o campus da Universidade da Guanabara
(atual UERJ) e a Usina Nuclear de Angra dos Reis, no Rio de Janeiro.
Com o fim do “milagre econômico”, veio a retração dos investimentos
públicos em obras. Então, já como uma das maiores empreiteiras do país, a
Odebrecht passa a comprar empresas no setor petroquímico. Segundo o
site da companhia, “a estratégia adotada pela Odebrecht para construir
uma petroquímica brasileira líder no setor na América Latina envolveu
uma série de outras aquisições. Muitas possibilitadas pelo Programa
Nacional de Desestatização, iniciado na década de 90, no qual o Governo
Federal vendeu participações em empresas da área”. Reunindo todas as
empresas do ramo incorporadas, em 2000 a Odebrecht cria a Braskem.
No Governo Lula, a Braskem consolidou o domínio do setor petroquímico
no Brasil, tendo a Petrobras e o BNDES como acionistas do negócio.
Concorrendo apenas com empresas estrangeiras, em um país com um dos
maiores impostos do mundo para importação de resinas termoplásticas, a
Braskem controla o preço de derivados de petróleo. No ano passado, em requerimento para
a redução das taxas de importação, o deputado Sandro Mabel (PMDB)
considerou a Braskem um “monopólio com mais de 80% do mercado de resinas
termoplasticas”, cujo poder de mercado cria “inflação nos produtos que
são consumidos pela classe mais necessitada”.
A Odebrecht vem recebendo seguidamente financiamentos bilionários do
BNDES: entre 2004 e 2013, a Fundação Odebrecht, a construtora e a
Odebrecht Óleo e Gás receberam juntas mais de R$ 498 milhões, segundo
levantamento feito pela reportagem com dados obtidos no site da empresa e
por Lei de Acesso à Informação. Mas a preferida do BNDES é a Braskem:
apenas entre 2008 e 2013, esta empresa do grupo recebeu mais de R$ 4,1
bilhões em empréstimos. A Odebrecht é ainda a maior beneficiada com
desembolsos do BNDES para operações de exportação. Entre 2009 e março de
2014, foram repassados mais de U$ 5 bilhões para a empresa.
Recentemente, a família entrou também no setor armamentício, com a
Odebrecht Defesa e Tecnologia, que “concebe, implanta, integra e
gerencia tecnologias e produtos de uso militar e civil”. Entre 2007 e
2010 o orçamento do Ministério da Defesa aumentou 45%. E a Odebrecht foi
uma das maiores beneficiadas pelos investimentos na Marinha. Junto com
a empresa francesa DCNS abocanhou um contrato de R$ 21 bilhões – sem licitação – para a construção do submarino nuclear brasileiro, a ser entregue em 2023, além quatro submarinos convencionais.
Mesmo após deixar a presidência, Lula continua fortalecendo a empresa
dentro e fora do país. Em viagem oficial o ex-presidente escalou um
executivo da Odebrecht para a comitiva que representaria o país na Guiné
Equatorial. De acordo com levantamento da Folha de São Paulo, feito em março de 2013,
a Odebrecht, OAS e Camargo Corrêa pagaram quase metade das viagens
internacionais de Lula, após deixar a presidência, até aquela data.
Segundo Emílio Odebrecht Jr, sua aproximação com Lula começou em
1992, quando Mário Covas apresentou um ao outro. Em 2008, o empresário
afirmou que o encontro gerou “uma relação extremamente gratificante” e
sentenciou: “O presidente Lula não tem nada de esquerda, nunca foi de esquerda”.
Três anos depois, na apresentação do projeto do Itaquerão – construído também pela empresa – o mesmo Emílio Odebrecht saudou a chegada de Lula exclamando: “Meu chefe!”.
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